JM
Maldita
Doce Viagem

Ambulante na segunda manifestação do #BrequeDosAPPs, Rio de Janeiro, 2020.
Texto e foto: Júlia Lee
Olhares perdidos no desespero cotidiano da sobrevivência selvática neoliberal. São seis horas da manhã de uma segunda feira maldita numa quarentena seletivamente elitista, os metrôs já estão lotados e quem os enche somos nós proletários. Será que ficaremos no abismo do ímpeto escravagista por mais quanto tempo?
O lapso entre os silêncios. A dor dos olhares trocados profundamente indignados com a face da morte. Estamos morrendo todos os dias. Genocídio.
Quem somos nós?
Eu não escondo o asco que sobe das vísceras, a realidade é vomitada nos lentos segundos de uma vida vazia de sentidos.
Encruzada na força forjada ancestralmente daqueles que já lutaram para que eu pudesse sentir o sabor viciante de uma liberdade sucumbida. A guerra nunca acabou.
Minha culpa me impede de digerir o vômito engasgado nas verdades não ditas de minha branquitude privilegiada. Assisto. Morro e mesmo assim, tenho mais segundos livres que a maioria que me cerca nesse transporte inflacionado.