Marcus Vinícius Beck
‘Era Uma Vez em Hollywood’ gera expectativa, mas decepciona
Cinema/Crítica
Tarantino mostra devoção à sétima arte e retrata final da contracultura, na década de 1960

Foto: DiCaprio e Brad Pitt em cena do filme "Era Uma vez em Hollywood"/Reprodução
Dizem que o jornalista precisa redigir seus textos em terceira pessoa, com linguagem impessoal e devido distanciamento do objeto a ser relatado – no caso, a ser criticado. Daí, ao me deparar com essa regra primária dos manuais de redação, peço licença ao leitor, porque vou me atrever a falar do filme “Era Uma Vez em Hollywood”, do diretor norte-americano Quentin Tarantino.
O longa mais aguardado do ano pela crítica estreou na quinta-feira (15) em diversos cinemas da capital goianiense. Por azar do destino, assisti-o com atraso, no último domingo (25), mas o importante era ficar com aquela expectativa antes de a sessão começar. E, talvez, por conta dessa ansiedade toda, eu tenha chegado à seguinte conclusão: “Era Uma Vez em Hollywood” é uma decepção gigantesca.
Decepção, sobretudo, àqueles que ainda tenham grandes expectativas em relação ao diretor dos longas “Cães de Aluguel”, de 1992, e “Pulp Fiction”, lançado em 1994. É claro que Tarantino é uma das vozes mais autênticas do cinema hollywoodiano, porém há tempos ele vive à sombra daquilo que lhe colocou sobre o pedestal. Estética e cinematograficamente o filme é preso às glórias do passado.
Agora, sejamos justos: “Era Uma Vez em Hollywood”, ao contrário de seus outros longas, não é uma história sobre vingança, e tem vários pontos que chamam atenção do espectador. A trilha sonora, para citar um dos elementos que fazem diferença, dão uma cara sessentista ao longa e o imerge ao auge da contracultura, com músicas como “California Dream”, sucesso da banda americana The Mamas and Papas”.
Outros aspectos, no entanto, estão longe de serem supro-sumo da genialidade. Com notórios problemas ao contextualizar o final da década de 1960, retratando pejorativamente os hippies, o diretor acertou em cheio ao mostrar o sonho hollywoodiano, que nos ajuda a superar a realidade a partir dos filmes.
Cinéfilo de carteirinha, Tarantino idealiza uma trama ora verdadeira, ora fictícia sobre um astro decadente de séries e filmes lado B chamado Rick Dalton (Leonardo DiCaprio), que não aceita que sua carreira está em queda livre. Ele não conseguiu aproveitar os anos de glória. Algo semelhante rola com seu amigo, dublê e faz tudo, Cliff (Brad Pitt, aliás, é a melhor coisa do longa).
Dalton mora numa casa em Los Angeles, na Cielo Drive, para onde, no começo do longa, o diretor Roman Polanski e a atriz Sharon Tate se mudam. Na época, o casal era considerado o mais cool de Hollywood e, na noite do dia 8 de agosto de 1969, Tate foi brutalmente morta por integrantes da seita de Charles Manson.
O diretor traça um paralelo entre a derrocada de Dalton e a ascensão de Tate. Talvez esse seja o ponto mais interessante do filme, mas está longe de ser algo inédito na filmografia de Tarantino. Dessa forma, o roteiro não tem nada demais, e é em vários aspectos chato. “Era Uma Vez Hollywood” é decepcionante.
Serviço:
"Era Uma Vez em Hollywood"
Onde: Cinemas Lumière e Cinemark
Horários: 14h,17h15,20h30 e 18h30m 21h50, respectivamente
Ingresso: R$ 26,00