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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

O som da subjetividade

Música

Multiartista Caju Mateus lança clipe em que ele anda de um lado para o outro atrás da própria sombra

Caju performa no clipe "Flecha". Foto: Thiago Rabelo/Divulgação


O som ecoa pelas caixas e nos convida a embarcar numa viagem pela subjetividade humana. A música certa faz um carro andar de madrugada sem gasolina.


Caju Mateus mandou ver no grupo goiano Retalha Vento uma musicalidade que unia samba, reggae, côco, ijexá e maracatu. A experiência, diz ele, foi enriquecedora e lhe desafiou bastante. “Todos os gêneros trabalhados apresentados a mim ali no momento fazem parte da minha trajetória”, afirma Caju, em entrevista ao Jornal Metamorfose.


Ele começou sua trajetória artística publicando zines e é difícil pensarmos o que Caju produz dissociado das experimentações que marcaram sua obra. É um tipo de arte que, por si só, acaba num diálogo com outras linguagens. No fim, há uma necessidade própria do projeto perambular pelos estilos mais improváveis. “Acho que sabendo costurar todas as linguagens podem conversar entre si, até mesmo as mais distintas.”


Essa simbiose, confluindo gêneros e linguagens a primeira vista distintas ou que não parecem ter nada em comum, alimenta o clipe de “Flecha”, primeira música de Caju lançada na última semana com apoio da Lei Aldir Blanc. Na obra, tudo converge: a imagem de Caju - com montagem do cineasta Lucas Wagner Nunes e fotografia assinada por Thiago Rabelo - mostra-o andando de um lado ao outro atrás de sua própria sombra.


Para o cantor, essa é uma forma de interpretar o Flecha. “As ideias iniciais para o que seria o “Flecha” eram muito ingênuas (talvez seja uma boa palavra) perto do que ele construiu até o final. Lembro de comentar com o Thiago (diretor de fotografia) e Lucas (roteiro e montagem) em uma das primeiras visitas à locação que poderíamos só pegar uma escada e me filmar de cima pra baixo no chão e no fim essa cena se tornou a cena com o drone, algo que sequer poderia ter passado pela minha cabeça no início”, relata.


Desde criança, Caju ouve música e desenvolveu uma relação íntima com a arte, mas começar a produzir não foi das tarefas mais fáceis. Ele define seu processo criativo como confuso, caótico, irritante e gostoso. E, claro, em constante reinvenção, auto-observação e coragem: é o estado da arte em compromisso com a subjetividade, com aquilo que faz de nós humanos para sentir a alma embevecida de poesia e lirismo, o que nunca é demais – se olharmos ao nosso redor.


Caju é categórico ao dizer que, em sua caminhada, a arte sempre lhe ajudou e lhe salvou dele mesmo e do mundo maluco. “Quer seja com confronto, a duros e exigentes desafios, quer seja com choro para aguar as terras secas, quer seja com abraço. Como a mão que provoca e alfineta, mas também acarinha, se for necessário”, reflete o artista.


Nesse sentido, ele continua, é possível acreditar que a arte também serve de “sábia companhia” para os outres – o repórter escolheu usar o pronome neutro, pois a linguagem precisa estar em consonância com a luta dos povos e atenta à diversidade. Caju, contudo, dispensa essa máxima de que ela seria um conto de fadas. “Arte também te ensina a morrer em vida. Com isso, acho que seria justo então, hoje em dia, a arte pode vir para alguns como facada e para outros como respiro.”


Voltando: o clipe toca num ponto interessante e complexo da subjetividade humana, a vulnerabilidade. Mas não vulnerabilidade no sentido da que usamos para machucar as pessoas queridas em momentos de fúria, e sim como força motriz às mudanças da existência. Caju então pergunta ao escriba: “sabe?” Será que sei? Ou finjo que sei?


“Nem sempre estamos disponíveis ou podemos estar disponíveis a ser vulnerável mas é importante não se enrijecer demais, senão adormece, para de sentir. É importante sentir. Ensina a ter coragem, eu acho. Vulnerabilidade também diz muito sobre coragem e compaixão. Às vezes me pego pensando que tá faltando muito no mundo de hoje, daí por quê não dar uma provocadinha?”, conta ele, entre risos.


E o processo de “Filho do Caçador”, como anda? “Ainda está em movimento e em produção, ainda não foi finalizado. Arô e Vento devagar estão apresentando suas vozes e agorinha, quando maturam o suficiente, aparecem pra continuar contando a história que o Flecha iniciou.”


É isso, a trilogia se faz presente e narra como quer ser construída, “Omo Odé”, como também pode ser chamada conta muito sobre mim e a minha vida, mas também é atravessada pelo momento e todo o conjunto até aqui. Então eu diria que, fundamentalmente, para criar essa trilogia foi preciso que eu vivesse tudo que vivi até aqui e estivesse disponível a me colocar vulnerável para olhar pra trás, pros lados e pra frente, entendendo cada pedaço dessa trajetória”, afirma.


A trilogia "Filho do Caçador" teve origem em um texto-manifesto que Caju escreveu com ousadia e experimentação artística. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.


Em tempo: você pode conferir o clipe abaixo



Ficha técnica:

Música (Criação, Composição, Gravação, Produção): Caju [@cajuindose]

Vozes: Caju [@cajuindose], Figueira Infinita [@figueirainfinita] e Larissa Sisterolli [@larissa.sisterolli]

Mixagem e Masterização: Diego Robert [@diegorobert_]

Performance: Caju [@cajuindose]

Direção, Direção Criativa e Idealização: Caju Mateus [@cajuindose]

Roteiro: Caju Mateus [@cajuindose] e Lucas Wagner Nunes [@lucas.films]

Direção de Fotografia: Thiago Rabelo [@wideawakn]

Montagem: Lucas Wagner Nunes [@lucas.films]

Produção: Larissa Sisterolli [@larissa.sisterolli]

Produção Executiva: Naila Souza [@p0rcina]

Operação de Câmera e Gimbal: Thiago Rabelo [@wideawakn]

Operação de Drone: Testa

Color Granding: Thiago Rabelo [@wideawakn]

Projeto e Design Gráfico: Caju Mateus [@cajuindose]

Social Media: Marinho [@talokamarinho]

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