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A perigosa falácia em torno da austeridade

Atualizado: 25 de jun. de 2020

O que ler?

Crise econômica, ajuste fiscal, dívida pública, juros, bancos, corte de gastos e mercados financeiros são algumas das palavras que se popularizaram no nosso dia-a-dia, mas que a lógica liberal nos impele a entender de forma errada

Professor de política internacional na Brown University, Mark Blyth, lança livro no Brasil.


Lays Vieira


Chegou ao Brasil, em 2017, pela Autonomia Literária, a publicação traduzida do aclamado livro do cientista político, professor na Brown University, Mark Blyth. "Austeridade: a história de uma ideia perigosa" tem um título que fala por si só. Apesar de economistas liberais, a exemplo do ministro Paulo Guedes, bradar um receituário de absoluta liberdade aos mercados, Blyth desde o início tece as contradições desse discurso em um contexto de aplicação da austeridade, tendo em vista, por exemplo, que grandes corporações financeiras em falência foram salvas com dinheiro público, a exemplo do que ocorreu na crise financeira norte-americana em 2008. 


Blyth, definiu austeridade como uma forma de deflação voluntária em que a economia de um Estado busca se ajustar por meio de cortes de gastos públicos (no Brasil, o exemplo mais claro e caso mais extremo mundialmente aplicado de tais políticas foi a EC 95), para restabelecer a competitividade, que supostamente se conseguiria melhorar cortando o orçamento estatal, as dívidas e o déficits. Seus defensores alegam que isso traria a confiança do setor empresarial e, consequentemente, investimentos. 


Entretanto, a obra, de forma didática e clara, nos apresenta a constatação de que, por mais que a austeridade possa fazer sentido intuitivamente, em essência ela acaba sendo é um dogma ideológico, com pouca adesão a realidade, que serve a um projeto de classe e que é perigosa do ponto de vista social e econômico. Perigosa, segundo o autor, por três motivos: na prática não funciona; depende do fatos dos mais pobres pagarem pelos erros dos ricos; e repousa na ausência de uma grande "falácia de composição" (mina a ideia de que a austeridade promove crescimento). 


Ou seja, quase nunca ela beneficia de fato o Estado que aplica tais política. 


Na verdade, transformou-se a política da dívida em uma moralidade que desvia a culpa dos bancos rumo ao Estado, e neste a partilha do custeio não será de todos, mesmo com o discurso, que se tornou como no atual governo, de sacrifício. 


O livro trás uma boa análise e acessível ao público pouco familiarizado com termos e pormenores da esfera econômica. Além disso, o debate em torno do tema da austeridade é essencial para entender os últimos anos (e sua relação com a política brasileira), o presente momento e as consequências econômicas e políticas de como se vem lidando com a pandemia. 



Autor: Mark Blyth

Tradução: Freitas e Silva

Prefácio: Laura Carvalho

Contracapa: Luiz Gonzaga Belluzzo

Preço: R$ 50,00

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