Dayla Dias Gomes
Perfeitamente normal
Gotas de Acidez
A Polícia Civil fez uma chacina e matou vinte e uma pessoas em Jacarezinho, e o dia seguiu normalmente no Brasil. A Polícia Militar matou Marcus Vinicius com o uniforme da escola e, depois ao longo dos anos, matou várias outras crianças e no Brasil tudo seguiu normalmente. A Polícia Rodoviária Federal matou um homem dia 25 de maio em uma câmara improvisada de gás e tudo segue perfeitamente normal. Me faltam palavras para dizer o óbvio. É cansativo ter que dizer o óbvio. Poderia dizer muita coisa, poderia falar dos grupos de extermínio que se espalharam como uma peste pelo país. Poderia falar do constante genocídio da população preta. Mas o que dizer? Chegamos a um ponto onde a palavra nazismo é ouvida quase todo dia. Vivemos um governo onde um dos vários secretários de cultura que passaram pelo governo fez uma homenagem sinistra ao ministro da propaganda nazista.

Ex-Secretário da Cultura, Roberto Alvin, fazendo cosplay de marketeiro de Hitler, Joseph Goebbels. Data: 17.01.2020 Durante esse período o presidente da república bebeu leite em uma live fazendo um aceno a neonazistas.

Bolsonaro tomando copo de leite durante live presidencial. Gesto é um símbolo nazista. Data: 28.05.2020
Meses depois, em uma roda de conversa de um dos programas mais assistidos da internet, um apresentador muito popular entre o público jovem e um Deputado Federal defenderam a institucionalização de um partido nazista no Brasil. O único contraponto deles nessa conversa foi uma deputada que é conhecida por muitos como a Margaret Thatcher tupiniquim.

Programa Flow com Tabata Amaral, Kim Kitaguiri e Monark. Data: 10.02.22
"Deus, pátria e família", lema do integralismo - que é uma versão brasileira do nazismo - é a frase que mais sai da boca do Presidente e seus apoiadores. Semanas atrás vi a notícia de neonazistas armados atacando um bar. Tivemos um genocídio com mais de 700 mil mortes e agora nós temos nossa própria câmara de gás. O que mais falta? Não vou ser hipócrita, antes do governo Bolsonaro, nós não vivíamos nos panfletos de testemunhas de Jeová.

Panfleto Testemunha de Jeová. A política de extermínio vem desde de antes da Ditadura Civil-Empresarial-Militar (1964-1985), mas o extermínio indígena se intensificou durante esse período, bem como operações de extermínio da população LGBT+, representada pela operação tarântula que matou um número desconhecido de travestis.
Nossa nação está acostumada a comer uma tragédia diferente toda manhã. Nós fomos tão entorpecides com a dor que não sentimos mais nada. Quer dizer, a maioria de nós… A falsa democracia liberal burguesa é tão genocida quanto a ditadura foi poucas décadas atrás e, como essa atual ditadura está sendo.
Não se iluda pensando que estamos em qualquer retalho de democracia, essa se um dia existiu no Brasil, foi só um projeto natimorto. E digo isso com a seguinte indagação, qual é a democracia onde torturadores foram anistiados e onde toda a estrutura de repressão se manteve quase intacta? O que fazer quando o perfeitamente normal é a barbárie?