Marcus Vinícius Beck
Na tela, o horror
Cinema
CCBB promove entre 28 de outubro e 23 de novembro mostra macaBRo – Horror Brasileiro Contemporâneo. Na programação, filmes de nomes consagrados do gênero e da nova geração de realizadores

Ator Murilo Benício em cena do longa-metragem ‘O Animal Cordial’ - Foto: Reprodução
O cineasta José Mojica Marins (1936-2020) aprendeu a fazer cinema de maneira autodidata. Seu pai, gerente num cinema em São Paulo, deu-lhe uma câmera de presente de aniversário e o jovem começou a filmar curtas-metragens com garotos do bairro no qual morava. Mestre do horror aclamado em todo o mundo, os primeiros longas-metragens de Zé do Caixão tinham um charme malfeito, de baixo orçamento, com estrutura simples: era um cinema realizado do jeito que dava – e como dava. E foi assim que ele criou “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” e “O Despertar da Besta” – obras consagradas como clássicos do terror, este último uma crítica ao governo Médici.
Entre 28 de outubro a 23 de novembro, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) homenageia o legado de Mojica com a mostra macaBRo – Horror Brasileiro Contemporâneo. Um passeio sinistro pela produção cinematográfica de terror brasileiro, a programação conta com 44 produções de longas e curtas-metragens filmados pela nova geração de diretores e diretoras, bem como nomes consagrados. As exibições serão realizadas gratuitamente no ambiente virtual por meio da plataforma darkflix, streaming destinado a veiculação do gênero de horror.
“A mostra vem para celebrar esse cinema cheio de coragem e vontade de encontrar o seu público. E principalmente, de narrar uma boa história de terror essencialmente brasileira, com temáticas ligadas à nossa cultura”, afirma ao Jornal Metamorfose - em entrevista realizada na tarde desta terça-feira (27) por telefone - o curador da macaBRo, Breno Lira Gomes. “O cinema brasileiro não é feito apenas de um tipo de filme e essa é uma boa oportunidade de valorizarmos ainda mais a recente produção do gênero no país”.
Trailer do filme 'Morto Não Fala' - Imagem: Youtube/ Reprodução
Os filmes vão ficar disponíveis na plataforma por um dia e terão limite de visualização no caso dos longas, enquanto dos curtas o prazo é de uma semana. Entre os longas, as produções que mais chamam atenção pela relevância para a consolidação do gênero de terror no Brasil são “Morto Não Fala”, de Dennison Ramalho, filme que foi exibido em pelo menos 40 festivais no mundo e contou com o ator Daniel de Oliveira como protagonista. Já “O Animal Cordial”, de Gabriela Amaral, com Murilo Benício e Irandhir Santos no elenco, discute a luta de classes a partir de uma trama assustadora bem típica do terror.
A respeito dos curtas que integram a mostra, haverão quatro mini retrospectivas que vão exibir filmes realizados por nomes que se destacaram no horror ao longo dos últimos anos. O público poderá assistir aos filmes “O Hóspede”, “Não Tão Longe”, “O Desejo do Morto”, “Cova Aberta”, “Mais Denso Que o Sangue” e “Os Mortos”, da produtora paraibana especializada em filmes de terror Vermelho Profundo. Da diretora Gabriela Amaral, outra produção será exibida: “Estátua”. A programação conta ainda com uma obra dirigida e outra codirigida por Zé do Caixão.
Segundo Lira Gomes, a produção brasileira tem chamado muito atenção pela sua qualidade e quantidade. “Chamei então Carlos Primati, um dos pesquisadores mais importantes do gênero de horror. Cada um organizou uma lista e focamos na produção recente”, revela o curador. A dupla escolheu curtas e longas dos últimos cinco anos, cuja data de lançamento foi até este ano. O critério utilizado? Experimentação visual, histórias escabrosas e horripilantes. O projeto contou com o apoio financeiro do Banco do Brasil e é produzido pela BLG Entretenimento.
Cena pulsante
Para o curador da macaBRo, Breno Lira Gomes, a iniciativa de criar a mostra nasceu por conta da efervescência da produção atual. “Reúne uma nova geração de diretores e diretoras, que estão vendo a chance de experimentar dentro da linguagem cinematográfica, lado a lado com nomes já consagrados como o grande mestre José Mojica Marins, o eterno Zé do Caixão”, diz Lira Gomes. Ainda assim, ele argumenta que o audiovisual vem passando por um momento de incerteza há pelo menos dois anos, com sufoco financeiro agravado pela pandemia de coronavírus.
“Piorou para todo mundo, na verdade. Mas acho que não vai parar. Se não der para fazer longas, vamos fazer curtas. Vai da criatividade dos realizadores”, afirma o curador, que também trabalha no festival Maranhão na Tela desde 2007 e em diversas mostras, como a recente “Stephen King – O Medo É Seu Companheiro”. Segundo ele, o contexto atual lembra a época do fechamento da Embrafilmes no início dos anos 1990, quando trabalhadores do cinema foram demitidos e ficaram sem saber o que iam fazer. “Hoje tem muito meio para continuar”, analisa.
Serviço
MacaBRo – Horror Brasileiro Contemporâneo
Quando: de 28 de outubro a 23 de novembro
Onde: darkflix.com.br/macabro
Gratuito