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  • Foto do escritorVictor Hidalgo

Showmício de Caetano Veloso não surte efeito sobre a base do governo

Brasília

Ato pela Terra reuniu milhares de pessoas na capital, porém, a urgência do texto foi aprovado pelo congresso no meio da manifestação

Manifestação reuniu cerca de 20 mil pessoas. Foto: Victor Hidalgo


Trinta minutos após Caetano Veloso subir ao palco da manifestação que ajudou a organizar no dia 9 de março, o Ato pela Terra, os líderes da Câmara dos Deputados decidiram apressar a votação da PL 191, para que fosse votada ainda naquela quarta-feira.


Apesar da pressão do ato, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), conseguiu organizar a votação do requerimento do deputado federal Ricardo Barros (Progressistas-PR), que é líder do governo. A Câmara Federal aprovou às 21:46, a urgência da PL 191/2020, logo em seguida do fim do ato.


O líder do governo informou que o atual texto do projeto de lei será descartado e será formado um Grupo de Trabalho (GT) que irá elaborar uma nova versão para a lei. Segundo Arthur Lira, a proposta vai ser analisada em abril, conforme o acordo entre os líderes da oposição e da base do governo, mas já na sexta-feira, 11 de março, será formado o GT.


Os artistas receberam a notícia sobre a votação da PL 191 com revolta, mas seguiram a programação do evento até o final. Criolo, Emicida, Baco Exu do Blues, Mariana Ximenes, Daniela Mercury e tantos outros se apresentaram no showmício organizado pelo músico Caetano Veloso e sua esposa Paula Levine.


“Está prestes a acontecer a desgraça final, estar reunido hoje aqui e apresentar nossas ideias, nossa energia e somar com pessoas que estão na luta a vida inteira para tentar minimizar um pouco isso. A juventude está nos dizendo o que fazer, eles são a nossa inspiração”, afirma Criolo em entrevista ao Jornal Metamorfose.


O ato começou às 15:00 e recebeu representantes dos movimentos negro, centrais sindicais e indígenas, que tiveram tempo de falar rapidamente sobre a pauta que estava sendo debatida no ato, mas que ficou apagada e despolitizada no decorrer do show. Uma oportunidade perdida de dar o palco para aqueles que estão sendo diretamente atingidos pela liberação de agrotóxicos e da mineração em terras indígenas, tendo em vista que o pico de público foi no período da noite.

Show de Seu Jorge. Foto: J.Lee


Guilherme Boulos (PSOL-SP) disse em entrevista ao JM que o impacto da liberação de agrotóxicos pelo pacote de PLs ao meio-ambiente é devastador, inclusive de produtos que são proibidos em diversos países europeus. “Querem colocar o ministério da agricultura como única instância para aprovar liberação de agrotóxicos, tirando essa responsabilidade da ANVISA, tem outra PL que libera a mineração em terras indígenas, que está mais que provado que a mineração contamina os rios com mercúrio, que é utilizado no garimpo. Você traz prejuízo para os peixes e pessoas que se banham nos rios, particularmente os povos indígenas, PL da grilagem, que vai ampliar o desmatamento da amazônia. É a famosa boiada que Ricardo Salles falou que iria passar”, explica Boulos.


Em 2021, o ambientalista Cássio Beda, diagnosticado com esclerose, denunciava contaminação de mercúrio em terras indígenas. Cássio defendia que sua doença poderia ter sido desenvolvida na época que trabalhava com as comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia, se contaminando com mercúrio nas águas dos rios que cortavam as aldeias, contaminadas pela mineração.


“É mais que lamentável a votação da urgência da PL 191 enquanto lá fora milhares se somam ao Ato pela Terra com artistas, movimentos sociais e com o povo dizendo o que quer. Aqui, há a possibilidade de dizer que é urgente mineração em terras indígenas. É urgente derrubar 120 mil quilômetros de floresta. É urgente deteriorar a saúde dos povos indígenas, é urgente poluir rios e nossas águas, é urgente o garimpo que é um dos maiores responsáveis pela morte de defensores e defensoras de direitos humanos. Não, urgente é acabar com a fome, com a emergência climática. Urgente é ouvir e defender os povos indígenas que são donos do Brasil. É uma vergonha”, explicou a deputada federal Taliria Petroni (PSOL-RJ) durante a votação da urgência da PL 191/2020.


Um dos autores da PL 191/2020 é o então ex-juiz Sérgio Moro (Podemos), projeto de lei que autoriza o garimpo e pesquisas de recursos minerais em terras indígenas. Moro apoiou a aprovação do texto enquanto ocupava o cargo de ministro da Justiça no governo do presidente Jair Messias Bolsonaro (PL). O texto também é assinado pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, almirante da reserva da Marinha.


O JM perguntou ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que compareceu no ato, sobre a contaminação da água por agrotóxicos, e se a liberação do uso de diversos tipos no Brasil poderiam ser usados como armas químicas contra essas populações, ele respondeu que “não só os agrotóxicos. Se as outras PLs, o marco temporal e a mineração de terras indígenas prevalecer, vai ser a complementação de um ato de genocídio contra as populações originarias e a devastação da amazônia”.


A justificativa do projeto é que “busca-se alcançar a viabilização da exploração de recursos minerais e hídricos, em terras indígenas, a partir de soluções que contribuam para o desenvolvimento econômico de atividades, participação nos resultados e indenização pela restrição do usufruto dos povos indígenas”.


Uma coisa ficou clara com o ato: sem a radicalidade das ruas, não tem como o povo impor sua vontade contra a classe política. O escárnio de aprovar a votação da PL 191 com urgência na cara de milhares de pessoas que foram fazer suas vozes serem ouvidas, mostra que os interesses de certos políticos não são os interesses do povo, mas do grande capital.


Confira as fotos do Ato pela Terra, por J.LEE:


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