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Obra mostra que só o povo pode salvar o próprio povo

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Sociólogo Tiarajú Pablo D’Andrea trás a visão da periferia em cenário pós-Covid


Sociólogo Tiarajú Pablo D’Andrea - Foto: Divulgação



O professor da Unifesp e coordenador do Centro de Estudos Periféricos (CEP), Tiarajú Pablo D'Andrea, lança o livro “40 ideias de periferia”. A obra é dividida em 40 tópicos, introduzindo historicamente como a periferia foi classificada por olhares externos. No livro, Pablo faz uma breve contextualização da história do Brasil desde sua redemocratização até os tempos atuais e, no final, busca trazer propostas sobre o que fazer nos desafios que enfrentamos atualmente.


E para saber mais como foi esse processo, o Jornal Metamorfose entrou em contato com o autor do livro para bater um papo sobre como foi escrever o livro. O livro está sendo vendido por R$9,90, preço popular sugerido pelo autor para democratizar o acesso à informação.


Tiarajú diz que foi um processo rápido, que foi escrito nos meses de junho e julho. Que foi um livro nascido da angústia da situação que estávamos enfrentando no meio da pandemia, de tantos mortos, isolados. “A gente está enfrentando um inédito isolamento físico e social. Eu acho que três motivações principais me fizeram escrever”, diz Tiarajú ao JM.


A primeira motivação, segundo ele, foi uma tentativa de sistematizar a história recente do Brasil vista pelas periferias. A segunda, era entender como tínhamos chegado nesse genocídio por conta da Covid-19 - na época em que o livro estava sendo escrito eram mais de 100 mil mortos oficiais pelos dados do governo federal e o ministério da saúde, hoje estamos chegando nos 180 mil. Então foi uma forma de entender quais foram os cenários que proporcionaram essa tragédia. E por último, seria propor soluções políticas e sociais para as periferias.


“Eu não sabia que seriam 40 tópicos, em algum momento eu decidi esse número. Mas eu não tinha planejado escrever esse livro. A força que me fez escrever foi toda aquela angústia que estávamos vivendo em maio e junho, e aí me veio a intenção de incidir na conjuntura por meio dessa angústia. Foi até uma forma de tentar me tranquilizar” afirma Tiarajú.


Segundo ele, uma das coisas mais interessantes que viu surgir na pandemia foram as redes de solidariedade. Foram iniciativas que surgiram de diversos setores das periferias, desde escolas de samba até igrejas evangélicas. “Eu acho que houve uma grande mobilização para ajudar quem mais precisava, os governos tomaram medidas muito pífias, tanto o federal quanto o estadual, por vezes até jogando contra, incidindo para que gente morresse", informa o estudioso.


Ele ainda diz que essas redes de solidariedade não podem substituir o estado, que devemos continuar pressionando para que ele cumpra suas obrigações, mas “que temos que torcer para que essas redes perdurem e se fortaleçam, não pode ser uma coisa que surja em um momento de dificuldade e depois desapareça”.


O pesquisador também comentou sobre o abandono do estado com a população carente. Que já estávamos nessa tendência: “Tem duas questões que são fundamentais para entender o Brasil contemporâneo: O desmonte do estado e das políticas públicas e o desmanche da sociedade salarial com o alto número de desemprego”.


"Então, a gente observa que quando há o entrecruzamento dessas coisas, corrosão das políticas públicas e fim da sociedade calcada nos direitos trabalhistas, a gente vai ter uma massa muito grande de pessoas que vai ficar sem referências”, afirma Tiarajú.


Essa população, diz ele, é fundamentalmente periférica, além de o processo estar ocorrendo no Brasil há algum tempo e se aprofundando nos últimos quatro anos, mas ao chegarmos na pandemia, no mês de fevereiro, o Brasil já vivia quatro crises. "Havia uma crise política por conta da polarização da sociedade, aumento do totalitarismo e descrença da população mais pobre em relação com a democracia, que é uma democracia liberal burguesa. Existia uma crise econômica expressa nos baixos salários, diminuição do consumo interno, na diminuição da renda e no aumento do desemprego”, explica.


“Tinha uma crise ambiental expressa pela forma como as pessoas moram, a gente pode ver dificuldades ambientais e sanitárias, e mesmo a crise da saúde com a expulsão de médicos cubanos, a PEC do teto de gastos. E uma crise social que é um somatório de tudo isso. Então, a gente chega na pandemia com essas quatro crises dadas. E essas crises abrem portas para que a pandemia e o coronavírus seja muito mais letal, e ele vai ser mais letal contra a população pobre”, arremata Tiarajú.

40 Ideias de Periferia

Autor: Tiarajú Pablo D'Andrea

Gênero: Ensaio sociológico

Preço: R$ 8,91

Obra pode ser adquirida aqui: https://www.amazon.com.br/s?k=9786588586013&i=digital-text


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