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  • Foto do escritorLays Vieira

Racismo estrutural se reflete em preconceito e perseguição religiosa

JM – Sociedade


A busca desastrosa por Lázaro Barbosa vem deixando um rastro de violência em territórios de religiões de matriz africana em Goiás e no entorno de Brasília


Buscas por Lazaro - Foto de: Ed Alves/CB/D.A Press)


Infelizmente o Brasil nunca superou seu passado colonial e escravista, desaguando em um racismo estrutural e nada mascarado na nossa sociedade. Isso fica evidente quando pegamos dados de pessoas em cárcere, vítimas das polícias, estereótipos, etc. Um caso recente, bem ilustrativo e que ganhou repercussão em várias mídias, foi o do professor de surf no Rio de Janeiro, Matheus Ribeiro. Matheus é um jovem negro que estava com sua bicicleta elétrica esperando a namorada na porta do Shopping Leblon no último dia 12. Ele foi acusado injustamente pelo casal Mariana Spinelli e Tomás Oliveira de ter furtado o veículo.


Depois da ampla divulgação, o casal acabou demitido de seus respectivos empregos. Mas, não para por aí. Segundo noticiou o G1, a Política Civil do RJ descobriu que a bicicleta comprada por Matheus, em um site de vendas de produtos usados, foi roubada do dono original em fevereiro deste ano, em Ipanema. Então, Matheus também passou a ser investigado por receptação de bicicleta furtada.


Entretanto, um caso sério de racismo e preconceito que vem ocorrendo e não ganhou tal visibilidade é o que está presente no caso da perseguição ao suspeito de ser autor de uma chacina em Ceilândia, e vários outros crimes, Lázaro Barbosa. Envolvendo as polícias de Goiás e do Distrito Federal, a perseguição a Lázaro entrou no seu decimo quarto dia e vem inundando o noticiário local e nacional.


O que quase ninguém fala é a ação truculenta da política de Goiás, sob comando da Secretaria de Segurança Pública (SSP-GO), invadindo terreiros de candomblé e de alguns veículos de mídia local associando de forma irresponsável e preconceituosa figuras e objetos de religiões de matriz africana com Lázaro e supostos rituais satânicos que ele realizou em seus crimes.


Nos últimos dias, líderes dessas religiões e Goiás e no entrono de Brasília vem denunciando a intolerância religiosa por parte das autoridades policiais. Tal situação teria ocorrido em, pelo menos, dez templos. No sábado, dia 19, o pai de santo André Vicente, por exemplo, divulgou um vídeo relatando que policiais entraram em seu terreiro de Candomblé, bateram no caseio, quebraram portas e tiraram fotos de objetos religiosos.


Segundo André Vicente declarou ao Correio Braziliense, as imagens de símbolos religiosos divulgadas pela polícia como sendo da casa de Lázaro, são na verdade do terreiro comandado por ele. A SSP-GO ainda não se pronunciou sobre.


A intolerância religiosa faz vítimas todos os dias, ainda mais no atual contexto reacionário em que vivemos. Dani Sanchez Mutaledi, assistente social, makota e ativista, também publicou vídeos em suas redes sociais denunciado a violência e intolerância. Até celulares de pais e mães de santo foram vistoriados.


Ela também destaca o perigo dessa associação, entre o suspeito e as religiões de matriz africana. Não foi comprovado que Lázaro é praticante de alguma dessas religiões. Mas, ainda que ele fizesse parte de alguma delas, não foi por isso que ele cometeu os crimes dos quais é acusado ou o motivo pelo qual a polícia não consegue prendê-lo.


Dani também destaca que, historicamente, ser do Candomblé ou da Umbanda foi algo visto de forma negativa por outras religiões. Vinculando as primeiras a algo pejorativo, por isso que no Brasil se fala em “magia negra”, para demonizar o sagrado dessas religiões de matriz africana.

Por fim, ela também salienta que em outros casos, não se vê vinculando em jornais o suspeito à religião, a exemplo de que não se vinculou a imagem da bíblia ao vereador Jairinho, do Rio de Janeiro, acusado de matar seu enteado. Não se vê a polícia fazendo esse tipo de ação dentro de igrejas católicas ou protestantes.


O JM falou com Dani Sanchez e segundo ela, na noite do dia 21 foi dado entrada em um habeas corpus coletivo para tentar evitar a invasão dos terreiros pelas forças de segurança. Porém, na noite do dia 24/06 o pedido foi negado. “Nosso objetivo é proteger os territórios de serem quebrados durante as operações”. Lázaro Barbosa precisa sim ser encontrado e julgado pelos crimes que tenha cometido, mas o racismo religioso que vem sendo praticado para obter esse objetivo é inaceitável e só demonstra, mais uma vez, o racismo estrutural da sociedade brasileira.

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