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  • Foto do escritorJúlia Aguiar

Janela da alma

Cinema

Curta de Tiago Felipe questiona racismo e afetividade com fotografia sensível em preto e branco

Filme participa da Mostra Panorama, na 24º Mostra de Cinema de Tiradentes. Foto: Divulgação



Às vezes somos pegos de surpresa por texturas, sensações, reflexos e brilhos em filmes intensos. “Você Já Tentou Olhar Nos Meus Olhos” é um curta-metragem curitibano, com 4 minutos de duração – o que eu confesso que é o único defeito desse filme: ele acaba.


Feito em recortes de fotografias que parecem ser ora analógicas e outrora digitais, com um preto e branco impecável que realça de forma sensível o corpo negro tatuado no filme. Sensível, impactante e exuberante – sim, exuberante, pois é um filme que explode em luzes de forma luxuosa – talvez a ideia seja essa mesma: mostrar o contraste entre o belo e a necessidade humana pelo afeto.


Os cortes são sutis e a cada troca de imagens, assistimos de mais perto as nuanças desse corpo negro em reflexo consigo mesmo, em busca de um amor que não os conhece: é preciso urgentemente encarar o abismo do outro, aprofundar-se nos mares dos olhares perdidos pelo tesão. Sim, caro leitor, é preciso.


O curta dirigido por Tiago Felipe e com a fotografia impecável de Lívia Zanuni, foi exibido na 24º Mostra de Cinema de Tiradentes, que aconteceu entre os dias 22 e 30 de janeiro, de forma online e gratuita.


Apesar do curto tempo de filme, me peguei sem fôlego durante a sessão, algo poderoso me comovia entre as imagens que abusam do branco das paredes e a linhas expressivas do corpo em tela. Toda essa surra estética com uma voz narrando ao fundo um discurso triste de afetuosidade negada aos corpos pretos. Esse filme me dilacerou a alma.


É importante lembrar ao leitor, e possível telespectador, que o racismo também impacta profundamente os afetos racializados. Um corpo negro é sempre renegado, mistificado com a imagem de casualidade, do não compromisso, com a vergonha do outre de assumir a troca pública de afeto com o corpo preto.


O curioso, ao meu ver, é assistir um filme que aborda um tema tão importante e profundo, de forma leve, sensível e principalmente: que ressalta a beleza da negritude.

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