top of page
  • Foto do escritorVictor Hidalgo

Dodgeball Academia: DNA da Nintendo misturado com shounen

Atualizado: 10 de set. de 2021

Cultura

BRPG inspirado em clássicos da animação entrega uma experiência leve e divertida


Capa de lançamento do jogo - divulgação


Chave de review disponibilizada pela empresa.


Desde o começo do jogo, Dodgeball Academia te conquista com o seu charme e o carisma de seus personagens. Parece que é uma obra que já está pronta para ganhar uma adaptação animada pelo Cartoon Network, o que não me surpreenderia já que é desenvolvido pelo mesmo estúdio responsável por Ninjin: Crash of Carrots, que ganhou uma animação pelo mesmo canal.


Em desenvolvimento desde 2016 pelo estúdio brasileiro Pocket Trap, lembro de ter visto ele pela primeira vez em um Brazil’s Independent Games Festival (BIG) e entraram no edital da SP Cine que deu o financiamento inicial para o projeto de Henrique Caprino (produtor executivo) e Ivan Freire (diretor de arte).


Desde já quero ajudar a espalhar o termo BRPG (Brazilian Role Playing Game), já que temos tantos expoentes gringos como os próprios JRPG (Japanese Role Playing Game) e CRPG (Classical Role Playing Game). Mas aqui estamos vendo o surgimento de sub-gênero nacional que merece ser celebrado e compartilhado. Outro jogo que consigo lembrar que se encaixaria nessa nova terminologia seria o Tropicalia, um RPG nacional com temáticas indígenas que se passa em um continente qual a colonização sanguinária e genocida pelos espanhóis e portugueses ainda não tinha acontecido. Claro, não são os primeiros jogos a fazerem isso, existe toda uma comunidade de desenvolvedores de jogos no Brasil que a pelo menos uns vinte anos fazem jogos do tipo pelo RPG Maker. Mas vamos olhar para o lado comercial da coisa aqui.

Luta de classes na escola - Dodgeball Academia


Você controla o jovem Otto, que tem toda a pinta de protagonista de shounen, que decide ir contra a vontade de seus pais e se matricula clandestinamente na Dodgeball Academia, uma escola de jogadores de queimada. A vibe de mangas como Naruto, Dragon Ball, Yu Yu Hakusho e até o mais recente Boku no Hero Academia são claros. Até mesmo em um dos personagens que é literalmente o Toguro, até mesmo usa frases como “eu vou usar apenas 30% de todo o meu poder”, e ele é a cara do Toguro. Até a irmã dele lembra o irmão dele no anime.


Na academia uma bola de queimada gira eternamente em um bloco de pedra no centro do pátio. Segundo o diretor, ela é a responsável por gerar energia para a escola e despertar os poderes ocultos das crianças para os jogos de queimada. Todo o universo do jogo é baseado em queimada.


Na primeira batalha você já tem uma noção de como vai ser o ritmo do jogo. Em uma transição de cenas e música que lembram as batalhas aleatórias de Pokémon, seu personagem é transportado para uma quadra para enfrentar o seu adversário em uma partida de queimada. As regras vão mudando conforme o jogo vai avançando, em certo ponto as bolas de queimada ganham elementos especiais que modificam completamente o jogo, indo de aplicar um status de fogo no adversário e fazendo ele perder vida ao longo da partida, ou uma bola de chiclete que cola ele em uma posição fixa para você realizar seus combos.



Tela de batalha, onde muitas boladas acontecem - Dodgeball Academia


Uma das mecânicas que achei interessante no jogo é saber quais comidas e bebidas são as favoritas dos seus personagens. Dependendo do que ele gostar, o efeito daquele item aumenta drasticamente. Otto, por exemplo, gosta de pizza com abacaxi. Uma fatia dessa iguaria pouco apreciada no Brasil recupera quase que a vida toda do personagem.


E apesar dele beber de muitas inspirações japoneses, o charme brasileiro está por toda parte. Seja nos itens de cura que vão desde brigadeiro a coxinhas, para os diálogos cheios de regionalismos deliciosos de saborear com os olhos. E ainda falando sobre eles, Dodgeball Academia tem um recurso tão simples e genial que eu me pergunto como outros jogos nunca tinham pensado nisso antes? Estou falando do modo de aprendizado.


E o que seria isso? Para quem cresceu com video jogos no Brasil, sabe como foi difícil tentar aproveitar uma mídia que raramente estava disponível em nossas linguás. Então, tivemos que nos adaptar e aprender na força o idioma imposto pelo jogo. Dito isso, Dodgeball Academia tem uma opção de aprendizado que traduz o que está na tela de um idioma para o outro, basta clicar na opção que ele sobe uma tela mostrando o que cada diálogo ou menu do jogo significam na outra língua da sua escolha. Testei essa função com inglês e espanhol, e penso nas possibilidades de aprendizado que uma ferramenta como essa poderia trazer em uma sala de aula.


Os visuais do jogo são charmosos. Enquanto os cenários são em um ambiente modelado em 3D para que os personagens possam caminhar em toda sua extensão sem se limitar a apenas um eixo da câmera, os NPCs e protagonistas são animações lindas em 2D cheias de personalidade e charme. Alguns dos meus personagens favoritos nesse estilo foram o Bóris, o personagem que é o Toguro do jogo, e o Choy, um gato azul que eu acredito ser inspirado em um dos personagens do Mundo de Gumball (já que é uma das inspirações dos criadores) que tem a habilidade de abrir baus trancados usando suas garras.


A história é muito divertida e encerra como o final de uma primeira temporada de um anime de esporte. Agora que venceram o torneio de queimada da escola, agora é hora de ir para algo mais desafiador: confrontar outras escolas de queimada.


O nível técnico do jogo também impressiona. Em todas as minhas 13 horas de jogo eu não encontrei um bug, pode ter sido sorte minha mas ele está no nível de um lançamento da Nintendo, em todos os aspectos técnicos, gameplay e de charme.


Recomendo Dodgeball Academia, uma experiência divertida e cativante que promete entregar horas de diversão e mostra a força dos desenvolvedores nacionais, que estão entregando cada vez mais jogos de ótima qualidade. O que te faz pensar, se houvesse mais investimento do estado no mercado de jogos, o que poderíamos ter por aqui? Infelizmente, se continuarmos do jeito que estamos, essa pode ser a última leva de jogos brasileiros durante muito tempo.





Dodgeball Academia está disponível para PC (Steam), Nintendo Switch, Playstation 4 e para a biblioteca de jogos do Game Pass, do Xbox.


Logo do Jornal Metamorfose
bottom of page