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Não aceitaremos a censura

Editorial

As últimas declarações de Jair Bolsonaro contra a liberdade de imprensa, ameaçando jornalistas, é o indício de um tenebroso período de censura


Foto: Júlia Lee


A liberdade de imprensa e a democracia andam de mãos dadas. É impossível que o Estado Democrático de Direito vigore plenamente sem que os meios de comunicação sejam livres para veicular a pluralidade de pensamento que rege a sociedade na era digital. Nos últimos dias, o Jornal Metamorfose assistiu estarrecido as falas típicas de quem não compreende a liturgia do cargo que ocupa.

"Ele [Glenn Greenwald] não se encaixa na portaria. Até porque ele é casado com outro homem e tem meninos adotados no Brasil. Malandro, malandro, para evitar um problema desse, casa com outro malandro e adota criança no Brasil. Esse é o problema que nós temos. Ele não vai embora, pode ficar tranquilo. Talvez pegue uma cana aqui no Brasil, não vai pegar lá fora não", disse o Presidente Jair Bolsonaro no último sábado (3).

Bolsonaro se referia ao jornalista americano Glenn Greenwald, um dos autores das reportagens intituladas #VazaJato, que expõem casos de corrupção dentro do judiciário brasileiro. Desde o começo de seu mandato, o direitista ataca a imprensa com fake news, declarações estapafúrdias e ameaças a jornalistas e veículos de comunicação. O presidente tenta minar a opinião pública para que a credibilidade dos grandes veículos de comunicação seja transferida a sua conta pessoal no twitter, o que por si só já é uma ameaça a autonomia do jornalismo brasileiro.

Com as investigações feitas pela Polícia Federal na operação Spoofy, que prendeu quatro pessoas em Araraquara nas alegações de serem os "hackers" que teriam supostamente invadido os aparelhos celulares de autoridades da Lava Jato. A operação da PF tem como prioridade descobrir e prender as fontes anônimas que deram as mensagens do Telegram de procuradores da Lava Jato para o jornal The Intercept, fundado por Glenn.

De acordo com a Constituição Federal de 1988, conseguida após muito sangue derramado no período tenebroso de censura durante a Ditadura Militar (1964-1985), no artigo 5 referente à liberdade de imprensa, há o seguinte parágrafo:


XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.

Ou seja, a Constituição assegura o sigilo da fonte. A censura, que se instala em nossas entranhas dia após dia com mais intensidade, deve ser combatida por todos nós, jornalistas e defensores da liberdade de imprensa. Mas sindicatos, federações internacionais, organizações de luta não cumprem o papel que lhes é imputado, e a atividade jornalística cada vez mais vem sendo ameaçada por Bolsonaro e sua trupe.

A imprensa, nas suas várias mídias, é essencial para fiscalizar o Estado e seus governantes. Durante a Ditadura Militar (1964-1985), existia, sim, corrupção e nepotismo, mas isso não chegava ao conhecimento do público, da sociedade civil, porque a imprensa era censurada. Mais recentemente, no caso mensalão, os meios de comunicação tiveram papel fundamental para divulgação e denúncia dos casos de corrupção.

Claro, sabemos que a grande imprensa não é neutra. Ela pauta seus interesses, se alia com elites econômicas e políticas, etc. Mas, uma sociedade com uma imprensa censurada se torna uma sociedade completamente cega frente as articulações e manobras políticas que afetam nosso dia-a-dia e, principalmente, se torna uma sociedade sem democracia.

Quando um veículo, um jornalista, uma informação ou fonte são censurados, todos nós perdemos e, com isso, a democracia vai minando aos poucos. Portanto, o Jornal Metamorfose encabeça a defesa da liberdade de expressão e repudia qualquer ato ou postura que tenha como objetivo atingir esse pilar do Estado Democrático de Direito.

Ditadores sanguinários ao redor do mundo - e até mesmo no Brasil durante os anos de Ditadura Militar - perseguem e prendem jornalistas para que suas deploráveis fake news reverberem na sociedade. A postura do atual governo para com os jornalistas é mais uma demonstração de como ele vem trabalhando arduamente para desmontar a Constituição de 1988. Mas não vamos permitir que isso ocorra. Jornalismo é essencial.



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