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  • Foto do escritorVictor Hidalgo

Festa estranha com gente esquisita

Protesto

Atos do dia 12 de setembro foram esvaziados e mostraram a realidade da direita

Victor Hidalgo dialoga com manifestantes na Av. Paulista. Foto: Larissa Rodrigues


No dia 12 de setembro uma galerinha do barulho resolveu aprontar altas confusões na Avenida Paulista, em São Paulo. Um grupo fascista que ajudou no golpe contra a então presidenta Dilma Rousseff (PT), achou que teria força para juntar atos nas ruas contra o presidente que ajudaram a eleger, Jair Messias Bolsonaro (sem partido) e acabaram dando de cara com a dura realidade: sua base está do lado dele.


O Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua estavam há dois meses organizando essas manifestações com a pauta: “Nem Lula, Nem Bolsonaro”, tentando aglutinar força nas redes dos campos de direita, centro-esquerda e esquerda liberal. Porém, o tiro acabou saindo pela culatra e só serviu para mostrar o quão esses grupos estão dependentes de uma conjuntura política que já caiu por terra.


A mídia não apoiou massivamente o movimento como fez em outrora, o lavajatismo está desmoralizado. os empresários e a elite do atraso brasileiro estão do lado de Bolsonaro. Não existe narrativa ou pauta que unifique essa nova direita - que possui políticos eleitos em todo o país por conta do apoio do presidente - que faça com que eles desejem a queda do Messias. Muito pelo contrário, apesar de alguns líderes políticos terem um discurso contra ele, o PSDB não assinou até hoje um pedido de impeachment.


E se nem Ciro Gomes (PDT) e João Dória (PSDB) conseguem mobilizar mais de cinco mil pessoas na Avenida Paulista em um ato que não era amistoso com a esquerda, o que esperar da messiânica terceira via?


Acompanhar de perto o que aconteceu nesse domingo do dia 12 só mostrou o quão fraco e patético foi essa tentativa. Junto com a fotojornalista Larissa Rodrigues, cobrimos toda essa experiência.


Ao sair da estação de metrô da Consolação, a concentração de pessoas na Paulista se misturava entre os transeuntes de sempre, que aproveitam os finais de semana para caminhar na Avenida que é fechada, com os ditos manifestantes.


Em comparação com o dia 7 de setembro, tínhamos espaço mais que o suficiente para nos locomover e respeitar o distanciamento social, parece que foi algo que o MBL pensou ao chamar o povo para rua.


Uma certa sensação de déjà vu tomou conta de nós. Muitas das pautas e bandeiras que vimos nos atos antidemocráticos se misturavam ali naquele pequeno amontoado de pessoas. Bandeiras monarquistas, Brasil, entre outras. Em certo momento passamos por um carro de som que estava tocando Legião Urbana, me senti entrando em uma espiral.


Paramos para ouvir o que estava sendo dito por um dos carros de som que ali estavam, era do MBL e gritava algumas palavras de ordem já conhecidas: “corrupção, mudança, traição” tudo parecia um stand-up horrível. Poucas pessoas se dispunham a ficar ouvindo o que ali estava sendo dito, algumas delas segurando cartazes dizendo “Volta, Temer!”.


Outro símbolo que se repetiu em ambas as manifestações que pude observar de perto foi a bandeira de Gadstein, presente entre supremacistas brancos, ancaps e ditos libertários (não confundir com os anarquistas).


Bandeira neofascista é usada no ato fora bolsonaro da extrema-direita. Foto: Victor Hidalgo


Para quem não conhece, essa bandeira possui um fundo amarelo com uma cascavel em posição de dar bote com a frase “DONT TREAD ON ME” algo como “NÃO PISE EM MIM”.


Para vocês terem uma ideia, a seita trumpista QAnon, propagadora de teorias da conspiração e que se dizem combater uma seita de pedófilos adoradores de Satanás que controlam o mundo (uma versão da teoria de conspiração que os Judeus controlam o planeta), fizeram uma versão da bandeira com a cobra enrolada formando a letra “q”.


A bandeira, criada durante a Guerra da Independência americana pelo general Chritopher Gadsden em 1775, foi usada pela Marinha Continental de George Washington. A cobra representava as Treze Colônias, e a origem da cascavel como símbolo remete a uma ilustração que foi atribuída a Benjamin Franklin, publicado no Pennsylvania Gazette em 1754.


Porém, assim como outros símbolos como é de praxe da extrema-direita, a bandeira acabou sendo adotada pelo movimento ultraconservador Tea Party, criado em fevereiro de 2009 e com Keri Carender sendo considerada a progenitora dos atos que levaram mais de 100 mil pessoas às ruas na época, são contra o “Estado de Bem Estar Social”, defendem um governo reduzido, mercado livre com o mínimo de regulamentações e legislações, assim como maior acesso ao porte de armas.


Um dos momentos recentes da história que acabou marcando essa bandeira como um símbolo da extrema-direita estadunidense foram as manifestações racistas de Charlottesville em 2017, ao lado da bandeira dos confederados. A cidade foi palco do maior ato recente de supremacistas brancos nos Estados Unidos, deixando três mortos.


E como não podia faltar, Eduardo Bolsonaro já foi fotografado com uma bandeira dessas ao fundo enquanto empunhava armas.


Conversando com quem brandia alegremente aquela bandeira, me falaram sobre como eram jovens criadores da União da Juventude Livre, mas que não se consideravam ancaps. A maioria era composta de jovens entre dezenove e vinte anos que estão começando na política, alguns ali há apenas dois meses na “militância”.


Bom, não é surpresa esse tipo de ato ter sido um fracasso. Quem iria querer se associar com bandeiras como as do MBL, Vem Pra Rua, PSL e de ancaps? Bolsonaristas contra Bolsonaro.


Dito isso, talvez os manifestantes mais expressivos desse ato tenham sido os do PDT, que estavam distribuindo rosas (de plástico) para quem estava por lá. E mesmo assim, em uma manifestação puxada por campos opositores do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Lula conseguiu ficar em segundo na pesquisa de intenção de votos. Uma última pá de terra no túmulo da terceira via.


A dura realidade caiu sobre os cinco possíveis candidatos a presidente que ali estavam: nenhum deles tem força para chamar o povo para rua. O poder de mobilização política deles está minado com uma figura forte como Lula de volta ao jogo, um candidato de centro conciliador de classes que deveria ser o sonho dos liberais e empresários, mas que o ódio de classe deixa evidente quais as prioridades que eles decidiram investir.


E Bolsonaro? Fascistas contra o fascismo não vão tirar ele do poder e o condenar pelos seus crimes. Aqueles que estavam nas ruas no dia 12 de setembro votam, em sua maioria, com a agenda política do genocida. Bravata, que além de tudo tem se mostrado fraca, é apenas isso: bravata. A esquerda está desde antes desse governo enchendo as ruas contra o que viria, e já chamou novos atos para o dia 2 de outubro, agora resta esperar e ver.

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