Lee Aguiar
Entre sopros
Doce Viagem

Da série “No circus de Passagem”, N°1, 19.03.2021 – Goiânia. Foto: J.Lee/Arquivo
01:02. Entre os minutos do acaso que não se repetem ao refletir-se em si mesmo. Entre os sopros de relance, quando percebemos sutilmente o susto irônico ao capturar a alma das pessoas. Entre as idas e vindas. Entre tudo aquilo que nos torna quem somos até se transformar em sabe se lá o que. É, meu caro leitor, me encontro entre passagens.
Pareço-me tão próxima de meus poros neurônicos que levam os sentidos para dentro da caixa de pandora mental. Eu me sinto descobrindo um mundo inteiro.
Sabe aqueles momentos em que as águas – antes turvas – caminham pela improvável queda ao infinito dos mares? Aquele trechinho maldito entre terras nunca antes navegadas, abrindo para a imensidão ainda com resquícios do que as formas já estavam acostumadas. Foi-se as texturas de outrora. Foi-se à imensidão do acaso.
Me reconheço intensamente em cada reflexo temporário, ainda fico a observar os cacos múltiplos que vez ou outra se reconfiguram.
É curioso como de alguma forma todos os cacos se rejuntam em algo que ainda não sei no que se tornará. Quiçá eu esteja nascendo. Uma de mim misturada em outrora, com cores e almas em fragmentos que se unem em um só.
Mas não se assuste, caro leitor, ainda não me acostumei com as intensas transmutações advindas de todas as subjetividades do agora – constante. Estou em constante transformação daquilo que eu acredito ser. Penso muito sobre como esses processos me jogam em vento com tudo aquilo que me compõe.
Não sei para onde o fluxo me leva, não exatamente, as cores e sabores dos pedregulhos do caminho, entretanto reconheço a luz que me guia no abismo dos dias. Em momentos tenebrosos, como o que os brasileiros estão perpassando, vislumbrar o poder da chama interna me mantém na sanidade da esperança do algo mais.
Poderia discorrer eternamente sobre as possibilidades infinitas dos arquétipos que me rodeiam, mas o tardar do dia me chama para a escuridão do novo.