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  • Foto do escritorRenato Dias

Abusado, O Pasquim desafiou a censura da ditadura de 1964

Memória

30 anos depois do fim do tabloide de Tarso de Castro, Paulo Francis, Millôr, Jaguar e Ziraldo


Legítimo filho das revoltas de 1968. O ano que não terminou. Como aponta Zuenir Ventura. A data de nascimento é ilustrativa: 26 de junho de 1969. 365 dias após a passeata dos 100 mil, no Rio de Janeiro. Com a participação de Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Nelson Rodrigues relata que na manifestação não havia um negro, pobre ou desdentado. Assim nasceu o semanário ‘O Pasquim’. Com um elenco de jornalistas de Série A. Da tropa de elite.


Abusado. Assim era o principal jornal da imprensa alternativa ou nanica. Um tabloide a favor do contra. Com Tarso de Castro, Paulo Francis, Millôr Fernandes, Jaguar, Ziraldo. Sob a ditadura civil e militar que, com um golpe de Estado, derrubou o nacional-estatista, em sua versão trabalhista, João Belchior Marques Goulart. Gaúcho de São Borja. Uma noite que durou 21 anos. Um veículo que ri de si mesmo. Um de seus bordões que destilava a mais fina ironia.


Não demorou tanto dias. Uma parte da redação parou atrás das grades. A ideia era desdenhar das convenções e topar correr riscos. É possível, sim, conceituá-lo como um tabloide especializado em humor corrosivo. Um sopro revigorante. Não custa lembrar, com linguagem e formas inventivas. ‘O Pasquim’, corajoso como um rato. Um contra – atributo estampado na capa. Do semanário, cuja tiragem atingiu a marca histórica de 250 mil exemplares. Inédito.


Henfil é o criador dos termos Putzgrila! eTop top top! Memória histórica. O nº 1 de ‘O Pasquim’ chegou às bancas no dia 26 de junho do ano de 1969, com 14 mil exemplares. Depois, às pressas, mais 14 mil. Ah! O primeiro entrevistado? Ibrahim Sued. Com um furo de reportagem. O general linha-dura do Exército, Emílio Garrastazu Médici, seria o próximo presidente. O ‘milico-mor’ assumiu o cargo em uma solenidade ocorrida no dia 31 de outubro de 1969.


“O Pasquim” sobrevive, com dificuldades, à censura e de caixa, exatos 22 anos. De 1969 a outubro de 1991. Nada mais nada menos do que 1072 edições. O tabloide insurreicional, incendiário, carbonário, enfrentou, sem se curvar, três generais-presidentes da República: Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel, João Baptista de Oliveira Figueiredo. Dois civis: José Ribamar Sarney, autor do livro ‘Marimbondos de Fogos’, e Fernando Collor de Mello, ex-PRN.


“O Pasquim”, número 22, de 20 de novembro de 1969, traz na capa Leila Diniz. Em 14 de janeiro de 1971, Jorge Amado foi o entrevistado. Edição de 6 de novembro de 1973, Ângela Gillian, antropóloga, dos EUA, personagem entrevistada. Racismo no Brasil é denunciado. O censor do jornal é demitido. Número 300 Censurado! Por ironia de Millôr Fernandes. ‘O Pasquim’, número 409, 29 de abril de 1977, entrevista o advogado, lenda do Brasil, Sobral Pinto.


Semanário nanico, edição 456, 24 de março de 1978: Lula _ Salário mínimo é isso aí! Exemplar especial de número 473, data de 21 de julho de 1978, o tema da pauta é a Anistia. Já em 2 de novembro de 1979 a manchete de capa é ‘Prestes para o Pasquim’. O jornal número 1.072 aborda o acelerado processo de abertura ao capital externo, a desnacionalização da economia, desmonte do Estado Nacional, herança de Getúlio Vargas e de João Belchior Marques Goulart.


- Usiminas, Petrobras, Vale do Rio Doce. Privatização é o cacete!



SAIBA MAIS

A Arte da Entrevista


Lançado em 1995, nessa compilação de entrevistas organizadas pelo jornalista Fábio Altman, o leitor pode acompanhar a íntegra da conversa de Madame Satã com um grupo esperto do jornalismo brasileiro que representava O Pasquim. Entrevistado por Sergio Cabral, Paulo Francis, Millôr Fernandes, Chico Júnior, Paulo Garcez, Jaguar e Fortuna, matou gradualmente a curiosidade de todos com sua sinceridade.


A Vida Extraordinária de Tarso de Castro


Boêmio. Provocador. Sedutor. Revolucionário. Para além disso, ele foi idealizador do "Pasquim", e tornou-se um dos maiores jornalistas do Brasil. Ao investigar sua vida, vem à tona a história de um país embriagado pela ditadura e pela censura, onde o sonho de democracia nascia de uma geração libertária.



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