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Plebe vivíssima

Música


Banda Plebe Rude conta a história da humanidade em disco conceitual


Da esquerda à direita: André X, Phillipe Seabra e Clemente - Foto:

Breno Galtier/ Reprodução


Ligue a vitrola, ou dê play no Spotify, se você é da nova geração, e ouça a música Até Quando Esperar. Imagine estes versos em plena abertura política, após a eleição de Tancredo Neves, em 1985: “Não é nossa culpa/ Nascemos já com uma benção/ Mas isso não é desculpa/ Pela má distribuição/ Com tanta riqueza por aí/ Onde é que está, cadê sua fração?” São palavras contestadoras, são revoltadas, são descontentes… São, na verdade, trechos de um clássico do rock nacional de autoria da banda brasiliense Plebe Rude.


A Plebe (como o grupo brasiliense é carinhosamente chamado pelos fãs) retorna ao mercado fonográfico com o disco Evolução, Volume 1, o primeiro desde Nação Daltônica, lançado em 2014. E o quarteto - um dos expoentes da cena do rock de Brasília na década de 1980 - volta com um álbum conceitual, que está disponível nas plataformas de streaming. Escutar as 14 músicas que fazem parte do projeto é um convite para passear pela história da humanidade desde o Império Romano até o Iluminismo, o que por si só é irrecusável nestes tempos nada racionais.


Ao longo do disco, os termos “descoberta do fogo”, “romanos”, “era do bronze”, “inquisição”, “cruzadas” e nomes de personalidades que estão com presença garantida nos livros de história, como Galileu, Copérnico, Cabral, Colombo e Gutemberg, dão um tom nada modesto às faixas. Em Um Belo Dia em Florença, a letra aborda a “perspectiva da pintura e a eternidade da escultura” promovidas pelo Renascimento. A Queda de Roma e Descobrimento da América possuem ainda títulos instigantes e pouco usual no rock.


Mas o discurso político não é necessariamente uma novidade para a Plebe. Desde o descaralhante primeiro disco O Concreto Já Rachou, de 1985, que marcara a estreia dos brasilienses com sete faixas de um pós-punk conscientizador, o grupo bate na mesma tecla: as mazelas sociais. Por que, então, o caminho trilhado em Evolução, Volume 1 seria diferente, não é mesmo? A verve rebelde, descontente e enérgica do grupo está presente no novo trabalho, e isso é tão necessário para o rock quanto urgente para os fãs.



Plebe na década de 1980 - Foto: Acervo histórico da banda/ Reprodução


Duas facetas sonoras, inclusive, podem ser facilmente diagnosticadas pelo ouvinte sem esforço algum: a firmeza do rock insurgente do LP O Concreto Já Rachou com uma pegada mais acústica, marca registrada do segundo disco, Nunca Fomos Tão Brasileiros, de 1987. Embora o Evolução, Volume 1 seja inusitado, há momentos em que esse fator chega às raias da loucura, como em Descobrimento da América. A harmonia e os arranjos soam monótonos em seus 10 minutos (pra um rock cru?), a mais longa de todo o disco.


Com uma musicalidade crua e direta, a Plebe Rude é uma banda que optou no novo disco por letras intensas em detrimento à qualidade instrumental. Na panfletagem sonora Evolução, faixa que abre o disco e cujos versos falam sobre um cara que “inventou a arma e descobriu o poder”, há a participação certeira do comentarista esportivo Walter Casagrande, onde ele diz que “foi neste dia que o homem prestou contas pelo seu mal”. Nada mais singular.


Formada em 1981, a Plebe conta com apenas dois membros originais: o vocalista e guitarrista Philippe Seabra e o baixista André X. Desde 2004, os músicos têm a companhia do guitarrista Clemente, que divide a carreira na banda brasiliense com a liderança do grupo de punk Inocentes. Neste formato de supergrupo de rock and roll, Philippe, André e Clemente se completam com o baterista Marcelo Capucci.


Evolução, Volume 1 tem a pretensão arriscada - mas certeira - de contar a história da humanidade até o século XIX. O segundo disco, que deve chegar às plataformas digitais ainda neste ano, possui mais 14 músicas que focam na evolução tecnológica do século XX. Com 39 anos de estrada, a Plebe Rude está fazendo um rock sóbrio, necessário e inteligente.

Vale a pena ouvir o novo disco conceitual do grupo. Ouçam.


Ficha Técnica

‘Evolução, Volume 1’

Banda: Plebe Rude

Gênero: Pós-punk

Gravadora: Independente

Disco disponível nas plataformas de streaming



Capa do novo disco - Foto: Divulgação

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