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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

O muro

Música

Ópera-rock ‘The Wall’, da banda Pink Floyd, completa 40 anos e ainda hoje é um dos melhores discos já produzidos pela indústria fonográfica

Capa da ópera-rock 'The Wall' - Foto: Reprodução



Tente imaginar a história do rock sem mencionar o nome da ópera-rock The Wall. Impossível, não é mesmo? Bem, isso era de se esperar. Afinal, trata-se de uma obra complexa, audaciosa e crítica. Algo nunca visto antes na história da música ocidental. Da primeira à última faixa, o baixista Roger Waters, o guitarrista David Gilmour, o tecladista Richard Wright e o baterista Nick Mason convidam o ouvinte a passear pelo muro que impede a consciência humana de refletir sobre determinadas questões da vida contemporânea.


Lançado no dia 30 de novembro de 1979, o disco ficou marcado como o auge das brigas internas entre os membros da banda inglesa e com Waters assumindo o controle criativo cada vez mais - tanto que o Wright foi demitido pelo baixista. Além disso, o produtor Bob Ezrin estava afundado nas drogas e era difícil lidar com seu temperamento imprevisível. Mas, mesmo com todos esses percalços, a ópera-rock é um dos pontos altos da cultura ocidental, com o preciso apontamento sobre as dificuldades de comunicação que atingem o ser humano.


Sem falar nas críticas ao modelo de ensino e a radicalização política, sempre tendendo para o autoritarismo: The Wall de fato é um disco fora de série. Para o baterista Moka Nascimento, um dos precursores do rock em Goiás, o álbum é disparadamente o melhor de tudo o que havia sido feito pelo grupo britânico até então - antes Waters e companhia flertavam mais com a lisergia, como é possível notar em The Dark Side Of The Moon, de 1973, Wish You Were Here, lançado dois anos depois, e Animals, de 1977.



“Foi um divisor de águas no trabalho musical do grupo britânico”, diz o músico. Ele destaca ainda o groove consistente, com solos arrebatadores, do guitarrista David Gilmour. “Para mim que executo as músicas de Pink Floyd desde os anos 70, considero-o como um disco ópera de maior relevância, superior a todos os outros. Pink Floyd sempre foi e será a maior banda de rock progressivo do planeta. The Wall é um trabalho de suma importância para a música e para os músicos, além de o ser para discófilos do planeta todo”, afirma Moka.


Colecionador de vinis e fã de rock, o jornalista Heitor Vilela avalia que a ópera-rock do Pink Floyd é um marco musical e político - algo que é explorado até hoje nos shows de Waters. “Se tornou um clássico impermeável e sólido da cultura contemporânea ocidental. Uma influência genérica e o principal marco político do Pink Floyd, algo que Watters até hoje faz em seus shows”, aponta, acrescentando: “uma ode antifascista que cria em cima do personagem de Pink a infância do compositor e baixista Roger Waters”.


40 anos depois


Para compreensão da ópera-rock The Wall é preciso contextualizar o final da Guerra Fria e a derrocada das ditaduras comunistas ao redor do mundo. Havia a sensação de que a economia daria as cartas do jogo e o planeta entraria numa época em que a democracia seria a vanguarda - embora vestígios de pensamentos autoritários e conservadores pudessem surgir em diversas regiões do planeta. E o disco do Pink Floyd não era exatamente contra essa tendência, uma vez que nascera no final da década de 1970.


Quatro décadas depois, o ouvinte ainda poderá sentir esses desafios ao se deparar com músicas como Young Lust, Another Brick In The Wall, Hey You, Comfortably Numb e The Trial. No entanto, Roger Waters - mentor intelectual da ópera-rock - equivoca-se ao realizar a defesa apaixonada de um regime como o de Nicolás Maduro - diariamente, pelo menos 500 refugiados cruzam a fronteira e entram no Brasil por Roraima. Mas a luta do baixista contra o pensamento autoritário ainda se faz necessária, e é louvável.


Parte 1 e 2 da ópera-rock - Foto: Reprodução


Ao contrário da importância que tem hoje, o disco contou com recepção mista pela crítica quando foi lançado. Ganhou, no entanto, 23x platina, e dele saiu o único hit com pegada pop da história do Pink Floyd, a música Another Brick In The Wall, Pt. 2. Foi também comercialmente bem-sucedido, vendendo 11,5 milhões de cópias desde seu lançamento, nos Estados Unidos. Em 2003, a revista especializada Rolling Stone listou The Wall na 87ª dos 500 melhores discos de todos os tempos.


The Wall seguiu a tendência dos três discos de estúdio anteriores da banda, e foi concebido como um álbum conceitual. A ideia nasceu em 1977, durante a turnê In The Flash, quando Waters ficou frustrado com o público. Ele, então, imaginou que havia uma barreira entre seus fãs e o Pink Floyd. Tanto que a ópera-rock é centrada no personagem Pink, um rockstar, que teve o pai morto na Segunda Guerra Mundial, e foi alvo de abuso por seus professores, teve uma mãe superprotetora, entre outras coisas. Daí a ideia da parede enquanto metáfora.


Saiba mais

‘The Wall - O Filme’

Com roteiro assinado por Roger Waters, o filme The Wall conta a história do rockstar Pink. Ator Bob Geldof, da banda punk The Boomtown Rats, estreia como o roqueiro Pink.

The Wall Live In Berlim

Após a queda do Muro de Berlim, Waters tocou na cidade da Alemanha a ópera-rock na íntegra, teve participação da banda Scorpions e do cantor Bryan Adams.


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