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  • João Moreno

O plano secreto dos militares

Política

O Jornal Metamorfose lança a série de reportagens sobre os planos macabros dos militares para a política nacional. Esse dossiê escancara a manipulação militar e mostra quais os próximos passos do Exército para acabar com a democracia


Por João Moreno e Caio Sousa, especial para o Jornal Metamorfose


A história das Forças Armadas e a sua relação com a governança política do Brasil não é nova. Em 2018, com a eleição de Jair Bolsonaro, essa ‘novela’ ganhou novos capítulos.

Capítulos os quais não se resumem a militares de altas patentes em cargos do Executivo Federal. Nos últimos anos, mais de dez mil militares foram nomeados para cargos políticos nas mais diversas pastas e ministérios; temos operações militares com o maior orçamento do Palácio do Planalto. E, ainda, extensão de privilégios durante a Reforma da Previdência, sem os riscos de terem vantagens perdidas durante o desmonte do serviço público, promovido pelo atual governo.

Apesar dos ganhos corporativos, muitas vezes, a presença militar na nova administração federal foi descrita como uma forma de “frear os impulsos autoritários” do ex-capitão do Exército.

Segundo a Constituição Federal, a atuação militar se deve “à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem". É como se a lei escrita pudesse, de alguma forma, como já alertou o professor de Direito Alysson Mascaro, alterar a realidade material, a ideologia e a formação histórica das Forças Armadas.


O historiador Manuel Domingos Neto concorda e vai além. Afirma que os militares brasileiros têm uma interpretação particular do artigo 142. “O artigo 142, monstrengo jurídico incompatível com o princípio da soberania popular, ficou como aviso prepotente das fileiras: entregamos o governo, não a maternidade da pátria, também chamada nação”, diz.

Mas, afinal, do que se trata essa grande reportagem? Apesar de não ser do conhecimento do grande público, nem abordado pela imprensa tradicional, descobrimos, por acaso, uma série de estudiosos que pesquisam a questão militar para além dos discursos oficiais. Através desses trabalhos, resolvemos elaborar um dossiê, trazendo diversas perspectivas a respeito da instituição.


De forma resumida, a reportagem evidencia que:


“As Forças Armadas são autônomas e imunes ao controle civil. A sua formação histórica; a genealogia de seus militares; a educação; a ideologia; a forma como enxergam a si, o brasileiro e a política; a geopolítica e a inserção do país numa divisão internacional do trabalho; o capitalismo periférico dependente; as doutrinas; os aparelhos e os novos instrumentos de guerra (apreendidos da doutrina norte-americana em sua luta contra o terrorismo e da expansão imperialista), todas essas questões põe em dúvida o tal do “profissionalismo” das Forças Armadas, a suposta defesa à Constituição e o que, de fato, o art. 142 significa ou como ele é interpretado por esses atores políticos”.


Assim, esse trabalho jornalístico pretende descrever de que forma os militares saíram dos quartéis e entraram para a política. Não apenas isso, mas contar como, de fato, até nos períodos em que se mostravam alheios às disputas eleitorais, determinados setores buscavam politizar a caserna.


O texto trabalha com a hipótese, abordada exaustivamente por alguns autores, de que Bolsonaro é, na verdade, um projeto militar, mais especificamente de um grupo de militares, um "consórcio" de generais formados na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), nos anos 1970; não coincidentemente, a mesma instituição na qual Jair Bolsonaro se graduou.


Para isso, utilizaremos abordagens históricas, sociológicas e antropológicas, buscando entender, não apenas como os militares enxergam a si, o Brasil e o brasileiro, mas a forma como essa visão de mundo condiciona as ações e projetos desse grupo, agora no poder.


Para finalizar essa primeira parte da série do JM “O Plano secretos dos militares”, todas as informações utilizadas neste texto são frutos de reflexões acadêmicas, jornalísticas e políticas. Quando não citadas diretamente, as fontes utilizadas para composição desta reportagem estarão disponíveis em hyperlinks.


E, se os resultados aqui descritos parecem estranhos à Ciência Política "convencional", mainstream, talvez tenham relação com o que o antropólogo Piero Leirner descreveu, em seu livro mais recente: A insuficiência que certas interpretações carregam para enxergar a relação entre militares e política para além dos contextos de exceção. "A maior parte das interpretações orbitava a ideia de que tais intervenções – e, aliás, a própria noção de “intervenção” o supõe – indicavam que este movimento pressupunha algum nível de anomalia da política".


O filósofo argentino, Héctor Saint-Pierre, tem uma visão particular de como olhamos para a formação dos países da América Latina. Em todos os países, em especial da América do Sul, observa-se as Forças Armadas forjadas antes do desenvolvimento dos diferentes países que as compõem. Como ignorar o papel político exercido pelos senhores das armas diante da história brasileira, fundada em golpes e intervenções militares?



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