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  • Gabriella Campos

Afrescos da Alma, por Gabriella Campos

Afrescos da Alma

Desde cedo, quando ainda gaiata, encontrei na arte o triunfo que precisava para não me aluir no fracasso. Rascunhava os cadernos da escola, dando lugar a desenhos, pequenas caricaturas e rabiscos, abdicando assim dos valores de x.


Por volta dos 10 anos ganhei meus primeiros quadros, tintas e pincéis. Me recordo de quando sentei na mesa da cozinha e suspirei com certa intensidade, como quem fosse tragar todo o conhecimento e habilidade artística de Monet. Comecei a pincelar, dando origem aos meus primeiros afrescos pintados a óleo.


Produzi um abstrato colorido. Em outro, reproduzi o vaso de flores da minha mãe. Noutro, uma graciosa rosa vermelha. Por último, produzi meu grande clássico. A mais bela de minhas obras da época. Retratava ali a efígie do porco cor de rosa trajando um macacão azul. Era o Prático, um dos personagens de “Os três porquinhos”. Naquele dia, iniciara também meus primeiros fracassos artísticos.


Desde então, me delimitei de cometer outro flagelo à arte. Mesmo que a parentela, num gesto de afeto e solidariedade, esforçava para me assegurar de que eram bons. Era a mesma energia gasta ao me convencer da autenticidade de papai Noel.


Ser sociável é de longe a mais vasta de minhas características. Quando se é muito jovem, nos tornamos submissos ao medo e não aceitação. Durante esse processo da formação e autoconhecimento, diversas coisas me aconteceram. Como resultado, a consternação e exílio era o que me moldavam. Dado momento da vida, me vi definhar, não fisicamente.


Por volta dos 17 anos comecei a me reestabelecer. Durante este período fui presenteada com a fiel e sincera amizade de Sereia de Saturno. Esta foi elemento fundamental na redescoberta da vida. Cabelos louros na época, óculos bem característico, a pequena Júlia surgiu como a primavera cintilando o brilho das flores. Em nossos próximos encontros posso dissertar mais sobre ela. No entanto, ressalvo que deva se sentar e acomodar-se com uma bebida.


Ainda aos 17 me retomei na pintura e a partir daí não mais renunciei. Guiada pelo incentivo de Saturno, apanhei um quadro pequeno que favorecia a perspectiva rudimentar em que se encontrava meus antigos materiais artísticos. Me permiti sentir novamente o deleite e liberdade que a pintura concede. Um ano depois ingressei na faculdade. Atualmente curso o último ano de fisioterapia. Através de um processo seletivo, me tornei educadora social em um órgão da prefeitura local. Posso afirmar que isso me engrandeceu de forma descomunal.


Quando olho para trás, não muito distante deparo-me com as marcas lúgubres do passado. Estas não causam dor, ao contrário, este acaso aproxima-me do que é relativo à arte, trazendo certa conformidade perante a vida.


Nos vemos, todas as semanas, aqui no Jornal Metamorfose.

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