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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

Marcas se confrontam com música em festival de rock

Crítica

Entre um show e outro, público travou briga com empresas que exibiam fachadas

Marcus Vinícius Beck

De Ribeirão Preto (SP)



Ir aos festivais de rock é muito perigoso.


Pare e pense comigo sobre o João Rock, que aconteceu no último sábado (15), em Ribeirão Preto (SP): em primeiro lugar, para assistir Alceu Valença ou Legião Urbana, precisávamos pagar quase um salário mínimo, entre ingresso e passagens (aéreas ou de ônibus), já que o evento ocorreu no interior de São Paulo e, portanto, a ida para lá não é como beber uma cerveja com amigos no bar após o trabalho.


Na sequência, após estarmos no local em que vai rolar o João Rock, precisamos nos desviar de uma série de empresas que nos atacam de todos os jeitos, por todos o lados, até o palco onde os shows vão acontecer. Se tem algo que percebi no festival é que ele oferece mais marcas do que atrações musicais - eu não tenho a pretensão de dizer que o line-up é fraco, pelo contrário: a programação foi diversificada e interessante.


Tênis Adidas nos pés, Coca-Cola e Fanta Guaraná nas mãos, cigarros Marlboro e Kent na boca, bem como Vivo, Samsung, Apple e Budweiser no ouvido e Jack Daniels nos copos que embriagavam o público. Este era a galera do João Rock. E algumas dessas marcas eram exibidas ao alto, despertando o desejo em nós de entrarmos em filas à toa. Totalmente perigoso.


É óbvio que as empresas patrocinaram e, assim, viabilizaram financeiramente o João Rock, mas é inegável que o público hoje em dia vai aos festivais de rock não para ouvir o som, e sim por uma questão comportamental. No percurso entre o Palco Principal e o Palco Brasil, perdi as contas de quantas vezes constatei a galera exibindo acessórios de marcas como se estivessem no shopping center.


Henrique Fogaça, Filipe Fernandes, Pedro Bello e Gui Ribeiro, salgados Doritos e breja Budweiser reforçavam a sensação de estarmos num shopping. Agora, um dos pontos que mais me chamaram a atenção foi o caixa. Nele, passávamos nossos cartões e a pulseira incorporava o valor por meio da tecnologia, deixando-nos pronto para sair gastando a torto e a direito.


Contudo, como estamos num festival de rock, a busca por uma atitude transgressora era normal, não é mesmo? Não. Tá maluco!? O máximo que rolou foi a galera dando um/dois para em seguida beber uma bud e laricar um Doritos. Realmente, o João Rock, assim como outros festivais de música espalhados pelo País, mais parece um shopping center do que um evento de rock.


*Repórter viajou a convite do festival

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