Victor Hidalgo
Fui ao mercado: Obrigado, Paulo Guedes!
Opinião

Campanha Bolsocaro, março 2021, São Paulo. Foto: Daniel Cymbalista/Fotoarena/Folhapress
Vamos fingir por um momento que você está vivendo em sua casa própria, ou seja, não tem aluguel ou condomínio para pagar. E por algum milagre, sua conta de luz, água e internet estão pagas, em dia. E que também não precisa comprar um botijão de gás, que está saindo em média por uns R$ 90. Temos que lembrar também que você mora sozinho! Esse é um detalhe importante. Então, para te salvar da crise, o governo votou uma PEC emergencial para te garantir uma ajuda financeira, como em 2020. Está animado para receber seu auxílio emergencial de R$ 600? Bom, infelizmente você não vai receber ele. Mas que tal R$ 150? Não é mais que o suficiente para você?
Mas não se preocupe! Eu fui ao mercado e fiz uma lista de itens da cesta básica, e alguns de higiene, para te ajudar a usar esse dinheiro muito bem! Não esqueça de agradecer ao Paulo Guedes, viu? Afinal, recentemente ele disse que entra no mercado e que a população agradece ele.
O que eu consigo comprar no mercado para minha família de uma pessoa com R$ 150?
Bom, pegue o seu carrinho e vamos dar uma olhada na nossa listinha de compras! É mais que o suficiente para você, desempregado e jogado a própria sorte, sobreviver os próximos meses! Não se preocupe que você precise comprar um botijão de gás para poder cozinhar alguma coisa dessa lista, vamos focar nos itens.
Lista do mercado:
Carne vermelha: 1 kg de coxão duro R$ 36
Leite Integral: uma caixa R$ 3,99
Feijão Carioca: saco com 1 kg R$ 7,99
Arroz: saco com 5 kg R$ 22,59
Farinha de trigo: saco com 1 kg R$ 5,49
Batata lavada: 1 kg R$ 3,99
Tomate Carmem: 1 kg R$ 3,99
Pão francês: 1 kg R$ 8,99
Café: 500 gramas R$ 12,99
Papel higiênico: pacote com 8 rolos R$ 10,90
Pasta de dente: tubo por R$ 3,75
Banana-nanica: 1 kg por R$ 4,49
Açúcar: saco com 1kg R$ 3,25
Óleo de soja: 1 litro R$ 8,90
Manteiga: pote com 500 gramas R$ 10,99
Macarrão: tipo espaguete R$ 3,59
Não vamos ser gulosos agora, temos que fazer essas compras durarem até o final do mês, viu? Vamos calcular o valor do nosso carrinho de mercado: R$ 151.89! Olha só, quase deu para fechar o carrinho de compras, vamos ter que tirar alguma coisa… acho que o macarrão, vamos deixar para o próximo mês.
Porque o auxílio veio essa merreca?
O novo auxílio emergencial atendera 28,4 milhões de pessoas a menos que os 68,2 milhões que foram atendidos no ano passado. Essa estimativa foi realizada pelo movimento Rede Renda Básica Que Queremos. Essa diminuição deve ocorrer por conta do governo destinar menos dinheiro para o novo auxílio, em comparação com o ano passado. Segundo dados da Caixa Econômica Federal, o governo federal gastou cerca de R$ 292.9 bilhões com às duas rodadas de auxílio emergencial, a primeira, de R$ 600, e segunda, de R$ 300.
É sempre bom lembrar: o governo queria desde o começo um auxílio de R$200. Quem conseguiu aumentar o valor foi a oposição, chegando aos conhecidos R$600.
Já para essa nova rodada de pagamentos, foram investimos apenas R$ 44 bilhões de reais. Os valores vão ficar entre R$ 150 (para famílias com uma só pessoa) e R$ 375 (para mulheres únicas provedoras da família, bem abaixo do ano passado com R$1200 para essas mesmas mulheres).
Outra coisa importante a ser ressaltada é o fato desse novo pagamento não ser feito em março, mas apenas em abril. Segundo os “técnicos” do governo de Jair Messias Bolsonaro (sem partido), isso se deve porque entre os dias 18 e 30 de março o governo começa a liberar pagamentos para os beneficiários do Bolsa Família e, por conta disso, não há como rodas duas folhas de pagamento em simultâneo.
Considerações finais de um jornalista cansado
Com o governo ativamente indo contra a vacinação (como pudermos ver ao longo dos meses), sem plano de vacinação nacional e trocando mais de ministro da saúde do que se troca de meias, fica difícil ter alguma perspectiva positiva para um país que virou uma colonia de leprosos para o mundo, por conta da circulação das novas cepas do coronavírus. Sem um auxílio emergencial ao mesmo nível do que tivemos no ano passado, o povo não vai ficar em casa.
Não é uma questão de negacionismo, sem uma renda garantida, além do congelamento de contas como luz, água e internet, não tem como garantir que essas pessoas fiquem bem em casa realizando um lockdown para controlar a pandemia e desafogar o sistema de saúde. Em São Paulo, basta andar pelo centro para ter uma dimensão do tamanho da crise humanitária que estamos vivendo, filas de pessoas aguardando uma oportunidade para conseguir agarrar uma marmita de alguma ONG ou igreja.
Então… e agora? Bom, sabemos qual a solução para os problemas do país, mas as instituições estão funcionando tão bem, que Bolsonaro ainda está no poder. Resta ter alguma esperança que os governadores consigam vacinar a população, para irmos às ruas em segurança.