JM
Protestos ocupam as ruas do país contra o genocídio do povo preto
Vidas Negras Importam
Atos ocorreram de maneira pacífica e foram convocados por movimentos negros, autonomistas e torcidas de futebol antifascistas

Manifestação no Rio de Janeiro contou com policiamento extensivo. Foto: Júlia Lee
Marcus Vinícius Beck e Júlia Aguiar
Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Goiânia, São Paulo, Florianópolis, Recife, Porto Alegre, Londres, Berlim, Paris, Nova York e várias outras cidades ao redor do mundo tiveram protestos contra o genocídio da população negra e contra a violência policial no último domingo (7). Isso ocorreu porque no dia 25 de maio morria mais um homem negro vítima da violência policial, em Minneapolis (EUA). “Eu não consigo respirar”, dizia George Floyd enquanto era asfixiado pelo policial branco, a frase foi amplamente divulgada em cartazes em todos os atos.
No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população negra é a principal vítima de homicídio. Apenas no ano passado, para efeito de comparação, a polícia militar matou 5.804 pessoas, desse montante cerca de 75% eram negras. Nos últimos anos, a terra tupiniquim infelizmente noticiou algumas mortes emblemáticas que evidenciam o racismo e a violência policial.
Carros alvejados pela polícia do Rio de Janeiro, com pessoas negras inocentes dentro, balas de fuzil “perdidas” entre as favelas, crianças com guarda-chuvas que foram “confundidas” com bandidos, mulheres negras que sumiram, pessoas assassinadas pelo simples fato de serem negras. João Pedro, Agatha, Marielle Franco e Anderson, Miguel e outras vítimas foram lembradas durante os protestos no país. No Brasil, os atos foram convocados por coletivos negros, autônomos e antifascistas, a Polícia Militar (PM) na maioria das cidades revistou de forma autoritária manifestantes antes e depois dos atos.
Manifestantes foram encurralados pelo aparato militar, no Rio de Janeiro. Fotos: Júlia Lee
Na tarde do domingo último, na cidade do Rio de Janeiro, o protesto antirracista contou com a presença do Exército, tanques de guerra e fuzis, Polícia Militar, tropa de choque e cavalaria. Cerca de três mil manifestantes se encontraram em frente à estátua de Zumbi dos Palmares, símbolo da luta contra a escravidão no Brasil e líder do maior quilombo do país. O ato contou com revista dos manifestantes pela Polícia Militar, de forma autoritária e sem explicações as pessoas que tentavam chegar à praça.
Entre gritos de ordem e "Ah, eu não me engano, Bolsonaro é miliciano" e "Marielle perguntou, eu também vou perguntar, quantos mais tem que morrer pra essa guerra acabar?", os manifestantes caminharam entre a Praça XI até a Central do Brasil, na região central do Rio, de forma pacífica e organizada para que as pessoas mantivessem a distância de um metro entre si, normas de segurança estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como forma de combater a pandemia de Covid-19.
O ato contou com o policiamento de 5 mil policiais, que cercaram todas as ruas paralelas ao protesto, além de acompanharem o ato com armas letais encurralando os manifestantes para apenas uma faixa da rua. A manifestação não teve confronto, porém Witzel deu um recado importante: a polícia estava pronta para causar uma chacina a qualquer instante. Afinal, pra que servem fuzis e armas letais contra manifestantes desarmados?
Queima de boneco
Manifestação em Goiânia contou com boneco de Bolsonaro em chamas. Fotos: Brunno Santos. Última foto: Rodrigo Oliveira
Militantes ligados ao movimento negro, autonomistas, torcidas de futebol antifascistas e figuras carimbadas da UJS e UJC se reuniram na tarde do domingo (7) último, na Praça Cívica, sede do Poder Executivo goiano, para protestar contra as políticas racistas, fascistas e genocidas do presidente Jair Bolsonaro. As manifestações foram pacíficas, porém o aparato policial chegou a revistar e a prender dois ativistas que estariam portando armas brancas. Os dois foram liberados após assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO).
Os manifestantes entoaram gritos em homenagem aos menores mortos por policiais nas periferias, como João Pedro, falecido neste ano; Kaíque Sabotinha, cantor e compositor de rap que desapareceu após abordagem da Polícia Militar (PM), em Aparecida de Goiânia; além de lembrar a execução da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, alvejada por milicianos conhecidos do inquilino do Alvorada há dois anos, cujo caso ainda está sem esclarecimentos. Também houve referências a memória de George Floyd, sufocado por um fardado nos EUA, na última semana.
Após se concentrarem na Praça Cívica com máscaras para evitar a disseminação do coronavírus, os ativistas desceram em direção à Praça Universitária acompanhados por um extenso aparato policial, que os cercavam dos dois lados da via. Ao longo do trajeto, gritaram palavras de ordem que defendiam a democracia, repudiavam as práticas neonazistas das viúvas (os) dos sicários do uniforme verde-oliva e colocaram fogo num boneco que representava Bolsonaro, na esquina da Avenida Universitária com a Rua 91, no Setor Leste Universitário.
Para o jornalista Heitor Vilela, um dos manifestantes que estava segurando o boneco que representava Bolsonaro, o fato de conseguir botar aproximadamente de 800 pessoas nas ruas em meio à pandemia de coronavírus “é um avanço em Goiânia”. “Apesar de um grande e desproporcional aparato militar, com cavalaria e até helicópteros presente, conseguimos concluir o ato e seu objetivo”, analisa Vilela, completando: “O estado não vai nos intimidar, e vamos lutar enquanto for necessário para fazer os fascistas recuarem”, arremata.
O recado foi dado. Ao longo do percurso, o grupo puxou gritos como “Fora Bolsonaro”, “Doutor, eu não me engano o Bolsonaro é miliciano” e “Vidas Negras Importam”. Mas, segundo torcedores antifascistas, o grupo foi surpreendido pelo menos dez carros de polícia ao saírem da sede do Sindicato dos Professores para seguirem à Praça Cívica. “Os protestos antifascistas aconteceram no Brasil porque a gente estava acompanhando no Brasil uma escalada do processo autoritário”, diz Igor Dias, da torcida Vila Metal Antifascista. Além disso,
participantes foram alvo de comentários provocativos dos agentes da lei.