JM
Cerrado, Pantanal e Amazônia correm perigo
Queimadas
Nota divulgada pelo Ministério do Meio Ambiente na última sexta (28) bloqueava verbas para contenção de queimadas, biomas sofrem com grandes áreas prejudicadas pelo aumento dos focos de fogo criminoso

Amazônia tem crescente em queimadas. Fotos: Greenpeace
Júlia Aguiar
O inverno brasileiro tem suas particularidades, no centro-oeste a umidade do ar chega a menos de 10% nessa época do ano. Durante agosto, setembro e outubro é comum ver queimadas acontecerem no cerrado e no pantanal, entretanto, nos últimos 10 anos os focos de fogo aumentaram assustadoramente, sendo em sua maioria incêndios criminosos.
Em 2004, os dados do Mapa de Biomas do Brasil feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, apresentava 49,29% de Floresta Amazônica, 1,76% de Pantanal e 25% de Cerrado em território brasileiro.
O cerrado é considerado o bioma de savânica mais biodiversa do mundo. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a partir de 1970 o Cerrado se transformou em uma importante fronteira agrícola no país. “Essa transformação modificou os aspectos socioeconômicos regionais e impulsionou a produtividade agropecuária, tornando o Brasil um dos principais produtores mundiais de commodities agrícolas”, afirma a instituição.
Já, a Floresta Amazônica é a maior floresta tropical do mundo, abrangendo os estados do Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia, Pará e Roraima. Além de menores proporções nos países: Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. O Pantanal está no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e é considerado um dos biomas mais desmatados do país.
Desde julho deste ano, os três biomas sofrem com grandes queimadas. Segundo dados divulgados pelo Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), nos últimos três meses foram 20.867 focos de fogo no cerrado, 9.508 no Pantanal e 44.483 na Amazônia.
Cerrado

Queimada na Chapada dos Veadeiros, em 2017. Foto: Rogério Verçoza / TV Brasil
Na Chapada dos Veadeiros, importante área de preservação do Cerrado, em agosto foram mais de 15 km² de área queimada, segundo a estudante de geologia Aryanne Rodrigues, residente de Colinas do Sul, árvores essenciais para o equilíbrio do bioma, como pequi, mangaba, murici, sucupira, caju e buriti se perderam nos últimos quatro focos de incêndio na região. “A princípio foram 8 dias de combate no 1º incêndio, muito fogo, incinerando tudo de vegetação do lado leste de colinas”, afirma em entrevista ao JM.
Em Goiás, a PREVFOGO atua com 90 brigadistas entre Alto Paraíso, Teresina de Goiás, Cavalcante e outras duas brigadas em área kalungas, a brigada do engenho e Vão do Moleque. Além da brigada de Minaçu na terra indígena dos Avás-canoeiros. Segundo o chefe de brigadistas do PREVFOGO em Goiás, Raphael Brigato, as queimadas atingem muito essas regiões, principalmente os povos indígenas, calungas e assentamentos rurais.
Ainda não existem dados concretos sobre as proporções de destruição das queimadas nos últimos meses, em decorrência da quantidade de focos de incêndio. “O combate está sendo diário, são entre dois e três focos de incêndio por dia, e todos os fogos são criminosos. Qualquer fogo que acontece nesse período é criminoso, a maioria desses incêndios ocorre por limpeza de pastagem, na prática agropastoril, colocando fogo para renovar o pasto e o fogo acaba escapando para o cerrado”, afirma o chefe de brigadistas do PREVFOGO, Raphael Brigato, em entrevista ao JM.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustantável (SEMAD) é responsável pela aplicação de multas em fiscalizações contra as queimadas criminosas. Infelizmente a demanda por fiscalização é maior do que o número de analistas ambientais, “não dá pra multar todo mundo com a quantidade de analistas ambientais que temos”, afirma Raphael.
“Em 99% dos casos as queimadas são criminosas, os fazendeiros colocam fogo para limpar pasto e o fogo se alastra para outras áreas inclusive as protetivas”, afirma o jornalista e ex-assessor de comunicação da Secretaria de Meio Ambiente Recursos Hídricos do Estado do Tocantins, Álvaro Valim em entrevista ao Jornal Metamorfose. Segundo Álvaro, existem momentos em que queimadas não são ilegais, porém todos os anos no período natural de seca, a prática se torna ilegal. Fazendeiros e empresários do agronegócio são multados pela fiscalização, porém, somente em caso de flagrante.
O jornalista explica que existem medidas protetivas contra incêndios criminosos, como o manejo integrado dos fogos. “São queimadas controladas em determinadas áreas, para que em época de seca não peguem fogo. Isso diminui bastante o índice de queimadas nas unidades de conservação”, afirma Álvaro Valim.
O chefe de brigadistas do PREVFOGO de Goiás, acredita que 2020 será um ano de muitas queimadas, e que as brigadas fizeram um grande trabalho de prevenção esse ano. “Entre janeiro e maio fizemos a queima prescrita, que imita o fogo de raio. Essa prática não afeta a vegetação, ela acontece em período de chuva, e acaba sendo benéfica pro cerrado”, explica Raphael Brigato.
A brigada, que tem contrato temporário, também restaura áreas degradadas com plantio de sementes, coletando sementes de todas as espécies de gramíneas, árvores e outros tipos de sementes para a manutenção dos biomas no Brasil.
Ministério

Gráfico do Programa Queimadas do Inpe, dados de 2020.
O Ministério do Meio Ambiente (MMA), liderado por Ricardo Salles, divulgou no último dia 28 em nota, que mais de 60 milhões seriam bloqueados contra o combate de queimadas.
O bloqueio financeiro seria efetivado pela Secretaria de Orçamento Federal (SOF) no dia 31 de agosto, a verba era destinada a operações de combate às queimadas no Pantanal, Amazônia e Cerrado. O comunicado informava que seriam bloqueados R$ 20.972.195,00 em verbas do IBAMA e R$ 39.787.964,00 em verbas do ICMBio.
Logo após a nota oficial divulgada pelo MMA, o vice-presidente Hamilton Mourão, afirmou à Agência Brasil que “o governo está buscando recurso para poder pagar o auxílio emergencial, é o que estou chegando à conclusão, então está tirando recursos de todos os ministérios. Cada ministério oferece aquilo que pode oferecer, né? Então, o ministro teve uma precipitação aí e não vai ser isso que vai acontecer, não vai ser bloqueado os R$ 60,7 milhões, entre Ibama e ICMBio, que são exatamente do combate ao desmatamento e a queimada ligada a área do ministério”, disse Mourão, que também preside o Conselho da Amazônia.
Em poucas horas, a nota divulgada na sexta-feira foi atualizada afirmando que os bloqueios não aconteceriam, sem explicar se as atividades continuariam normais, dias depois a nota foi tirada do ar e nenhuma informação sobre o caso foi divulgada pelo MMA.
Procurado pela reportagem, o Ministério do Meio Ambiente se recusou a responder porque a nota saiu do ar sem explicação, e nem quais medidas seriam tomadas para conter as queimadas.
“O problema desse tipo de aval não é a falta de dinheiro, é a liberação pra galera queimar, porque diz que não haverá fiscalização. No centro-oeste já estamos há mais de 100 dias sem chuva, algo que é natural dessa época do ano, e aqui no Tocantins essa época o vento fica muito forte e a temperatura é muito alta, e a umidade do ar muito baixa. O problema é permitir um fogo que irá se alastrar e pode causar um impacto”, afirma o jornalista e ex-assessor de comunicação do Ministério do Meio Ambiente Recursos Hídricos do Estado do Tocantins, Álvaro Valim ao Jornal Metamorfose.