Júlia Aguiar
“Precisamos lutar por uma casa de acolhimento LGBTQIA+”, afirma candidate a vereador(a)
Eleição 2020
JM entrevista Ed Marte (PSOL), candidate LGBTQIA+ a vereador(a) em Belo Horizonte

Ed Marte é transvestigeneri, candidate a vereador(a) em Belo Horizonte pelo PSOL (50.024). Foto: Beth Freitas
Foram 329 mortes de pessoas LGBTQIA+ no Brasil no ano passado, uma pessoa a cada 26 horas, segundo os dados do Grupo Gay da Bahia. Só nos últimos 3 anos foram mais de 24 mil casos de violência registrados, afirma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O Brasil ainda é um país muito violento para pessoas LGBTQIA+ viverem, sendo o país que mais mata transexuais e travestis do mundo, segundo levantamento da ONG Trans Right.
“Homens brancos e heteros estão há muitos anos nesse sistema político, que é excludente, que foi criado exatamente para excluir nossos corpos”, explica u candidate a vereador(a) de Belo Horizonte, Ed Marte (PSOL), em entrevista ao Jornal Metamorfose.
Usaremos o pronome neutro durante toda a reportagem por Ed ser uma pessoa não binárie e transvestigeneri, como elu mesmo afirma.
Artista, performer e educador popular, Ed Marte é ativista pelos direitos humanos, e sua principal bandeira é a luta LGBTQIA+. “Trabalhei muitos anos em unidades de medidas sócio educativas com adolescentes, com oficinas de vídeo e fotografia, e com questão de identidade e gênero dentro dessas oficinas”, conta u candidate.
Ed Marte sempre abordou questões de gênero e identidade em suas performances e apresentações, levando o tema para várias cidades brasileiras. “Eu sempre fiz política com minha arte, com o teatro, cinema e com o corpo que também é político. Porque todas as corpas são políticas, em todos os lugares em que esses corpos transitam”, afirma em entrevista ao JM.
Belo Horizonte é a capital do estado de Minas Gerais, com mais de dois milhões de habitantes e 122 anos de história. Uma cidade extremamente diversa, que pulsa arte e vida por suas ruelas charmosas. Porém, BH ainda é uma cidade violenta contra os corpos LGBT. Marte conta que no último carnaval houve um caso de uma travesti brutalmente agredida. Segundo u candidate, a capital não é tão violenta como outras no Brasil, entretanto muitas corpas ainda sofrem violência cotidianamente.
“A gente quer uma cidade em que as pessoas possam ser livres para ser o que quiserem ser, na sua identidade real, e que possa ser seguro. Nossas corpas sofrem ainda muita violência, tanto as mulheres e pessoas LGBT”, diz Ed ao JM.
Ed Marte é filiade ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), e em 2015 ajudou a criar o Coletivo Muitas. Já nas eleições de 2016, Ed concorreu com mais 12 pessoas, com duas eleitas, foi quando surgiu a Gabinetona. Um mandato coletivo e aberto para a cidade, se tornando referencia de política pública em toda América Latina, “com várias corpas e movimentos sociais”.
Foi em 2016 que Ed concorreu pela primeira vez ao cargo de vereadore, sendo a quinta mais votada na época e se tornando terceiro suplente.
Propostas

Foto: Reprodução/Arquivo do candidate a vereadore na cidade de Belo Horinzonte.
A campanha de Ed é pautada nos direitos da comunidade LGBTQIA+, elu conta que é necessário criar políticas públicas para uma retomada de direitos negados em muitos anos de opressão.
Marte se afirma anticapitalista, e explica ao JM que muitas das coisas que estão erradas no mundo estão interligadas ao capitalismo. “Espero que a gente possa viver em um mundo mais coletivo e solidário. Plantar para poder comer, distribuir e alimentar as pessoas. É um sonho, acho que em um futuro próximo, estamos lutando por isso”.
Para elu, sua candidatura visa ocupar o espaço do poder público de forma coletiva. E através da escuta ativa, entender as demandas dos movimentos sociais para depois consolidar projetos de políticas públicas. Elu conta que para isso será consolidado o LabPop, um espaço para receber as pessoas em audiências públicas e prestações de serviços nas praças da cidade.
“A gente espera conseguir eleger mais das nossas nessa eleição, para conseguir uma bancada maior na câmara, a gente espera chegar de bonde para ocupar. Temos aqui na câmera de BH uma maioria da bancada fundamentalista, com pastores e católicos, sempre com pautas conservadores, com leis ridículas e opressoras”, conta Ed ao JM.
Para u candidate, já existem muitas leis e regras. “Precisamos fiscalizar as leis que já foram criadas e não são cumpridas, além de redirecionar as verbas, e que o povo possa participar desse processo”.
Uma das principais propostas de sua candidatura é a criação de um conselho municipal LGBTQIA+. O projeto inclusive já foi colocado anteriormente em pauta pela Gabinetona, porém rejeitado pela bancada fundamentalista da cidade. “Assim como já existe conselho de cultura e educação, precisamos de um conselho LGBT para que a população possa pressionar os políticos para mais políticas públicas para essa comunidade”, explica.
Outra proposta é a criação de casas de acolhimento para a população LGBTQIA+, “temos como pressionar e investir emendas para ter a construção dessa casa. É uma demanda muito grande dos movimentos aqui da cidade”, explica Ed. Além de incluir nas escolas municipais uma educação que inclua questões de gênero e sexualidade, “em muitas escolas os profissionais não conseguem lidar com a nossa comunidade, principalmente pessoas trans que não conseguem terminar os estudos por bulling e assédio”, finaliza.
A grande batalha, segundo u candidate é a aprovação de projetos que contenha a palavra gênero. Elu conta que a Gabinetona lançou um projeto para a criação de um dia da visibilidade lésbica, que foi negado na câmara.
Outra pauta importante para u candidate é a cultura. Para elu, existe uma grande necessidade de fortalecer artistas das periferias de Belo Horizonte, para que essas pessoas possam viver de seus trabalhos, dignamente. “Queremos criar editais voltados para pessoas LGBT e periféricas, editais menos burocráticos porque as pessoas leigas não conseguem se inscrever nas leis de incentivo, então os mesmos grupos acabam acessando sempre”, conta.
Considerações finais
“Já me sinto uma pessoa vitoriosa, porque já conseguimos conversar com as pessoas. Queremos eleger mais das nossas no coletivo para lutar. É vitória que a gente espera, afinal temos esperança. As pessoas precisam estar junto com as corpas nessa luta, é uma luta de todes, o Brasil ainda é o país mais violento contra nossas corpas. Precisamos de aliades, para que todos os copos possam ser livres, para que todos possam amar quem quiser”.