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  • Gabriell Araújo

Os capacetes azuis sujos de vermelho sangue

Notas sobre a atuação de alguns soldados em missões de paz

Foto: MINUSCA/ONU


Os soldados das tropas da Organização das Nações Unidas (ONU) que vão até regiões de conflitos ou pós-conflito são denominados de capacetes azuis, seu objetivo é claro, assegurar a paz nestes territórios. Composta por militares, policiais e civis de 120 países distintos, as missões de paz são proprietárias de um lindo discurso de avenças. Entretanto, nem eles escapam da imoralidade, afinal são recorrentes os casos de abuso sexual nos quais mulheres e até crianças são alvos.


De antemão, acredito que seja necessário esclarecer desde já, por mais óbvio que seja, que em momento algum eu acuso todos os 90.000 mil soldados que compões as tropas da ONU. Os abusadores que se aproveitam de pessoas em momentos e locais de altíssima fragilidade são monstros, mas não são regras. Ser casos de exceção não santifica nenhum soldado, nenhuma missão ou nenhum país.


O objetivo aqui é de relembrar uma série de acontecimentos que já foram relegados ao esquecimento, além de sempre manter acesa a chama da desconfiança em relação a qualquer organização que afirme continuamente seu compromisso com o íntegro. Contudo, há uma afluência de problemas ligados aos interesses das potências mundiais que integram a Organização das Nações Unidas, entretanto não as abordarei no momento, acusações de abuso sexual já são doses de revolta mais que o suficiente por ora.


Como ousamos esquecer, mesmo que por um momento, das crianças em situação de rua que foram abusadas na República Centro-Africana por soldados que constituem as tropas das Nações Unidas. O caso aconteceu há quase exatos quatro anos no dia 23 de junho de 2015. É claro que isso é uma enorme violação dos princípios da ONU, mas infelizmente não se trata de um caso isolado, afinal, até onde sabemos o crime pode ter ocorrido desde 2014 e é apenas um entre as 51 denúncias desse tipo de abuso de 2008 a 2013, divulgados em um documento emitido pela própria organização.


Seria interessante se a ONU tivesse a firmeza de investigar e punir os indivíduos, mas na verdade estamos lidando com uma organização que demora de forma demasiada para realizar suas investigações que configuram um sistema de verificação, avaliação para que só então possa acontecer a punição. Um processo longo e demorado que poderia ser reduzido caso seja tratado com a urgência e importância que a ocorrência exige.


Seria ainda mais interessante se Kathryn Bolkovac não tivesse sido demitida de seu cargo na ONU após identificar oficiais que participavam do tráfico de mulheres na Bósnia há quinze anos, provando que os eventos não são novidades, mas sim acontecimentos históricos que são responsáveis por umas das várias manchas que sujam a imagem das Nações Unidas.


Por fim, tenho a insatisfação de dizer, que seria ainda mais interessante se as Nações Unidas não tivessem recebido 64 novas acusações de exploração e abuso sexual entre julho e setembro de 2018, provando que além de reincidente o problema nunca foi resolvido de verdade a ponto de as punições serem temerosas ecoarem nos corredores da organização.

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