Lee Aguiar
Outrora é tarde demais
Doce Viagem

Foto tirada no lugar em que chamo de lar, durante processos pandêmicos de 2020 - J.Lee/Arquivo Pessoal
O embargo em minha voz pode soar como trovejadas de lágrimas engasgadas. Em todo caso, escondo meus rios por de trás daquela janela que dá para o reflexo do mundo. Apostaria uma moeda com seu Zé de que Santa Teresa continua um acaso.
Às vezes me pergunto o que acontece quando uma pessoa cai no abismo de si mesma, também me questiono se ao navegar bravamente pelo universo que me habita me torno tão corajosa quanto um marinheiro calejado.
Tenho medo de não conseguir peitar minhas próprias tempestades. Chuvas ácidas corroem as vísceras que correm como areia no fundo do oceano, em busca de algo que as estacione em um ponto qualquer. Não me cabe a maresia.
Sabe aqueles dias que suas próprias perguntas lhe mandam a merda só para rir de você dizendo que esteve nela o tempo inteiro? Pois é, há dias e noites de guerra. Batalhas incansáveis em mim mesma buscando a serenidade de uma janela para o acaso. Não sei ainda consigo transbordar em mim.
Quando sufoco para onde vou?
Há um peito que ainda bate pulsante em minhas entranhas. Há um sonho que ainda me guia para as tempestades de um caminho sem volta. Ainda existe amor nos tempos de fúria e sangue em minhas mãos.
O contraditório da contradição seria o oposto do que vivemos?
Não irei continuar essa carta para mim mesma pois não suporto o enjoo das ondas que me tomam por dentro. Porém, continuo voando pelos ares que me levam para o suspiro de um segundo de sincronia.