JM
Fala, Casão!
Atualizado: 5 de ago. de 2020
Botequim Literário

Ilustração: Carlos Latuff
Marcus Vinícius Beck
Primeiro foram os babaquaras do capitão. Depois, com a quixotesca visita de Marcelinho Carioca ao inquilino do Palácio do Planalto, entrou em cena, quer dizer, risos, na inquisição da tecla do computador, os membros do fã-clube virtual do molambo que se faz presidente.
Três roladas mais tarde no mouse pelo Tribunal do Facebook, meu caro Tom Zé, eis que descubro o motivo da parafernália encampada pelos sicários digitais: Casagrande. Sim, Casão – como o artilheiro é chamado carinhosamente pelos fãs – é a bola estourada da vez dos pernas de pau da civilidade que insistem em escamotear a reputação do outrem a todo custo.
Quem me dera se fosse notícia velha, essa desgraçada visita do meio-campo ao delirante desalentado do coturno. Mas, venhamos e convenhamos, trata-se de um analfabeto político, o tal camisa 7, ao ponto de, vejam vocês, sair-se candidato a deputado federal por PT e PRTB – só pra citar dois deles, o resto, confesso, nem dei-me ao trabalho de pesquisar.
Felizmente, todavida, Marcelinho não se elegeu em nenhum dos pleitos, amém!
Sorry, eu entendo, o momento não carece de piadas ou deboche sobre o batedor de falta em questão – apesar de, por que não?,o escárnio ser uma arma interessante contra os varejistas da política neofascista. O Corinthians é coisa séria demais.
Ok, se vocês acham que eu estou exagerando, deem uma olhada no nível do que disse o nosso indefectível mestre da bola parada: “Você vê? Isso que é lindo! (Bolsonaro) é palmeirense, mas quer que todos os clubes tenham a liberdade de poder fazer os seus jogos, poder trazer os craques de volta para o nosso país e abrilhantar o nosso futebol! Presidente, que honra o senhor me receber aqui no Palácio”.
Como maloqueiro sofredor Graças a Deus que sou, não careço de efeméride para refrescar a caixa de memória freudiana e lembrar-me qual é a relevância do Coringão. Mesmo tingida em preto e branco, os momentos especiais da massa corintiana – a partir dos quais tomei gosto pela arte deliciosamente excitante da transgressão – estão vivos comigo.
O Corinthians não é teu, fascista, o Corinthians é dos intermitentes explorado pelo app; o Corinthians não é teu, fascista, o Corinthians é daqueles que estenderam a faixa na arquibancada do Morumbi pedindo pela volta dos exilados políticos em 1979; o Corinthians não é teu, fascista, o Corinthians é de Sócrates, Casagrande, Wladimir, Adilson Monteiro; o Corinthians não é teu, fascista, o Corinthians é da democracia.
Isto posto, acredito, faz-se louvável reverenciar a verve libertária de Casão. Casão – basta ler “Casagrande e Seus Demônios”, “Sócrates e Casagrande: Uma História de Amor” e “Travessia” pra atestar o que eu falo aqui – é ídolo por que sabe que o Timão é fundamental para o Brasil, mais do que o Brasil é para o Timão. Casão é ídolo por sabe que o Timão é mais satreano do que a mais densa filosofia satreana. Casão é ídolo por entender que o Timão é mais dostoievskiano do que “Crime e Castigo”.
Casão, por essas e por outras, tem o carinho da massa alvinegra. Marcelinho... bem... Marcelinho... é, meu caro Juca Kfouri, tão verdadeiro quanto uma nota de 3. Nenhum jogador pode utilizar o Coringão para puxar saco de um sujeito que tem mais de 90 mil mortes nas costas, nenhum.
Fala, Casão!