- Júlia Aguiar e Lays Vieira
Liberdade de imprensa, existe em Paris?
Protestos
Onda de protestos incendeia ruas francesas contra a Lei de Segurança Global, liberdade de imprensa é diretamente afetada e jornalistas sofrem agressão

Polícia parisiense tenta impedir que jornalista registre o que está acontecendo no protesto. Reprodução: Cyril Zannettaccy / Agence VU
Se no Brasil de Jair Bolsonaro (sem partido) já enfrentamos sérios movimentos de censura institucional, imagine como é a censura em países com democracias “consolidadas”. No último dia 26, a Assembleia Nacional Francesa aprovou projeto de lei que proíbe a população de filmar policiais em ação, colocando a liberdade de imprensa em risco.
A Lei de Segurança Global, criada pelo presidente Emmanuel Macron, pune com multa de até 45 mil euros (cerca de 288 mil reais) e um ano de prisão para quem divulgar imagens de “rosto ou de qualquer outro elemento identificador" de policiais em ação. O texto aprovado pela Assembleia ainda afirma que a punição é aplicada quando as imagens atentarem contra a "integridade física ou psicológica" dos agentes.
Dois dias depois da aprovação da nova lei, o produtor musical Michel Zecler, que é um homem negro, foi brutalmente agredido por um grupo de policiais dentro de seu estúdio, que fica em um bairro nobre de Paris. O vídeo feito pelas câmeras de segurança do estúdio viralizou a cena do crime e protestos tomaram as ruas de Paris.
Já no dia 23 de novembro, um acampamento organizado por ONGs pró-imigrantes foi despejado de forma violenta pelos policiais, que também perseguiram jornalistas que registravam o absurdo.
Macron, apesar da pose de bom moço, nunca escondeu suas posições que refletem bem o passado colonial francês, marcado por violência e exploração. A França já vem há alguns anos sendo palco de xenofobia e racismo, bem exemplificados por episódios em jogos de futebol e com a defesa de charges ofensivas ao islã , por exemplo.
Desde pelo menos os Coletes Amarelos, Macron também se mostrou recorrentemente adepto a violência policial típica dos Estados modernos capitalistas, onde a polícia é braço do estado para manutenção do status quo e da contínua precarização da vida do povo francês em favor de políticas neoliberais e neocoloniais.
Protestos

Manifestante levanta cartaz “França, o mundo está te observando”. Reprodução: Reuters/Christian Hartmann
Desde o dia 28 de novembro, os franceses ocupam as ruas com protestos contra o racismo, a violência policial e pela liberdade de imprensa. Com o aumento da radicalização da polícia, manifestantes e jornalistas são atacados, causando maior revolta.
Os protestos já duram dias, e as ruas de Paris, Lille e Montpellier se incendeiam com cartazes contra o governo. Na capital francesa, milhares de manifestantes se reuniram na praça da República e marcharam até a praça da Bastilha.
O presidente Macron afirmou à imprensa francesa, no dia em que os protestos começaram, que a violência policial sofrida por Michel Zecler são “imagens que nos envergonham”. Além de cobrar ao ministro do Interior, Gérald Darmanin, punição aos policiais envolvidos.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, as organizações que convocaram os protestos afirmam que o "projeto pretende restringir a liberdade de imprensa, de informar e de ser informado, a liberdade de expressão —as liberdades públicas fundamentais de nossa República".
Os manifestantes reivindicam o fim do novo “sistema nacional de manutenção da ordem”, medida publicada em setembro que obriga a dispersão de jornalistas e fotógrafos durante manifestações, por parte das forças de segurança, denegrindo a liberdade de imprensa em registrar abusos na repressão a protestos.