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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

Poesia das ruas

O Quê Ler?

Poeta goiano perambula pelas narrativas do cotidiano em livro inspirado pela poesia beat de Lawrence Ferlinghetti e Allen Ginsberg

Poeta Rico Lopes cantarola poesia urbana de Goiânia em seu novo livro - Foto: Alysson Wynfrith/ Divulgação


A poesia contemporânea é a cidade-metrópole. Ou a metrópole é a própria poesia.


Walt Whitman cantarolou o ritmo da sinfonia dos versos livres em Nova Iorque pós-Guerra da Secessão, na década de 1860. García Lorca bateu perna pelas ruas da mesma cidade, nos anos 1920. Baudelaire perambulou por Paris, no século 19, atrás da síntese da poética moderna - como percebeu o filósofo Walter Benjamin.


E é essa alma das ruas que embala a obra “Rifle”, que será lançada hoje, às 19h, pelo Selo Naduk da NegaLilu Editora, com apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura - a obra já está em pré-venda e as entregas serão feitas a partir de amanhã. Nas andanças em busca do coração urbano de Goiânia, o poeta Rico Lopes, 27, afina sua mira poética ao se abrir para as possibilidades de contato com narrativas disponíveis num passeio qualquer, e você logo vê que há beleza no trivial do cotidiano.


“Eu me punha a caminhar pela cidade de forma atenta, observava as pessoas caminhando na calçada, entreouvia conversas nos estabelecimentos, imaginava diálogos entre os passantes, prestava atenção na arte urbana, fotografava cenas ordinárias ou inusitadas... Depois dessa imersão, sentava e ia escrever as epifanias que me inundavam”, relata Rico em entrevista ao Jornal Metamorfose.


A torrente poética provocada pelo fluxo da cidade é o que nos embevece à medida que as páginas de “Rifle” vão sendo viradas, e a paisagem urbana passa a se fazer presente nas esquinas, nos bares, nos lugarejos: estamos diante de um registro amoroso pra ser lido enquanto se caminha na companhia de imagens poéticas que limpam nossa visão.


Na obra, que tem 109 páginas, a poesia está em todo canto: nas fotos impressas em preto e branco, nos textos que nos remetem a Allen Ginsberg, na sensibilidade herdada de Lawrence Ferlinghetti... As imagens, vale dizer, delimitam a publicação em três “áreas sensíveis”. Rico conta que seu processo de escrita se desenvolveu junto com o gosto pela fotografia móbile. “Eu era apaixonado pela ideia de empunhar um celular em qualquer lugar e fazer o registro de alguma beleza que me assaltasse”, confessa.


Então ele idealizou, em 2016, a conta @maisumrico no Instagram a fim de usar a rede social como uma plataforma para compartilhar essas fotos. Durante os processos criativos, que começaram de maneira independente, as duas linguagens passaram a caminhar juntas, de forma coesa, e houve um momento no qual a foto lhe inspirava a pensar numa estrofe que rapidamente se tornava legenda. “Assim, eu queria fisgar em todo canto, nas imagens ou nas letras, a poesia que habitava a rotina”, diz o poeta.


Por isso, no momento em que a editora, escritora e jornalista Larissa Mundim fez a sugestão de incluir as imagens no miolo de “Rifle”, Rico ficou muito contente. O motivo? “Elas haviam tido papel fundamental no meu processo de escrita e, portanto, fazia sentido que parte do meu acervo permeasse o livro”.


Autor de contos publicados em antologias da NegaLilu desde 2016, Rico há um tempo lia mais poesia que prosa, e consequentemente estava rascunhando na maioria das vezes em verso. No entanto, ele relata que a virada decisiva para a criação de “Rifle” foi um processo de análise, pois desde pequeno se via como clandestino por ser gay. “Na infância eu não sabia nomear, mas havia no meu corpo, no meu jeito de andar ou falar, uma inquietação que era lida pelas janelas do mundo como algo que deveria ser lançado fora. Uma mancha que borrava o quadro, eu não cabia em mim”.


Então Rico, que também é psicanalista, descobriu nos beats uma espécie de efusividade e foi imediatamente atraído pelo ímpeto transgressor deles. “Não eram ingênuos quanto às mazelas da nossa sociedade, pelo contrário, eram críticos do American Way Of Life”, afirma ele, que é fã de Ferlinghetti, fundador da City Light Books, livraria e editora de São Francisco (EUA) responsável por publicar a obra dos beats, além de ter sido o lugar no qual Ginsberg leu pela primeira vez “Uivo”.


“Lia Lawrence tentando apreender o método: os longos poemas, as longas listas, as observações do cotidiano de uma maneira não convencional, um louvor à uma idílica América mais democrática que nunca, amor e fuligem na mesma estrofe. Tudo isto de alguma maneira respingou no “Rifle”’, arremata. Como atestou a escritora Cássia Fernandes no posfácio da obra: “O livro de fato nos recarrega de beleza, de beleza não óbvia das metrópoles”. Exatamente como os beatniks.


Serviço:


‘Rifle’

Autor: Rico Lopes

Quando: hoje, às 19 horas

Onde: @negalilu @negalilueditora no Facebook e Youtube

Preço: R$ 25,00

Onde comprar: nas livrarias O Jardim (@o.jar.dim) e na Livraria Palavrear. Também disponível na loja on-line da NegaLilu Editora: www.negalilu.com.br




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