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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

Goebbels falsificado


Botequim Literário


Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência - Foto: Reprodução



A democracia já não é mais aquela que o filósofo Alexis de Tocqueville previu no século 19 após o florescer do Iluminismo. No Brasil fardado com requintes milicianos, a arte de governar pelo voto do povo sucumbiu à aberração bolsonarista que se alastrou pelo País desde o golpe “democrático” de 2016. Arrisco a dizer que o Realismo Mágico de García Márquez parece amador perto do tamanho da nossa distopia.


Sigamos em frente. O tipo que se encontra com mais facilidade entre os súditos do ex-capitão é o mentiroso contumaz, e ele está na cultura, na economia, na base aliada... Não sei se por osmose ou (in) decência, distorcem fatos, procuram reescrever o terror dos porões e da caserna e negam avanços civilizacionais básicos, além de não sentirem vergonha de atribuir à atual administração feitos de governantes anteriores.


Li dia desses no Twitter: Bolsonaro é um idiota empírico, pois ele abandonou o serviço militar antes mesmo de ingressar nas batentes que necessitam do pensamento. Ainda assim, por mais inexplicável que aparente ser, o nosso chefe de estado infestou o governo de coronel – não é de se espantar que daqui a pouco haja milico até no almoxarifado do Palácio do Planalto. É tanta devoção a essa turma verde e oliva que...


Mas nada chega aos pés de Roberto Alvim: o demitido secretário especial da Cultura, uma espécie de Goebbels plagiador, fora designado a encabeçar a guerra cultural prometida pelo bolsonarismo na corrida eleitoral de 2018. Começou já no ano seguinte ao insultar a dama do teatro brasileiro, Fernanda Montenegro, e não se avexou no início de 2020 ao copiar um discurso do chefe da propaganda nazista, Joseph Goebbels.


Eis o discurso de Alvim, divulgado em 16 de janeiro deste ano: “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”. E agora o do homem de confiança do chefão nazista: “A arte alemã da próxima década será heróica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”.


Comparou? Viu semelhanças, digo, plágio? Ah, um detalhezinho, bobagem: Alvim estava num terno moderno lá pros patrões estéticos dos anos 30, com cabelo penteado com o auxílio de um gel descoladérrimo. Ao fundo, a ópera “Lohendrin”, de Richard Wagner, admirador do regime nazista. Estava completo, o clima. Mas, vixe, pegou mal o tal discurso, e o secretário caiu - não sem tentar se justificar -, e... ih, não funcionou.


Em fevereiro, após dias e dias sem um titular na secretária da cultura, o presidente nomeou a namoradinha do Brasil, Regina Duarte, para assumir o posto deixado pelo dramaturgo olavista. Nem bem ela estava acostumada com o novo emprego – atriz havia pedido demissão da TV Globo dias antes de aceitar o convide de Bolsonaro -, já passou a colecionar declarações, por assim dizer, um tanto polêmicas.


“Cara, desculpa, eu vou falar uma coisa assim: na humanidade, não para de morrer. Se você falar 'vida', do lado tem 'morte'. Por que as pessoas ficam 'oh, oh, oh!'? Por quê?!”, disse a secretária em maio ao ser questionada pelo jornalista Daniel Adjuto, da CNN. Num lampejo ensandecido, Regina abandonou a entrevista quando um vídeo da atriz Maitê Proença cobrando medidas da então secretária aos artistas foi veiculado. "Quem é você, que tá desenterrando uma fala da Maitê de dois meses atrás? “, afirmou Regina, que trabalhou com o autor Dias Gomes, um dos comunistas do ‘Doutor Roberto’.


Foi um espetáculo desastroso. Aliás, vamos e venhamos: o bolsonarismo é um desastre do início ao fim. É a institucionalização do desrespeito à memória daqueles que foram assassinados pelos ídolos do capitão Jair. Achou que parou aí? Após a demissão da ex-atriz global, quem assumiu foi o ex-galã da Malhação, Mário Frias, e prometeu seguir a cartilha olavista em relação à cultura, e... bem a gente está careca de saber o que rolou.


E não dá pra acreditar. No entanto, acredite: houve plágio nazista, atriz global e ator cujo feito que “engorda” seu currículo foi uma atuação na “Malhação”.


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