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Fica pode não acontecer por falta de verba
Festival
Governador de Goiás afirma que débito de R$ 1,7 milhão deixado pela última gestão coloca evento em dúvida

Foto da cidade de Goiás, por Júlia Lee, no FICA de 2018
O Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fica) completará 21 anos se sair do papel neste ano, mas sua existência é uma incógnita. Considerado um dos festivais de cinema ambiental mais importantes do mundo, o Fica acontece anualmente na histórica cidade de Goiás entre o fim de junho e começo de julho, e movimenta boa parte da economia da cidade que praticamente vive do turismo.
Criado em 1999, o FICA foi idealizado por Luiz Felipe Gabriel, Jaime Sautchuk, Adnair França e Luís Gonzaga com o objetivo de valorizar a cultura em Goiás. Desde sua criação, representa um marco para o audiovisual goiano, já que além das premiações, ele passou a ser um encontro anual que reunia pessoas do mundo inteiro em prol do meio ambiente, com inúmeras discussões e debates.
Esses pontos, no entanto, ficam em segundo plano quando o assunto é a permanência do evento, legado da gestão de Marconi Perillo (PSDB). Nos bastidores, o governador Ronaldo Caiado (DEM), desafeto do antigo mandatário, diz que não tem grana para custear as despesas do evento. Ainda é preciso pagar, segundo o democrata, artistas, hotelaria e outros profissionais que não recebem no último Fica.
O Jornal Metamorfose ouviu de pessoas próximas a Caiado que ele não teria a menor vontade de realizar o evento. Ao encontrar com o chefe do Executivo goiano, a reportagem o indagou sobre esse impasse que gera incerteza nos cineastas, ambientalistas e jornalistas que se acostumaram a participar do festival: “Arcar com todo o débito anterior é impossível neste momento”, afirma o governador.
A classe artística, todavia, fica temerosa quando o assunto é o Fica. Em vídeo que circula nas redes sociais nos últimos dias, jornalistas e cineastas reconhecem que a ameaça que ronda a existência do evento é grave e lembram que ele teve papel crucial ao colocar a antiga capital do Estado no rol dos principais centros culturais do País.

Famoso por trabalhos na TV Globo, o cineasta Hélio Dela Peña afirma que o festival cumpre função importante “para o Estado de Goiás, bem como para nós, artistas, cineastas, roteiristas” e que a possível não realização dele seria uma duro golpe no audiovisual brasileiro. No vídeo, Peña declara que a edição deste ano – caso aconteça - será a 21º. “Mas ela está seriamente ameaçada por falta de verbas”, finaliza.
Já o jornalista Washington Novaes, famoso no meio ambientalista brasileiro e dono de carreira consolidada no jornalismo, é enfático: o Fica, quer queria, quer não queria, está com o nome grifado no circuito do cinema nacional, e a dúvida em torna de sua continuidade tem efeito direito, entre outras coisas, na economia da cidade de Goiás.
Foto da igreja na cidade de goiás, por Maria Luiza Graner, em 2018
Além disso, acredita Novaes, o festival foi decisivo ao ampliar e reconhecer a cultura local. “O Festival de Cinema de Goiás foi importante para a cultura goiana, expandindo esse caminho de festivais de cinema para todo o Brasil, e também deu um impulso muito forte na cultura de Goiás”, arremata o jornalista, também no vídeo.
Problema antigo
Em setembro, curadores, realizadores e artistas que participaram da 20 º edição do Fica reclamaram ao Metamorfose que o Estado não teria pago os valores referentes às apresentações que fizeram no festival. O prazo estabelecido pelo Fundo de Arte e Cultura (FAC) para o recebimento de verba é de até 60 dias após o término do evento, porém esse acordo teria sido descomprindo pela gestão tucana.
Dados do Portal da Transparência mostram que a Secretaria Estadual de Educação, Cultura e Esporte (Seduce), atualmente Secretaria de Cultura (Secult), chegou a fazer o pagamento dentro do prazo. O repasse foi publicado no Diário Oficial da União, mas os artistas insistem em dizer que o dinheiro não chegou a eles.
Na ocasião, o jornal mostrou que Caiado, caso assumisse o governo de Goiás em janeiro deste ano, teria de lidar com um sistema chamado dívidas a pagar. Passados seis meses, de acordo com o governador, ainda não foi possível quitar o saldo devedor herdado da gestão de José Eliton. Essa postura, contudo, não aumenta a transparência do mandatário, e sim o desgasta.