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  • Foto do escritorIkaro MaXx

O bolsonarismo transformou o Brasil num laboratório patafísico do pior

Provokeativa

Artigo do poeta e filósofo Ikaro MaXx é um dedo na ferida do Brasil paralelo dos conspiradores autoritários

Quer coisa mais brega do que isso? - Foto: Reprodução redes bolsonaristas


Poderia até parecer piada, se tivesse graça. No máximo está bem próxima de uma piada perversa, de um tipo de humor gore saído de algum filme B, um filme de terror de baixa qualidade. Mas não, senhoras e senhores, isto é o Brasil.


Ou, o que é ainda mais trágico, isto já foi um país, agora se tornou um gigantesco embaraço, um constrangimento humanitário a nível global.


O Brasil que o escritor austríaco Stefan Zweig havia chamado de “país do futuro” agora mais parece o Brasil do passado colonial, no qual as elites brancas e prósperas, mantidas nesta posição de privilégio pelo lucro obtido da escravização de seres humanos de outras raças e pelo contínuo massacre de minorias étnicas, deseja a todo custo forçar a sociedade a voltar ao tempo da caça às bruxas e das chicotadas nas costas dos insubmissos.


Junto a pandemia uma soma incalculável de tragédias se acumulam e não temos sequer o tempo próprio para atravessar o luto de modo a se absorver o impacto das perdas devido a inesgotabilidade das forças corrosivas que gerenciam a morte programada. O número de mortos continua aumentando vertiginosamente e sem controle – chegamos à excruciante cifra de 403.781 mortos pela Covid19 registrados - ao ponto em que não se enxergam mais as famílias, os indivíduos, as dores e as perdas, mas apenas a infatigável irracionalidade numérica. Encontramo-nos num estágio tal de letargia, apatia e desespero que até nossas forças e nosso direito ao choro nos foi expropriado. Sabe, eu até gostaria de apenas estar sendo um tanto negativo e niilista aqui, mas a realidade é ainda muito pior do que consigo conceber. Seria um prazer ser visto como alguém que está exagerando, porque assim a coisa ainda poderia estar dentro de certa margem de controle. Contudo, não é mesmo o caso. Além do mais o ridículo parece não temer dar as caras lado-a-lado com o trágico e o grotesco num retrato oficial. Tal como uma festa de nomeação e posse. Quer um belo exemplo? Vamos lá:

Em reunião do Conselho de Saúde Suplementar (Consu) nesta última terça-feira (27/04), o Ministro da Casa Civil, General Luiz Eduardo Ramos, revelou ter tomado a vacina contra a Covid-19 ESCONDIDO. (Sim, é um general que tá na casa civil – e no governo – pasmem – estão empregados algo em torno de 6.157 militares em posições chaves no governo, nas instituições e empresas públicas. Quer dizer que já não vivemos num "regime militarizado"?)

O motivo do “escondido”? A orientação geral do Palácio do Planalto é que todos os integrantes do governo “não criassem caso” a respeito da vacinação, para não “politizar o ato da vacinação”. Essa invisibilização faz parte da estratégia escrota e hipócrita que tornou-se modus operandi no bolsonarismo no melhor estilo “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.


[NOTA: A invisibilização – tanto quanto a subnotificação – já é prática conhecida desde os tempos dos governos do regime ditatorial. Agora, com o acesso permitido pela Lei da Transparência modificado, a mudança dos horários da divulgação oficial do número de mortos (“Para não dar a matéria pro Jornal Nacional”, como certa vez falou o “presidente”), as mudanças no Inpe e a desidratação de recursos para o Censo do IBGE, tornam-se ainda mais obscuros os procedimentos adotados pelo Governo e a capacidade para uma avaliação técnica mais decisiva. Dando assim maior liberalidade para que o governo maqueie e apresente os dados, criando narrativas paralelas e confusas, sem dar a comprobabilidade requerida para justificar seus atos – e ser avaliado e criticado de perto pelo público e pelas instituições e órgãos responsáveis.]

“Tomei escondido, né, porque a orientação era para não criar caso, mas vazou. Eu não tenho vergonha, não. Tomei e vou ser sincero. Como qualquer ser humano, eu quero viver, pô. E se a ciência está dizendo que é a vacina, como posso me contrapor?", afirmou o Ministro.

O general Ramos ainda teria comentado na tal reunião que estaria tentar “convencer o Presidente a tomar também”, pois “independente de todos os posicionamentos (…) não podemos perder o presidente por um vírus desse”. Acontece que o Ministro Ramos não entendeu ainda direito a coisa – ou se faz de sonso como todos os integrantes do próprio governo. Afinal, como o vírus poderia “matar o presidente” se ele próprio já se apoderou da Presidência? Faltou lógica à argumentação do Ministro. Mas, tudo bem, estamos aqui para provê-la.

Pai Ubu em peça - Foto: Reprodução

E a lógica é mais óbvia do que parece à primeira vista. Não há “governo”. Simples assim. Nem mesmo em aparência. O que seria a “gestão Bolsonaro” é na realidade um puro golpe patafísico nas instituições - ou o processo da guerra cultural comspiracionista em pleno andamento.

"Patafísico" no sentido de que as "exceções" que regem a deterioração da nação poderiam até ser suspeitamente sugeridas em algum pesadelo vindo da mente do Dr. Faustroll, personagem do livro de Alfred Jarry, e nada mais são do que a égide da falsificação tornada prática oficial do "governo" nas dinâmicas da realidade institucional.


Com isso o que se pretende é criar um estado deplorável de terror concreto, sanitário, socioeconômico, cultural e psicológico. Bolsonaro realmente pretende transformar o país numa caricatura igual a si próprio. Crua, violenta e sem qualquer consideração humana. Um país em que violar o outro pela arrogância do direito da elite se torna o paraíso da nefanda guerra ideológica.


Esse terror tem devastado todos os campos possíveis da vida e tem infiltrado o mau gosto predominante, na ridicularização das possibilidades de conversa - o bolsonarismo atropela qualquer chance dialética, pois inventa adversários para os destruir sem qualquer escuta possível - e no desdém chulo e infantil pelas propostas progressistas.


O bolsonarismo – que é como o cão Cérbero da mitologia, que nunca descansa – transformou-se num vírus, e é numa estranha sintonia empática – como o bolsonarismo poderia engendrar alguma empatia? - que anda lado-a-lado com o Gólgota que se tornou a Covid-19 no Brasil. O vírus ainda tem a “vantagem” da rápida adaptação, o vírus do bolsonarismo adapta o país inteiro à sua ideologia falsificadora e sua estética – e “moral” absolutamente hipócrita - do pior. O jargão e logomarca que o bolsonarismo utilizou constantemente em sua campanha - “Meu partido é o Brasil” - ficaria mais correto se assumisse o seu verdadeiro mote e propósito: “Meu partido – no caso do presidente, o sem-partido que diz muito sobre sua filiação em causa própria – é a Morte”, ou ainda o genocídio, a destruição e o holocausto.

Mas, claro, assim poderia ser que ainda não atraíssem votos suficientes para um pleito respeitável. Afinal, a democracia é uma máscara que atualmente eles nem tem mais vergonha em não usar.


No caso, Bolsonaro – que dizia ser contra qualquer reeleição – agora assume que deseja se manter no poder a qualquer custo. Também pudera: com todos os crimes que vem cometendo, o único destino que lhe espera – e à sua família a quem desesperadamente tenta encobrir por todos os meios possíveis, se é que existe alguma justiça ainda neste país – é a prisão ou a sua “execução” política.


Ao se olhar o mapa do mundo e os índices de gestão da pandemia e respostas governamentais à vacinação parece que o Brasil entra na “corrida” pela imunização da sua população como uma lesma ou um bicho preguiça. Ou melhor, não corre para nada, fica lá, aguardando o vírus “trabalhar”. Bem como, ainda pior, recusa cinicamente as ajudas ofertadas.


A impressão que se tem é que o bolsonarismo caminha na contramão de tudo e de todos - “vou acabar com tudo isso que tái, talquêi?” - para assumir-se como a “vanguarda” do retrocesso ou da involução operada hoje no país que já foi considerado o paraíso da diversidade cultural e étnica.


O Brasil de Bolsonaro – como disse – tem a ambição de ser o único país a recusar a história para se manter no hermetismo totalitário do sacrifício de todos pelo seu “líder”, achincalhando todos os seus parceiros comerciais, ecológicos e sanitários, recusando-se a participar de uma conversa mundial na base da boa e inteligente diplomacia.


A demissão do “Sinistro” das Relações Internacional, o ex-chanceler Ernesto Araújo, representou momentaneamente certo “alívio” para o país, mas isso não é nenhuma garantia de que o estrago e a vergonha a que submeteu todos os brasileiros durante a sua gestão da pasta será algo fácil de ser enterrados. Afinal, foi um sacrifício de um dos quadros mais fiéis do bolsonarismo. O presidente assinou sua exoneração com muito desgosto, sentindo uma ponta de derrota. Porque sim, Ernesto Araújo cumpriu totalmente com as funções que lhes foram delegadas pelo chefe: acabar de vez com a imagem do Brasil no exterior (legada pelos anos do PT no poder), destruir a diplomacia e transformar o Brasil não apenas num pária, mas num perigoso celeiro de novas cepas do vírus.

Essa constatação não é apenas minha, nem clamo como "inédita". A escritora Hellgina Noart já havia percebido isso bem ao escrever sua peça BozzonarUbu, assim como o ator , humorista e escritor Jô Soares e a filósofa Márcia Tiburi. Jarry era um intelectual de vanguarda e por mais que gostasse de “disparar pro alto o seu revólver” jamais se permitiria ser colocado no mesmo nível de comparação a um troglodita acéfalo e inculto como Bolsonaro. Mas, devemos reconhecer, Bolsonaro apresenta todas as características raquíticas – e pretensamente “imensas” ao seu auto-olhar distorcido, bovarista e mitômano – do personagem Ubu da trilogia pela qual Jarry ficou mais conhecido: falastrão, megalomaníaco, autoritário e profundamente covarde! Enquanto Ubu roubava dos ricos para financiar seu Estado de Guerra – ou seja, a si mesmo, no fundo -, Bolsonaro saqueia quem não tem nada, quem tem pouco e acha que tem algo, e tenta ainda saquear o mundo – por meio do pedido de auxílio que fez recentemente junto ao "Sinistro" do Meio Ambiente Ricardo Salles na Cúpula do Clima – para financiar a si, sua família e ao seu grupo de conspiradores. E ao seu projeto de Estado policial, militar e miliciano de orientação neopentecostal em contínua operação de guerra.


E essa operação é feita também nas ruas pelos seus braços teleguiados por esse programa de guerra que reflete uma concepção da política e da vida – o “gado” e as forças de segurança cooptadas - seguindo modos fundamentalistas religiosos nos quais amparam o seu terrorismo, o legalismo do armamento dos seus quadros e a contínua perseguição desumanizadora das oposições. Com eles não há espaço para diálogos ou negociações, apenas a imposição de sua visão de mundo.

E dentre os procedimentos utilizados para a desinformação metódica e programada existe um exército de robôs e as labirínticas narrativas paralelas de conspiração criadas e propagadas em sua própria midiosfera: sistemas de canais de YouTube, grupos de WhatsApp e o aplicativo Mano. (Peraí! Bolsonaro, o grande estimulador das escolas militares e religiosas, do EaD e do homeschooling, da "Escola Sem Partido" que era contra a "doutrinação ideológica", com uma TV própria? Doutrinando? A realidade paralela criada pelo bolsonarismo é aquela em que as pessoas morrem por ele como se morressem por uma “verdade” que é engolida acriticamente e autoritariamente.)

A operação do massacre do Brasil se dá em vários níveis e camadas, e acontece no campo do visível e do invisível, na precarização material e nos massacres simbólicos, nas intimidações e perseguições jurídicas e morais e na subnotificação das mortes e do genocídio indígena, tanto quanto no saque das instituições pelas milícias e na guerra cultural obscurantista e conspiracionista que atua para impedir qualquer progresso e liberdade na linguagem e na criação estética da vida.

A crise – sempre acompanhada de bravatas golpistas e autogolpistas por parte de Bolsonaro e do seu clã – também se reflete na destruição da cultura e da sua substituição pelo pastiche, pelo kitsch, pelo meme, pela falsificação e pelas tosquices que refletem os gostos dessa gente sem qualquer cultura e aprofundamento intelectual.

Seguindo o jargão da economocracia ridícula que se tornou parte da ideologia oficial do governo e do “Sinistro” da Economia Paulo Guedes, a morte entra no jogo para acertar as contas e os déficits previdenciários, por exemplo.


“O bom é que a morte se concentre mesmo nos mais velhos para equilibrar os déficits”, teria dito alguém da equipe de Paulo Guedes. Ao qual, o “grande Ministro” que Bolsonaro tem a ilusão de ser um “sabe tudo”, teria respondido e reclamado que “todo mundo quer viver 100, 120, 130 (anos). Não há investimento estatal que consiga acompanhar” em uma reunião que foi transmitida em Live pela página oficial do Ministério da Saúde. Ao se darem conta da cagada que fizeram, eles apagaram o conteúdo e fazem de conta que nunca existiu. Mentir e trapacear é com eles mesmos.

Quase que nem as narrativas históricas reescritas no romance 1984 de George Orwell e as fotografias com pessoas “apagadas” durante o regime de Josef Stálin na União Soviética: um caso hilário e atual dessa prática é o que o apresentador e candidato à presidência em 2022, Luciano Huck, faz em suas próprias redes sociais. “Fulano? Nunca sequer vi.”


“Eu espero que a minha morte faça mais renda que minha vida” - o trocadilho tragicômico – entre cents/sense (centavos/sentido) - contido no caderninho de piadas do Arthur Fleck, interpretado por Joachin Phoenix no filme Joker (2019) é bastante revelador dos resultados do mercadismo entreguista e da violência da política econômica de gente como Paulo Guedes. No jogo ultraneoliberalizante que esse Chicago Boy joga as vidas humanas – principalmente as mais pobres – não valem nada, o que valem são os dividendos e como o sacrifício dos direitos dos mais pobres pagam as mansões, iates e confortos ostentação pelos ricos. É esse tipo de pensamento que o grande maestro da privatização almeja implantar em cada brasileiro como uma chave para o autosacrifício. Desloque o cenário de Gotham City – inspirada na crise na cidade de Nova Iorque nos anos 70 – para o Brasil hodierno: aqui vemos Bolsonaro e o vírus como os reais destruidores das vidas humanas e das suas potencialidades alegres e criativas. Faz sentido, certo?

Querem mais outra piada basicamente onipresente nos dias contemporâneos? Com a tal da estagflação em vista, os meios de comunicação de massa e as mídias alternativas já começam a propagar certas propagandas e reportagens “ensinando o brasileiro médio” a “se virar nos 30” com o miserável Auxílio Emergencial de R$ 150 ofertado pelos homens ricos do poder (enquanto a sonegação de impostos e tributos seque solta), além de criar a ilusão de que produtos velhos e fora de moda (um Santana de 2005, por exemplo) tornaram-se objetos de consumo desejável pras massas. (O que chega a ser um contrassenso até pro próprio capitalismo, diga-se de passagem, que se alimenta das “novidades” que abundam no mercado de consumo. Para eles o capitalismo nunca esteve “em crise”: tudo isso é terrorismo da imprensa “comunista” mobilizado pelos intelectuais que seguem o tal “marxismo cultural”.)

Abundam também as consultas aos gurus financeiros e aos psicólogos de última hora, aos coaches e experts em “tirar leite de pedra” para ter o básico para viver e manter uma atitude mental “saudável” e “desligada” da vida dura. Isso é que é solução, hein? E uma “coach de emagrecimento” faz em sua rede social um bizarro tipo de concurso “jejum de 7 dias” para magreza e fala sobre “jejum espiritual” para vender seus produtos.

Sim. Esse é o retrato patafísico do Brasil em que as pessoas estão morrendo de fome e da pior pandemia global até o momento e os ricos fazem um “concurso de jejum”. Fazem piada de uma situação real que mata milhares e milhares de brasileiros desassistidos.


Com um povo estupidificado e dobrado pela fome, pela miséria, pelo desemprego, pelo desespero e desânimo, pelo caos socioeconômico e desamparo social – e a tentativa de vender a segurança falsa por meio do tal tratamento precoce que consiste em medicamentos ineficazes e perigosos derivados da hidroxicloroquina, como bem disse o ex-Ministro da Saúde Nelson Mandetta em entrevista depois de ter deixado o cargo – quem é que poderá opor alguma firme resistência, pensar estrategicamente e articular alguma espécie de revolução?

Em uma de suas teses da Sociedade do Espetáculo o cineasta e intelectual francês Guy Debord – apropriando-se sabiamente do filósofo alemão G. F. W. Hegel – fala que no espetáculo, este mundo realmente invertido regido pelas imagens socialmente produzidas e onde os homens vivos são dominados e colonizados pela economia, “a verdade é um momento do falso”. (Tese 9) E esses homens todos sabem que eles estão falsificando tudo – e o pior, até abertamente – mesmo as narrativas e ameaças de um “autogolpe”, numa guerra híbrida em que a democratura (conceito proposto pelo pensador brasileiro Ruy Fausto) já está praticamente instalada, as instituições do executivo já se encontram mineradas tanto pelas forças do Exército quanto pela influência das milícias.


O Brasil enquanto laboratório patafísico do terrível e do grotesco tem transformado a sua violência universal – a redenção pela violência, como já vi chamarem em algum lugar – como algo desejável e que é aturado como uma piada, um meme que se fragmenta nos descaminhos da rede. Uma solução abençoada pelo Deus do velho Testamento para uma Cruzada que revitaliza os processos da Santa Inquisição.


A Batalha da Maria Antônia durante o regime do AI-5 em 1968, o período mais brutal do regime da ditadura civil-militar - Foto: Arquivo USP/Reprodução

Não à toa o próprio presidente da República – e o Gabinete do Ódio de seu filho Zero Dois – adora essa sensação de ser subcelebridade nos chans e na rede de esgoto virtual, com sua estética de “salvador da pátria”, “mito”, “Rambo” que protege os indefesos da “corrupção” e do “comunismo”. (vide imagens mais acima) Seus Ministros – uns cagões, fracotes e covardes – sempre aparecem em tais imagens como “super-heróis” musculosos e destemidos, líderes e cavaleiros templários, figurando aquela masculinidade que, no escuro secreto das alcovas, tem sua tara anal, indeclarada, sufocada. Lutam contra monstros, dinossauros “comunistas", demónios e outras toscas atrocidades saídas de um filme de terror ruim ou de um filme de sessão da tarde.

A ironia do Supermacho jarryniano reaparece aqui com toda essa coisa do “histórico de atleta” e da reiteração da estética do macho violento. Como os bonecos de Rambo que foram comprados pelo exército nas farras com cartões corporativo.


Realmente o Brasil se tornou um hospício, um barco naufragando dirigido por um bando de lunáticos rumo ao precipício. Um titanic com direito a violinos tocando em reunião ministerial em que boçais poderosos brindam com copos de leite e assobiam para as suas sanguinolentas milícias. Enquanto invectivam com ódio às universidades, à pesquisa e à ciência, os militantes bolsonaristas – trajados com as cores do Brasil – se prostram diante do totem de uma Caixa de Cloroquina gigante, rezam, batem continência e cantam o hino nacional. Não, isso não é uma piada, isso é o Brasil paralelo criado pelo bolsonarismo: um país gigante transformado num esgoto a céu aberto onde pulula o fascismo, o milicianismo-teocrático e o negacionismo onde quem abre a boca para denunciar o absurdo é processado, intimado a depor pelo Polícia Federal, perseguido pelo gado ou mesmo preso e espancado como o Rodrigo Pilha.

Os bolsonaristas se transformaram num povo fundamentalista, numa seita sob a lavagem cerebral do ódio e a mitologização de um parasita tosco que encarna toda a mediocridade universal, mas é visto, acatado e vendido como um “Messias”.


Os setores ressentidos da sociedade se regozijam no gozo perverso da violência contra o outro. A presença do “outro” sendo vista como uma ameaça que empreende e o faz surpreender a deslegitimação humana de si próprio. O próprio bolsonarismo escarnece de qualquer sentido humanitário profundo porque vive num mundo objetal em que o ódio dá as cartas da aniquilação contínua.

O mundo ideal dos bolsonarismo é, já dissemos, a regressão mítica ao tempo da escravidão – o ódio à história (e o marxismo sempre teve essa qualidade, de levar o olhar materialista ao histórico) também se reflete nisso – em que, como disse o “Sinistro” Paulo Guedes, “nem empregada viaja pra Disney”, nem “filho de porteiro se forma em Universidade”. O governo nunca teve quadros “técnicos”: sempre foi moldado e operado seguindo violentas diretrizes ideológicas fundamentadas no ódio e ressentimento de classe.


Já falamos disso – o objetivo sempre foi esse, criar as condições objetivas e subjetivas – via esgotamento, cansaço, confusão, baixa de potência, estímulo ao ódio pela retórica, propagação de mentiras arquitetadas e guerra de narrativas, etc – para a formalização de um “Estado de Exceção” ou “Estado de Sítio” e “Mobilização” na qual a sociedade obrigaria os outros poderes - com a suspensão do Estado Democrático de Direito - a ceder ao Executivo todas as prerrogativas que ele julgar “necessárias”. E isso embasado – inclusive – por uma dúbia e arbitrária interpretação do art. 142 da Constituição feita pelo jurista Ives Gandra Martins. Seria o “lacre” tão esperado por eles. O “oclinho” do meme colocado diretamente no rosto raivoso do “mito”, do “Capetão”, do miliciano Jair Bolsonaro como uma espécie de coroação máxima. Ele que bate no peito e diz tão orgulhosamente “meu exército”.

E junto com o “oclinho” aquele famoso bigodinho que ficou tão célebre em 1933 na Alemanha. Nesse laboratório de estética do pior nada poderia descer tão baixo, ou será que ainda poderia? ***

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