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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

Clássico do boom latino-americano será relançado

Literatura

“O Jogo da Amarelinha” vai ganhar nova edição de selo paulista

Foto: Alejandro Andan/ Reprodução-Júlio Cortázar em Buenas Aires, capital da Argentina


“O Jogo da Amarelinha”, romance do escritor argentino Júlio Cortázar lançado em 1963, tem uma história interessante. Quando o autor terminou de escrever a obra – o que levara anos por conta das incontáveis idas e vindas, uma vez que o capítulo do meio nasceu primeiro, e só depois Cortázar criou o início e o final –, ainda se deparava com uma incógnita: o que fazer com as várias anotações que foram se avolumando durante os anos em que produziu o livro?


Cortázar, então, resolveu acabar com isso de uma vez por todas. E publicou algo cheio de peculiaridade que subverteu normas sequenciais que fazem parte da estrutura convencional de um romance. Eis o antirromance. Essa expressão foi inicialmente empregada por Jean-Paul Sartre em meados do século XX e descrevia o rompimento com a narrativa convencional em termos de enredo, diálogos e condução da história.


A Companhia das Letras anunciou recentemente em seu site que lançará mais uma edição de “O Jogo da Amarelinha”, obra que faz parte do chamado boom latino-americano. Neste movimento, nomes como Gabriel Garcia Márquez, Mario Vargas Llosa e Júlio Cortázar ganharam projeção em todo o mundo na década de 1960. Mas até o momento a editora paulista ainda não estipulou qual será a data em que a obra chegará às livrarias do País.


“O Jogo da Amarelinha” pode ser lido como um romance sequencial (como no primeiro livro), com um capítulo após o outro, terminando no capítulo 56. Também há possibilidade de lê-lo como uma segunda história, saltando do capítulo 73 (que é um dos chamados “Capítulos Prescindíveis”) para o capítulo 1, de frente para trás, de trás para frente, até os capítulos 58 e 131. Com esse roteiro, o leitor fica preso a uma espiral.


Cortázar também concede a chance de explicar o romance por meio de outra sequência e ignorar por inteiro os “Capítulos Prescindíveis”. Mesmo na possibilidade mais linear, a trama evolui de maneira ‘errática’, mostrando uma série de fragmentos que cadenciam a narrativa enquanto segue o personagem principal, Horácio Oliveira, onde começa a obra na década de 1950, em Paris, em meio à dificuldades financeiras.


Jazz


À medida que avançamos na leitura, descobrimos as paixões intelectuais de Oliveira pelo jazz – estilo musical que influencia claramente a escrita de Júlio Cortázar, com o ritmo sincopado. Ouvimos, imaginamos e sentimos as discussões que Oliveira tem com seus amigos do clube da Serpente (que tem papel de destaque no início da obra). Ainda há a reverência deles pelo misterioso autor Morelli, bem como o amor de Oliveira por Maga.


Na segunda parte do livro, ele parte para a Argentina e, nas páginas seguintes, temos como palco o país vizinho. Ora fluxo de consciência, ora prosa mais direta, Cortázar mostra a deterioração mental, interação humana desconectada e alienante nos efeitos que o livro enquanto material reflete ao leitor. Assim, com maestria, o autor chama a atenção, com sucesso, para os constructos finais do texto, bem como às expectativas que todos temos do formato romance.


“O Jogo da Amarelinha” nos mostra a história de um triângulo amoroso, inebriado em jazz, cinema, literatura e filosofia, porém não só. São duas histórias, depende da escolha do leitor. O fato é que o romance entrou figura no seleto rol das grandes obras já feitas na história da literatura, arrisco-me a dizer. Cortázar rompeu paradigmas em relação à estrutura e à linguagem, fazendo uma obra experimental da primeira à última linha.


Júlio Cortázar nasceu de pais argentinos na Bélgica, em 1914. Na década de 1950, foi para a França, onde trabalhou como professor na mesma época em que tentava dar os primeiros passos na carreira literária com seus contos. Cortázar também engajou-se em causas políticas, sendo simpático a movimentos revolucionárias que despontavam em Cuba. Morreu em 1984, aos 69 anos, de leucemia.


BOX

O Jogo da Amarelinha

Gênero: romance experimental

Autor: Julio Cortázar


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