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  • Juliana Camargo

Patriarcado: um sistema que oprime e mata

Feminicídio

Após casos recentes e índices alarmantes de violência contra mulher, movimentos feministas pelo mundo tomam as ruas em protestos contra o patriarcado

Foto: Protesto Cidade do México - @Bwithacamera

A política do estupro e de culpabilização das vítimas, a hipersexualização e mercantilização dos corpos femininos são fenômenos mundiais, em que o patriarcado é uma engrenagem vital dentro do sistema político-econômico-civilizatório. A opressão e o confinamento de gênero a espaços específicos, como o doméstico, é vital para a reprodução desse sistema, seja em termos de mão de obra, de consumo ou de desempenho de funções específicas.


Nos Estados Unidos, por exemplo, na primeira metade do século XX, as mulheres foram incentivadas a sair de casa e adentrar o mercado de trabalho devido ao baixo contingente de mão-de-obra, já que a maioria dos homens iam para as guerras. Na idade média, mulheres que utilizasse algum método contraceptivo era condenada e morta por bruxaria, pois em um continente marcado pela peste negra, era necessário a constante reprodução da população para obtenção de mão-de-obra. Até mesmo John Locke, pensador que deu as bases para se erguer a concepção liberal, incluiu a mulher nos seus tratados como propriedade e não como indivíduo detentor natural do direito a ter propriedade privada.


Tal sistema, que exclui, oprime, violenta e mata, faz milhares de vítimas todos os dias. De acordo relatórios mais recentes da ONU (Organização das Nações Unidas), somente em 2017, 87 mil mulheres foram mortas vítimas de feminicídio. Ainda segundo a organização, em termos de distribuição geográfica, as Américas e a África são as regiões que lideram o ranking de casos de violência de gênero, sendo considerados os locais mais perigosos para mulheres, fora de uma zona de guerra.



Violência de gênero e protestos pelo mundo


Nas últimas semanas, o México e a Cidade do Cabo, na África do Sul, protagonizaram casos de violência contra mulher que desencadearam diversos protestos pelo mundo. Apesar de pouco noticiado na grande mídia, os casos tiveram grande repercussão nas redes sociais e levantaram discussões sobre violência de gênero, cultura do estupro e feminicídio.


No México, o movimento feminista “A Revolta da Purpurina Rosa” tomou as ruas após uma denúncia feita no último dia 3 de agosto por uma menina de 17 anos. A jovem voltava pra casa quando uma viatura da SSC-CDMX (Secretaria de Segurança Cidadã da Cidade do México) a parou duas quadras de sua casa. Quatro policiais a obrigaram entrar no veículo, e a estupraram, algumas testemunhas viram a jovem em choque após o ocorrido e a cara dos policiais.


Quando a família da vítima protocolou o caso na delegacia, Jesús Orta Martínez que é titular da Secretaria de Segurança Pública da cidade do México, disse em coletiva de imprensa que os policiais não seriam afastados do caso por não haver “imputação”, justificando que seria uma violação de seus direitos trabalhistas. Com o abafamento do caso, e consequentemente o silêncio das investigações, diversos coletivos feministas convocaram protestos na cidade do México.


A cada quatro minutos uma mulher é estuprada no México, os crimes de abuso sexual cresceram cerca de 20% em 2019, e 90% dos casos não são solucionados e os culpados continuam livres. Entre 2015 e 2019, 18 estados dos 35 totais entraram no Alerta de Violência de Gênero contra as Mulheres, divulgado pelo governo mexicano como lugares “perigosos para o sexo feminino”.


A violência contra mulher também é um problema grave enfrentado na África do Sul. Segundo o grupo África Check, o país ocupa a quarta posição entre os lugares mais perigosos para as mulheres. Estima-se que cerca de oito assassinatos e mais de cem estupros são cometidos diariamente na região. Dados de ativistas locais ainda revelam que a cada três horas uma mulher é morta no país.


Entre os números alarmantes, dois casos ocorridos recentemente chamaram a atenção. O primeiro, foi a da jovem Uyinene Mrwetyana, de 19 anos. Ela foi estuprada e assassinada em uma agência de correios, em 24 de agosto. Dias depois, a boxeadora Leighandre Jegels foi morta a tiros pelo ex-namorado. Após os casos, milhares de mulheres compartilharam em suas redes sociais o medo de serem violentadas. Movimentos feministas também protestaram pelas ruas da Cidade do Cabo, pelo fim da violência contra mulher na África do Sul, impondo pressão no governo, que por sua vez, prometeu tomar medidas para conter o problema no país.


O cenário brasileiro não se difere muito dos casos citados. Dados do Ministério da Saúde revelam que em 2018, foram registrados 145 mil ocorrências de violência contra mulher. Ainda segundo o órgão, a cada quatro minutos, uma mulher é agredida por um homem no país. O estudo considera os casos de violência sexual, física e psicológica, em que as vítimas sobrevivem. Em relação aos índices feminicídio, de acordo com o Atlas da Violência de 2019, o Brasil concentra 40% casos registrados na América Latina e Caribe. Segundo o estudo, no ano de 2017, houve o assassinato de 4.963 mulheres.


Assim, conforme evidenciam os indicadores, não há lugar seguro para mulheres e não haverá, enquanto o modelo de sociedade continuar sendo movido e alimentado pela opressão de gênero, em um sistema patriarcal, machista e misógino. É preciso que se pense em políticas eficazes visando erradicar as desigualdades e violência de gênero. Afinal, quantas mais precisarão morrer?

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