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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck e Júlia Aguiar

Cultura em protesto

Goiânia

Trabalhadores do setor se reuniram para protestar contra corte nas verbas destinadas de editais. Lei Aldir Blanc esteve em pauta


Manifestantes brandam pelas ruas da Praça Cívica "As leis de cultura morreram" - Foto: J.Lee


Os protestos convocados pelos trabalhadores da cultura ganharam força na capital goianiense após burocratização da lei Aldir Blanc, edital de emergência lançado pelo Governo Federal no ano passado para contemplar o meio artístico na pandemia do coronavírus. Denominado "Frente Ampla da Defesa da Cultura", o movimento em Goiás tem como objetivo cobrar – entre outras coisas – o calote nos recursos do Fundo de Arte e Cultura (FAC) do Estado referente aos anos de 2015 a 2018, que não foram pagos pela gestão anterior.


“A gente tem um edital de difícil compressão, muita letra miúda, extenso. Para a galera do rock, ou para qualquer setor da cultura, é difícil”, afirma o produtor cultural Leo Bigode, da Monstro Discos, em entrevista ao Jornal Metamorfose. O mapa goiano, prossegue ele referindo-se ao site, não funciona: “Para quem é do interior ou de comunidades carentes, que não tem acesso à internet e não têm condições de escrever projeto, é muito mais difícil. Vejo com preocupação o jeito que o estado de Goiás está trabalhando nesse edital da Aldir Blanc”.


Desde 2017, no final do mandato de Marconi Perillo (PSDB), a cultura convive com atrasos no repasse de recursos, de acordo com o FAC na ocasião, estava programado para ocorrer um pagamento relativo ao ano anterior no valor de R$ 5,7 milhões. Em 2018, durante a campanha eleitoral, o então candidato Ronaldo Caiado (DEM) criticou o calote do governo, porém – na prática – nada foi feito para resolver o impasse. E na pandemia, o que já era difícil, tornou-se ainda mais, com artistas em situação de miséria.


Poeta e editor da Goiânia Clandestina, selo editorial ligado à literatura independente goiana, Mazinho Souza acredita que os documentos e comprovações para a inscrição na Lei Aldir Blanc dificultam o processo de captação do recurso. “A quantidade de documentações e comprovações artísticas que solicitam gera uma exclusão da nova geração de artistas, que por estarem iniciando seus projetos e produções, não possuem um currículo extenso como solicitam os editais”, pontua o jovem escritor, um dos mais atuantes na cena local.


Mazinho aponta ainda que, quando existem editais de cunho emergencial, o nicho de artistas mais novos continua sem contemplação, impossibilitando a continuidade de seus trabalhos/ou projeções artísticas de maneira que contribuam com a cultura do município e do estado. “São obrigados, na maioria das vezes, a abandonar suas carreiras artísticas e buscar outros meios para sobreviverem”, explica Mazinho.


Assista a vídeo reportagem sobre o protesto da classe artística em Goiânia. Produção em parceria com A Casa de Vidro


Para os organizadores do protesto, a luta não é apenas pela "burocratização” da lei Aldir Blanc. “Estamos vivendo uma guerra declarada contra a cultura no Brasil. Querem apagar, queimar nossa memória, nossa diversidade, demonizar artistas, censurar projetos artísticos-culturais que não se enquadram dentro do perfil do governo autoritário de Bolsonaro”, declara a produtora cultural Patrícia Vieira.


Os editais do Fundo também são questionados pela Frente Ampla em Defesa da Cultura. Segundo o grupo, nestes anos, o FAC era vinculado e estipulado em lei e teria que ser aplicado na ordem de 0,5% da arrecadação líquida do Estado. “Vivemos um momento histórico sombrio. O exercício do poder no governo federal é autoritário, perverso, suprime direitos democráticos duramente conquistados pela sociedade e desrespeita a vida”, diz a atriz, diretora, dramaturga, teatro-educadora, criadora do Grupo Zabriskie e fundadora do Zabriskie Teatro, Ana Cristina Evangelista.


Segundo a atriz, o modelo de governo atual se utiliza de manobras para fabricar fatos e se manter no poder. “O ato da Frente Ampla Em Defesa da Cultura e das Artes de Goiás é fundamental, pois traz a outra voz, de quem se indigna e sente na carne, no dia a dia, o desmonte da Cultura, a supressão de direitos conquistados com muita luta ao longo de décadas que garantiam, parcialmente, um fôlego para a produção e o acesso democrático da sociedade à Arte e à Cultura”, afirma a artista.


Em evento na sexta, o governador Ronaldo Caiado disse que tinha “orgulho em iniciar a retomada da cultura”. Ele declarou, na ocasião, que resgatou “toda esta classe que sofreu duramente, a dos artistas que ficaram totalmente sem público e sem perspectiva de tê-lo”, disse. “Qualquer evento que o Governo de Goiás fizer sob minha gestão, as pessoas terão certeza absoluta que vão receber o dinheiro”, frisou. E arrematou: “não se governa com esperteza, mas com qualidade de gestão, transparência e eficiência”.


“É preciso que a gente entenda que investimento em cultura não é só o que está previsto em lei. Investimento em cultura é muito sério, e é um negócio que leva a marca a chancela do estado pro mundo”, afirma Leo Bigode.


“Enquanto o Distrito Federal abriu agora, recente, o edital de 38 ou 40 milhões (aproximadamente), um montante de recursos para a área deles, do DF, o estado de Goiás abriu um fundo de cultura de R$ 2 milhões. O que tá claro é que existe muito pouca vontade de dar atenção e entender que o setor cultural representa 4% do PIB”, arrematada.


Escute o episódio da Rádio Metamorfose sobre a situação precária da Aldir Blanc em Goiás, entrevista com o artista e produtor cultural Carlos Brandão



Confira a fotorreportagem da manifestação por J.Lee



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