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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

Ode ao cinema

Cinema

Ao JM, Bárbara Paz, diretora do filme que vai representar o Brasil no Oscar em 2021, comenta processo criativo para fazer "Babenco"

Bárbara Paz conheceu Hector Babenco numa roda de amigos em Paraty (RJ) - Foto: Bob Wolfenson/ Divulgação


O cineasta Hector Babenco dirigiu filmes como “Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia”, “Pixote, a Lei do Mais Fraco”, “O Beijo da Mulher Aranha” e “Carandiru”, mas é com o documentário “Babenco” que afloramos nossa curiosidade em torno do universo e da obra dele: o filme é uma poesia visual que demonstra o olhar sensível de Bárbara Paz ao mostrar o amor que seu companheiro sentia pela arte cinematográfica.


A partir desse cuidado conhecemos a subjetividade de um homem que filmou até o final de sua vida – o diretor morreu em 2016 vítima de um câncer. Em 71 minutos, nos emocionamos com a imersão pela vida do cineasta, e isso encontra respaldo em uma estética fotográfica em preto e branco: ali Babenco se desnuda, reflete sobre a vida, revela seus medos e suas ansiedades num confronto entre vigor intelectual e físico.


Bárbara conheceu Babenco há dez anos numa roda de amigos em Paraty (RJ). Sem demorar muito, ela se encantou pelas histórias interessantes, vida intensa e humanismo que lhe era característico, mas também raro nos tempos atuais - de modernidade líquida. Ela só descobriu as fragilidades físicas dele após começar a amar o cineasta, iniciando as filmagens de “Babenco” depois de acudi-lo num hospital de Paris.


“Desde o início o Hector disse que a memória dele era em preto e branco”, diz a atriz e diretora em entrevista por telefone ao Jornal Metamorfose realizada na sexta (20). Escolhido na última semana para ser o representante do Brasil no Oscar em 2021, o longa estabelece um paralelo entre a arte e a doença de Babenco. “Fiquei com medo de não ter mais tempo com esse homem. Queria que as pessoas admirassem ele como eu admirava”.


Bárbara conseguiu. Ao longo da obra, temos a sensação de que estamos girando o trinco da porta para ingressar no sedutor mundo de Babenco. Do primeiro câncer, descoberto aos 38 até a morte, aos 70, o diretor transformou o cinema num remédio para atenuar as dores patológicas da existência, e no início chama atenção o momento em que a documentarista fecha a câmera sobre o rosto do esposo: vemos que se trata sobretudo de uma ode acerca da necessidade de filmar para não morrer.


“Acima de tudo é um filme de amor ao cinema, e mesmo quem não conhece a obra dele vai ter vontade de conhecer”, afirma a cineasta. Primeiro documentário a representar o Brasil no tapete vermelho de Hollywood na história, “Babenco” cai muito bem num período em que o audiovisual é agredido pelo governo de Jair Bolsonaro. “A política está fazendo com que os artistas sejam os vilões”. Então, crê Bárbara, faz sentido uma narrativa da realidade:“Estão consumindo cada vez mais documentário”.


Talvez por isso a jornada de “Babenco” mundo afora tenha sido tão premiada. Selecionado para mais de 20 festivais internacionais, o longa estreou mundialmente no ano passado durante o Festival de Veneza, onde recebeu os prêmios de Melhor Documentário da Mostra Venece Classics e Bisato D´Oro – láurea concebida pela crítica independente paralelamente à mostra. O filme foi exibido também no Festival de Havana, Festival de Mar Del Plata, além da Mostra de Cinema de São Paulo, Mostra de Tiradentes e Festival do Rio – estes três últimos eventos tradicionais no País.

“Recebemos com enorme alegria a escolha do “Babenco” pra representar o Brasil na corrida pelo Oscar. Ao mesmo tempo que é uma enorme alegria, é uma enorme responsabilidade. É uma disputa com os melhores 80, 90 filmes do ano... Faremos essa campanha com muita dedicação e orgulho. Temos um filme lindo e muito especial nas mãos”, comemora o coprodutor Fabiano Gullane.


Como dizia o crítico Ismail Xavier: Babenco lançou uma nova maneira de representar os problemas sociais brasileiros. E “Babenco”, o filme, preocupa-se em manter vivo esse aspecto da cativante personalidade do cineasta. É uma comovente homenagem a um homem que amou o cinema, eternizando seu pensamento, seu personagem e sua obra, em resumo: é um poema de amor, para a vida, para a morte e, especialmente, para o cinema – viva o cinema.


‘Babenco’


Direção: Bárbara Paz

Gênero: Documentário

Duração: 70 minutos


Estreia dia 26 deste mês nos cinemas, mas não em Goiânia: salas estão fechadas por causa da Covid-19


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