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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

Um golpe que nunca tem fim

Cinema

‘Democracia em Vertigem’ mostra momentos decisivos da história recente do País

Esplanada dos Ministérios durante votação do impeachment de Dilma - Foto: Reprodução/ Netflix


Democracia em Vertigem, documentário dirigido pela cineasta mineira Petra Costa e disponível na plataforma de streaming Netflix desde junho do ano passado, joga luz sobre a política brasileira de 2013 até a eleição do presidente Jair Bolsonaro.


Com imagens raras, o filme é um soco no estômago do espectador e o convida a refletir sobre momentos decisivos da história recente do País, como o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016; a prisão de Lula, seis meses antes do primeiro turno das eleições presidenciais; e a eleição de Bolsonaro, em outubro ano ano passado.


O longa-metragem conta com desencadeamento imagético emocionante, mas o aspecto que mais chama a atenção – do ponto de vista cinematográfico - é a sua qualidade: ele é bem montado, bem roteirizado e bem produzido, e possui notória importância em função do contexto histórico.


É fato que inúmeras obras foram produzidas sobre o processo de impeachment e a Operação Lava-Jato, porém nenhuma delas mergulhou tão a fundo nesses episódios que marcaram a Nova República. Não foi o caso de Petra: ela fez um filme que vai além da defesa dos governos Lula e Dilma - embora o faça em vários momentos - e chama a atenção para um possível regime de exceção.


O documentário é um libelo contra o desmoronamento de uma utopia cheia de liberdade e justiça, personificada na figura de Lula (o metalúrgico que virara presidente do Brasil) que chegou ao Poder após vários governos neoliberais que o derrotaram em três ocasiões. Petra costura os fatos a partir de seu olhar pessoal e experiência familiar, frustrando-se com a queda de um projeto político, em tese à esquerda, que ruiu no impeachment de uma ex-presidente mulher.


Talvez por isso Petra lamente que, ao invés de reformar eticamente o sistema político brasileiro, o Partido dos Trabalhadores (PT) tenha optado por apertar a mão de políticos com cadeira cativa no Congresso Nacional.


Trailer do documentário 'Democracia em Vertigem' - Imagens: Reprodução/ Netflix



Agora, o que mais surpreende: tal como o romance fantástico do escritor Franz Kafka O Processo, o documentário de Petra Costa possui um lado, sim, e não faz questão de escondê-lo. O filme conta com a visão pessoal da diretora: a narração é, inclusive, feita em primeira pessoa, com off, ora alternando críticas ácidas aos governos petistas e à ascensão da direita, ora defendendo o lulismo quase que ingenuamente - sim, esta é a dualidade do filme e ao meu ver seu problema.


Todavia, o que Petra Costa fez talvez seja um ensaio político e, com isso, a reflexão sobre o mito da imparcialidade vem à tona: por que exigir isso de uma cineasta? Não seria mais prudente cobrar tal postura de determinadas emissoras televisivas e figuras públicas?


Por conta do contexto histórico, o longa é, sem dúvida, um alento para que compreendamos os fatos que se desencadearam desde 2013. Foi neste momento, vale lembrar, que alguns passaram a pedir a volta da ditadura militar, a tecer palavras de baixo calão para se referir à presidente Dilma, ao ex-presidente Lula, como solução para resolver o problema da corrupção, enquanto outros defendiam cegamente o Partido dos Trabalhadores.


Democracia em Vertigem é um longa-metragem com cunho político, avesso à ascensão da direita e contrário ao flerte com o autoritarismo dirigido, filmado e roteirizado por uma mulher. Só isso basta. O cinema brasileiro está bem representado no Oscar.


Filme disponível na plataforma de streaming Netflix

Ficha Técnica

Democracia em Vertigem

Gênero: Documentário político

Direção: Petra Costa

Duração: 121 minutos

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