Júlia Aguiar
“Precisamos transformar a câmara numa consequência do que acontece na rua”, diz candidato a vereador
Eleição 2020
JM entrevista o candidato a vereador pelo PT, em Goiânia, Mateus Ferreira. Confira suas propostas e história

Mateus Ferreira, candidato a vereador pelo PT (13.600). Foto: campanha de 2018, por J.Lee
Há não muito tempo, Mateus Ferreira virou notícia nacional por ter sido vítima da violência policial em protesto popular em Goiânia. Ele era estudante de ciências sociais na Universidade Federal de Goiás (UFG), com 33 anos, em 28 de abril de 2017. Mateus sempre foi sincero com sua esperança pelo futuro, e reconhece com serenidade a realidade política. Este não é seu primeiro pleito - nas eleições de 2018 concorria como candidato a deputado estadual pelo PT, mas não foi eleito. No entanto, a luta e militância social continuaram.
“A função do movimento social é bater, cobrar, confrontar e combater. A do político, dentro de sua estrutura, que é a democracia, é construir alguma proposta que atenda as demandas de determinado movimento social”, afirmava Mateus em entrevista ao JM, em 2018.
Após a eleição de Jair Bolsonaro, o domínio ideológico das redes sociais passou a influenciar a opinião pública, algo que a extrema-direita acredita que irá influenciar o eleitorado neste pleito. “Existe um valor de desigualdade muito forte. Apesar das pessoas terem celular muitas vezes não é uma internet que funciona, ou falta dinheiro para por um crédito. Falar em fazer campanha só pelas redes é também excluir boa parte dos eleitores. Não dá pra descartar a campanha de rua”, conta o então candidato a vereador pelo PT em Goiânia, Mateus Ferreira, ao JM.
O Jornal Metamorfose entrevistou na tarde de quarta-feira (21) por telefone o candidato, que afirmou ter percebido que na eleição passada existia uma forte demanda muito por renovação. “Ainda é presente, mas também existia muito ódio, agora não tanto. Não vejo as pessoas com tantas atitudes agressivas, elas querem ouvir as propostas, falar sobre as coisas que elas querem que mude na cidade”, explica.
Para o candidato, que vem trabalhando desde junho na mobilização de sua base eleitoral, a incerteza da pandemia é uma brecha que pode e deve ser ocupada pela esquerda progressista. Com o aumento da fome, desempregados e o fim do auxílio emergencial, a desigualdade fica cada vez mais evidente nas cidades brasileiras. “As pessoas estão olhando para os políticos e o sistema público dizendo que precisam de ajuda, de acolhimento. Essa é a pauta da esquerda, cuidar dos trabalhadores”.
Propostas

Mateus Ferreira, em 2020. Foto: Arquivo Pessoal
A campanha de Mateus é pautada em um mandato coletivo com os movimentos sociais e seu eleitorado. Para ele, um vereador deve estar perto das pessoas cotidianamente, fiscalizando o serviço público e criando leis que melhorem a vida das pessoas. “Um mandato menos burocrático, que possa receber o vereador em sua casa, inverter a ordem e transformar a câmara numa consequência do que acontece na rua, do que a gente ouve das pessoas”.
Para fazer isso, Mateus diz que a ideia é a construção de um conselho permanente do mandato, liderado pelas pessoas e movimentos sociais, que podem apresentar projetos e aconselhar como ele deve votar na Câmara Legislativa. Com o advento da tecnologia, é possível construir um aplicativo em que a população seria atendida diretamente, sistematizando a necessidade das pessoas em cada bairro, como explica o candidato.
Mateus, que é cientista político, afirma que é necessário lutar em defesa da educação pública e de qualidade. “Mais vaga na creche, chamar os professores e profissionais da educação que passaram no concurso, fazer mais concurso. Sem contar que existe um déficit grande em Goiânia com atendimento a crianças especiais. Tem escolas recusando criança autista porque não tem o profissional para poder atender, o que é contra lei”.
Na cultura, que ele afirma ter sido uma das áreas mais prejudicadas da pandemia, a tentativa de auxílio do governo municipal teve vários problemas. “A lei de incentivo a cultura aqui no município para os produtores culturais não foi efetuada durante a pandemia. As pessoas perderam seus projetos esse ano por descaso da prefeitura. Os projetos estavam já aprovados pelas empresas, e na hora de conseguir aprovação da prefeitura não conseguiu o projeto. No contexto da pandemia temos que cobrar que esses prazos sejam cumpridos”.
Ele diz que a câmara precisa priorizar a cultura periférica, já que as pessoas continuam criando produtos culturais e não recebem oportunidades e incentivos sociais. “Em Goiânia existem diversos terrenos abandonados, porque a gente não usa esses lugares para produzir cultura, esporte, lazer, educação. A gente tem que olhar para esses espaços”. Porém, um grande empecilho para o incentivo cultural é a forma como o orçamento municipal está sendo feito pela câmara dos vereadores. Para Mateus é preciso “reorganizar as despesas”.
Militância
Mateus sonha com uma Goiânia diferente do que é hoje, mais humana, que promove a participação popular. “Sonho com um estado que escute as pessoas e cuide da educação das crianças, que tenhamos autonomia para trabalhar e espaços para as pessoas se encontrarem e viverem”, conta.
“É preciso fazer pressão de fora pra dentro, um aliado dos movimentos sociais”
Para ele, é possível e democrático fortalecer a cultura da contestação, estando junto aos movimentos sociais. “É estar junto de manifestação e abrir as portas pra galera entrar, não pode votar uma questão que é impopular e fechar as portas”.