Victor Hidalgo
PING PONG & DRAMA: Manga nacional é sucesso no Catarse
Cultura
Obra de Hataoh foi financiada com sucesso e mais que dobrou sua meta
Quando falamos de mangas ou animes de esportes no Brasil uma das primeiras obras que surge na mente dos brasileiros é Super Campeões (Captain Tsubasa), contando a história de Oliver Tsubasa como jogador de futebol e sua relação com seus companheiros de equipe e adversários.
Eu, particularmente, gosto muito de outra obra que abrange esportes e relacionamentos, com pitadas de slice of life e muito drama: Hajime no Ippo. Conta a história de Ippo Makunouchi, um jovem de 16 anos, muito tímido, que trabalha com sua mãe em uma loja de aluguel de barcos, e acaba entrando de cabeça no mundo do boxe.
Porque abro essa matéria falando dessas duas obras? Bom, aqui no Brasil temos um trabalho similar sendo desenvolvido que me chamou muito a atenção, que também trabalha com essa temática de esportes: PING PONG & DRAMA, do mangaká prodígio de apenas 19 anos, Hataoh. E foi com ele que conversei um pouco sobre sua obra, que já bateu a meta no site de financiamento coletivo Catarse, e como entrou nesse mundo.
Em apenas dez minutos a meta de quatro mil reais foi batida no site. E hoje já conta com mais de 520% do seu projeto financiado, com mais de R$23,000 reais arrecadados, ainda com nove dias de campanha restando na data da publicação dessa matéria.
A história do quadrinho nacional de Hataoh, segundo sua campanha no Catarse, se passa na Escola Fundamental Santa Cloro, uma escola como outra qualquer: chata, entendiante e pronta para destruir a criatividade de seus alunos. Mas isso dura apenas até a hora do recreio, quando a verdadeira face dessa escola vem à tona, a paixão de todos os seus estudantes por PING PONG & DRAMA.
Porém, tudo isso está para mudar com a chegada de um estranho aluno novo. João Grande, em seu primeiro dia na escola, derrota uma terceiro-anista num 3-0. E derrota após derrota, fez com que os alunos de Santa Cloro perdessem a vontade de Jogar.
Com um plot clássico de shounens, essa história me chamou a atenção. Ainda mais, por eu ser um grande entusiasta de pingue-pongue nos meus anos de escola pública na cidade de Guarulhos, tenho um carinho especial para essa obra.

PING PONG & DRAMA - Arte de Hataoh, divulgação.
“Eu sempre gostei de desenhar e de criar histórias desde pequeno, era algo que eu sentia que eu fazia bem e acabei não deixando isso de lado a medida que eu fui crescendo. É meio difícil de se pegar um ponto em específico de quando eu comecei a de fato entrar nessa área, porque parece que de alguma forma eu sempre estive nesse meio, mas imagino que o que ligou uma chavinha para realmente tentar trabalhar com isso de alguma forma foi quando eu criei meu twitter e comecei a trabalhar como freelancer fazendo commissions” fala Hataoh em entrevista ao Jornal Metamorfose sobre como começou sua carreira como artista.
Commisions literalmente significa comissão. Os artistas independentes realizam trabalhos sobre encomenda com essa denominação, cotando um valor e conversando com o cliente como ele deseja sua arte (que costuma ser para um canal, presente, entre outras coisas).
O autor diz que sempre quis trabalhar com ilustração, que nunca teve uma fase na sua vida que pensou que isso não seria para ele. Que desde que era pequeno, seu objetivo sempre foi trabalhar nessa área.
E sobre suas inspirações para escrever esse manga? Hataoh explica que “A culpa de eu ter escolhido esse tema foi por causa das minhas experiências na escola aonde eu jogava pingue-pongue com meus amigos, e é até engraçado quando lembro disso porque acaba passando uma vibe muito mais natural para a história, a meu ver” finaliza.
Ele continua dizendo que colocou muito de si em seu trabalho, como colocar detalhes que no fim acabam se tornando familiares, tanto para ele quando para quem lê. Tanto que, segundo ele, acaba recebendo muitos comentários comentando sobre como o seu quadrinho lembra muito a sensação de como era jogar pingue-pongue na escola.
Mas nem tudo são flores, ser artista independente no Brasil não é uma tarefa fácil. Mas o Catarse tem sido uma grande ajuda para esses criadores.
“Honestamente, ser um artista independente hoje é bem difícil, mas ver o sucesso da campanha do Catarse ascendeu um fiozinho de esperança para que as coisas venham a ser melhores no futuro. E já engatando o assunto sobre o Catarse, rapaz, eu não fazia ideia mesmo do quão bem a campanha iria se sair. Quando a meta de 4000 bateu em menos de 10 minutos eu simplesmente não tive reação” Diz o mangaká sobre sua campanha de financiamento coletivo no site do Catarse.
E sobre outros artistas usando a plataforma para seus projetos, ele continua dizendo que é positivo ver diversos quadrinistas utilizando a plataforma como ele usou, e como é inspirador acompanhar o trabalho desses artistas, além de sua paixão por mangas.
Perguntado sobre como alguns artistas acabam encarando o estilo de manga utilizada por diversos artistas brasileiros (como os trabalhos da autora Iara Naika em 48km e do autor Panda de Capa em Rei de Lata), ele diz:
“Sempre tem um ou outro candango que acaba desmerecendo o nosso trampo por justamente ter essa pegada mais "manga", mas é aquilo, tamo ai fazendo o que gostamos independente de qualquer coisa, no fim das contas é isso que importa” Finaliza Hataoh.
E sobre o mercado de quadrinhos nacionais? Ele tem uma mensagem positiva para passar aos jovens quadrinistas.
“Eu sinto que estamos numa ótima hora para produzir quadrinhos nacionais, tanto em um estilo mais manga quanto qualquer outro, porque sério, o tanto de editoras e estúdios que estão aí só de olho em materiais de qualidade não está no papel. E isso por si só já dá uma esperança de que no futuro, que tudo isso vá ainda mais longe” encerra o autor.
Esse não é o primeiro trabalho de Hataoh. Em 2020 lançou a webcomic “Você Vê Fantasmas” pela plataforma Tapas, com 7 capítulos publicados. Conta a história de Joe, um garoto que vê constantemente fantasmas, e eles não são tão interessantes quanto fazem a gente acreditar.
Onde encontrar e publicar quadrinhos?

Plataforma de quadrinhos Tapas - divulgação
A plataforma Tapas é um sindicato de webcomics criada pelo empresário sul-coreanos Chang Kim em outubro de 2012. E tem como objetivo criar uma plataforma onde ilustradores de quadrinhos possam publicar sua arte sem pagarem um custo adicional. Diversos artistas nacionais usam a plataforma para divulgar o seu trabalho, como os já citados Hataoh, Iara Naika, Panda de Capa e Silva João, com sua obra HQ de Briga.
O app está disponível na Google Play e App Store, e é compatível com todos os aparelhos.