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Audiovisual preservado

Cinema


Mostra de Cinema de Ouro Preto reúne filmes nacionais e internacionais. Evento relembra ainda a efeméride dos 70 anos da televisão no Brasil


Em Ouro Preto, Público assiste a sessão na edição passada do CineOP - Foto: Leo Lara/ Universo Produção


Marcus Vinícius Beck


O cinema preserva a memória da sociedade. E emociona, impulsiona e impressiona. Com programação gratuita por causa da pandemia de coronavírus, a Mostra de Cinema de Ouro Preto (uma das mais tradicionais do País) reúne em sua programação 102 filmes, de 15 estados (com participações de produções goianas) e dois países (Brasil e Argentina) divididos em 33 sessões. As exibições, antes realizadas presencialmente na histórica cidade mineira, agora vão acontecer no site da mostra, mas mantendo o propósito que tornou o evento pioneiro: a preocupação em torno da memória do audiovisual brasileiro, que está sob ataque desde as eleições de 2018.


Em sua 15ª edição, o público do CineOP poderá desfrutar de três mostras com as temáticas Histórica, Preservação e Educação acompanhadas de uma extensa e intensa grade de programação que inclui debates e análises, enriquecendo a experiência cinematográfica. Além dos já tradicionais filmes, o evento promove ainda o Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros, o Encontro da Educação: XII Fórum da Rede Kino, diálogos audiovisuais e rodas de conversas que terão a participação de 75 intelectuais e artistas em 24 debates. Também são ofertados, como é de praxe nos eventos organizados pela Universo Produção, oficinas, exposições e shows.


A abertura da mostra acontece nesta quinta-feira (3), às 20h, com os convidados Ailton Krenak (liderança indígena) e Tadeu Jungle (cineasta), que discutem questões em torno da temática “Cinema de Todas as Telas”. No centro da pauta do debate, estarão reflexões sobre a multiplicação dos streamings na era digital e os desafios laborais do cinema em conquistar um espaço cativo e efetivo na sociedade a partir de políticas públicas para a área. Ainda na primeira noite será exibido o média-metragem experimental “Avesso, Festa Baile” (1983), de Jungle, documentário que retrata o programa Festa Baile, da TV Cultura, responsável por lançar um olhar diferente à cultura popular brasileira.



Trecho do documentário 'Theodorico, o Imperador do Sertão', de Eduardo Coutinho - Foto: Youtube/ Reprodução



Com a efeméride das sete décadas da chegada da televisão ao Brasil, os curadores da Cine OP tiveram a sensibilidade de angariar discussões sobre como esse potente meio de comunicação transformou o audiovisual. E por isso que produções jornalísticas feitas num primeiro momento para consumo doméstico, como as grandes reportagens do “Globo Repórter” no final dos anos 70 e início dos 80, hoje ganharam o status de obras modernas e de vanguardas. É o caso dos documentários “Theodorico, o Imperador do Sertão”, (1978), de Eduardo Coutinho, e “Wilsinho Galiléia” (1978), filme dirigido pelo jornalista João Batista de Andrade. Ambas as produções estarão na mostra.


Das inventividades que saíram do cocuruto rebelde dos jornalistas que trabalhavam nos chamados canais abertos, “Os Araras” (1980-1981) foi pensado para ser um documentário para a TV Bandeirantes, mas o diretor do filme, Andrea Tonacci, brigou com os manda-chuvas da família Saad, e a iniciativa deu para trás. O mais emblemático da Mostra Histórica, porém, é “TV Cubo 1 e 2” (1986 e 1987), de Marcelo Masagão, autor do livro “Rádios Livres – A Reforma Agrária do Ar”: o filme é a gravação de uma transmissão de TV pirata, que foi ao ar na zona Oeste de São Paulo, provocando interferências em sinais de emissoras como a TV Cultura e o SBT. Um ano antes, Masagão participou da rádio anarquista Xilique.


Mostra Contemporânea


Nas sessões do Cine Vila Rica, da Mostra Contemporânea, a produção “Cadê Edson”, de Dacia Ibiapina, fala sobre um ataque promovido pela Polícia Militar a uma ocupação em Brasília. Mas o foco do filme vai além: a obra preocupa-se em retratar como a chamada grande mídia trata (e pauta) esse tipo de fenômeno social, fruto de uma desigualdade latente da sociedade brasileira. Já “Seres, Coisas, Lugares”, de Suzana Macedo, tem como ponto de partida a literatura do escritor Guimarães Rosa, sobretudo o conto “O Recado do Morro”. Em “Os Olhos na Mata e o Gosto na Água”, de Luciana Mazeto e Vinícius Lopes, a trama gira em torno de um passado não muito distante no sul do País.


Mesmo no ambiente virtual, as tradicionais exibições na Praça Tiradentes, em Ouro Preto (MG), vão continuar - para alegria do público. Os organizadores preocuparam-se em manter o xodó Cine-Praça e nele filmes como “Dorivando Saravá – O Preto Que Virou Mar”, de Henrique Dantas, que fala sobre a vida e obra de Dorival Caymmi; além de “Banquete Coutinho”, de Josafá Veloso, retrato de um encontro com o mestre do documentário, Eduardo Coutinho, vão ser transmitidos. Além deles, também serão projetados na praça (ainda que no virtualmente) “Helen”, com direção de André Meirelles Colazzo, que fala o cotidiano e os anseios juvenis.



Cena do curta 'Extratos", de Sinai Sganzerla, filha do criador do Cinema Marginal, Rogério - Foto: Divulgação/ CineOP



Ainda no Cine-Praça, o público será convidado a retornar a 1988, ano em que a Constituição Cidadã foi aprovada e assegurou direitos sociais e políticos. “As Constituintes de 88”, de Gregory Baltz, resgata imagens e imaginário daquele tempo da história do País para escancarar a luta das mulheres a se fazerem ser ouvidas e conseguissem aprovar emendas importantes para a igualdade de gênero no Brasil.  Já “Dona Cila, Não Me Espere Para o Jantar”, de Carlos Segundo, foi feito no contexto da pandemia de coronavírus e reflete, a partir da ficção científica, sobre as penúrias do isolamento social.


De volta ao Cine Vila Rica, a filha do cineasta Rogério Sganzerla, Sinai, utiliza-se em "Extratos" de fotografias e documentos para reconstituir memórias audiovisuais de filmes e figuras relevantes desse meio. Por fim, haverá oportunidade para curtir filmes de curta-metragem no Cine-Teatro, com abordagens de comunidades e culturas singulares representadas sob perspectivas diferentes, como “A Fome”, de Diego Benevides, obra que fala sobre as celebrações a São Lázaro; “Abdução”, dirigido por Marcelo Lin, que mostra a vida de um morador de uma comunidade em Belo Horizonte. Sem contar na Mostra Educação e Cine-Escola e Mostrinha. É muita coisa, ainda bem.


Serviço

15ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto

Quando: 3 a 7 de setembro de 2020

Horário: às 20h (abertura)

Onde: https://cineop.com.br/

Gratuito

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