Victor Hidalgo
Censura dos algoritmos favorece extrema-direita
Internet
Mudança nos algoritmos do Facebook, feita em 2017, diminuiu o alcance de notícias de esquerda

Mark Zuckerberg, CEO do Facebook - reprodução
Em reportagem publicada no dia 16 de outubro deste ano, pelo jornal inglês Wall Street Journal, as jornalistas Deepa Seetharaman e Emily Glazer denunciaram que Mark Zuckerberg está orientando que o Facebook favoreça conteúdos conservadores e de direita, ao mesmo tempo que desfavorece os progressistas e de esquerda.
Segundo elas, houve uma mudança no algoritmo da rede social em 2017 para diminuir o alcance de sites de notícias como o Mother Jones, que foi um dos que relataram que houve um declínio de sua audiência em 2019 causando um dano financeiro nos últimos 18 meses de 600,000 dólares. A CEO do jornal, Monika Baurlein, informou que por conta disso a organização não pode preencher cargos e seguir com alguns projetos.
“Um dos motivos pelos quais isso é tão irritante é que há tanto tempo insisto em dar ao Facebook o benefício da dúvida. Eu estava convencido de que éramos uma vítima aleatória de sua trajetória mais ampla, uma mosca em seu para-brisa. Mas é sempre, sempre pior”, afirmou Monika pelo Twitter.
O diretor de crescimento e estratégia do jornal, Ben Dreyfuss, disse que em várias reuniões com executivos do Facebook entre 2017 e 2018, eles o asseguraram que embora o tráfego possa diminuir, isso não iria favorecer ou desfavorecer qualquer publicação, o que não se concretizou.
Segundo a reportagem do WSJ, Zuckerberg chegou a dar uma palestra para executivos do Facebook sobre a necessidade da empresa compreender que “sua base de usuários é mais conservadora e defendeu as decisões de não remover postagens de Trump que alguns funcionários argumentam que violam as regras do Facebook”.
O site Mother Jones entrou em contato com um representante da plataforma que respondeu:
“Não fizemos alterações com a intenção de impactar editores individuais. Só fizemos atualizações depois que elas foram analisadas por diversas equipes diferentes em muitas disciplinas para garantir que a justificativa fosse clara e consistente e pudesse ser explicada a todos os editores”, afirmou um representante do Facebook ao Mother Jones.
A reportagem ainda afirmou que um dos motivos dessa mudança foi a pressão feita em cima da plataforma pelos responsáveis de publicações do setor extremista dos conservadores, como Ben Shapiro, que visitou a casa de Mark Zuckerberg, ou Tucker Carlson, fundador do site conhecido por difundir fake news, o Daily Caller. Segundo eles, a pressão deste círculo de apoiadores de Donald Trump teriam levado o Facebook a fazer essa mudança no algoritmo.
Domínio da extrema-direita na internet
A esquerda deixou o campo político de disputa na internet livre durante muito tempo, o que levou a proliferação de grupos de extrema-direita dominando o debate nessa área. Um dos casos que mobilizou pela primeira vez o reacionarismo na internet foi quando em 2014, uma desenvolvedora de jogos, Zoë Quinn, foi acusada de ter dormido com um jornalista para conseguir uma nota positiva em seu jogo, às acusações nunca foram provadas, mas o estrago já tinha sido feito. Nascia o Gamergate, uma ação em conjunta de assédio moral coordenada por extremistas na internet.
Foi o laboratório para Steve Bannon, assessor político estadunidense que serviu como assistente do presidente Donald Trump e estrategista-chefe da Casa Branca, organizar a extrema-direita na rede.
Porém, com a confirmação de que não existe isenção por parte da empresa no tipo de conteúdo que ela alavanca na plataforma, seja por visitações da página ou relevância, se comprova que o Facebook está influenciando o algoritmo para ocultar publicações de sites de esquerda, o que gera uma batalha desigual e um esforço quase que impossível para a esquerda mundial.