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  • Foto do escritorVictor Hidalgo

SIGMATA: Este sinal mata fascistas

Cultura


RPG de mesa com temática cyberpunk e antifascismo


Sigmata - divulgação


Role Playing Games (RPG), jogos que você cria e assume o papel de um personagem, junto com seus amigos, enquanto um mestre de jogo tece a história para vocês se aventurarem. Começo explicando o básico por conta de muitas pessoas não conhecerem esse tipo de jogo, qual dados, fichas e sua imaginação são essenciais para jogar. Um dos mais famosos cenários de RPG existentes hoje é o de Dungeons & Dragons, que inspirou centenas de outros jogos não só de mesa, mas digitais.


O cenário de D&D é de alta fantasia, um mundo de Tolkien só que muito menos sutil, com dragões, trolls, magia e muitas histórias para desenrolar. Mas esse não é o único sistema ou cenários possíveis para se aventurar. Que tal irmos para o futuro? O longínquo ano de 1980.


“SIGMATA: Este Sinal Mata Fascistas” é um jogo de RPG de mesa temático cyberpunk que fala sobre insurgência ética contra um regime fascista em uma versão distópica dos Estados Unidos dos anos 80. Os jogadores assumem o papel de Receptores, super-heróis da Resistência que possuem poderes quando estão próximos do alcance de torres de rádio FM, emitindo uma sequência numérica conhecida como “O Sinal”. Quando ele é ativado, os Receptores ganham poderes, servindo de escudo para o povo, os protegendo em manifestações contra a polícia militarizada ou liderando o ataque contra batalhões de infantaria e blindados do Regime.


No lançamento desse cenário, um regime distópico onde fascistas assumiram o controle do governo parecia uma fantasia. Mas, vivendo no Brasil de 2021 esse tema fica muito proximo de casa. Um regime promovendo supremacia branca, fanatismo religioso, histéria da Guerra Fria, medo dos comunistas. Um governo que empurra o seu povo para a morte enquanto lucra em cima disso.


Rogério Lobo, da editora Huginn & Muninn criada em 2018, diz que criou a empresa para trazer jogos diferentes para o Brasil. Sigmata foi escrito por Chad Walker em 2018, e Lobo entrou em contato com ele em 2020 para negociar uma tradução.


“Sigmata é um jogo que tem uma temática muito fora da caixa. Isso que me chamou a atenção, a coragem de fazer um jogo que fala sobre o fascismo e sobre minorias. Eu não podia deixar passar batido” relata Rogério. Segundo ele, a tradução foi feita com muito cuidado para não distorcer o propósito do jogo.


“Até o Chad falou que temos um grande problema com o fascismo aqui no Brasil. E foi um dos motivos dele liberar o jogo para cá ``, diz Rogério Lobo ao Jornal Metamorfose.


Em campanha no Catarse, uma das metas dos apoiadores é liberar uma campanha se passando no Brasil, no final da ditadura militar e com um suplemento chegando aos dias modernos, só que mais brutal. Mas esse sendo escrito por roteiristas nacionais, para evitar estereótipos.


“Acho que pode ter um pouco de relutância em relação ao Sigmata devido aos temas que são abordados no jogo. E por serem bem atuais. Mas estamos confiantes que o público vai ver o potencial que jogo tem e que mesmo tendo temas que muitas pessoas tem receio de falar podem ser abordados de uma forma madura e com isso conscientizar muita gente de que tem muita coisa errada acontecendo” Informa Lobo.


O tradutor do material original é Gilberto Dourado, com o revisor Yago Ghuttyerrys, com Rogério Lobo na diagramação. O projeto já arrecadou o que esperava da sua campanha no Catarse.


O Sistema de jogo de Sigmata se chama Quad-Core. Nele você utiliza um conjuntos de dados d10 e d6. Rogério entrou em mais detalhes sobre o mundo do jogo, e seus diferenciais.


Cenário de Sigmata


O jogo se passa nos Estados Unidos dos anos oitenta, mas não o país que lembramos de nossas memórias de décadas atrás ou que lemos nos nossos livros de história. Esse nunca existiu. O mundo de Sigmata é resultado de sua história. Nos anos sessenta é Joseph McCarthy quem concorre à presidência e vence ao invés de Nixon. Externamente seu mandato jogou os Estados Unidos em décadas contínuas de guerras contra a União Soviética. Internamente, sua política de caça às bruxas contra comunistas amplia-se para um estado fascista, autoritário e intolerante, perseguindo todos que não se enquadrem na ‘norma’ aceita. Homossexuais, negros, imigrantes e questionadores do governo são caçados e levados para campos de concentração. Pessoas ‘de bem’ são encorajadas a informar ou enfrentar aqueles que são mal vistos pelo governo. Este governo é conhecido como ``O Regime”.


O cenário se passa em 1986 e a Resistência é a única esperança para minar e estrangular esse governo fascista, derrubando muros fronteiriços e destruindo os campos de concentração.


Neste mundo os personagens dos jogadores são Receptores, a vanguarda super-heroica da Resistência, que são literalmente acionados quando dentro do alcance do Sinal. Estranho? Sim. Criativo? Muito. Os personagens são combatentes especializados que estão ativamente lutando pela Resistência contra este governo fascista. Nem todos os membros dessa resistência são receptores, mas os que são, são a elite nessa luta com seus poderes incríveis. Sempre que um receptor estiver dentro do alcance do Sinal (uma misteriosa sequência numérica), emitido por uma rádio FM pirata nas proximidades, seus poderes são ‘liberados’. Aquelas pessoas que são afetadas pelo Sinal, e que são poucas, são alteradas sinteticamente para se tornarem Receptores. Mas ser um receptor não significa que automaticamente ele será da resistência e uma verdadeira caçada à essas pessoas especiais se dá de ambos os lados.

Dois Receptores com o sinal ativo - divulgação


Sendo membro da resistência você terá duas coisas claras. A primeira delas é a importância de ser uma equipe. A segunda é de que fará tudo o que for preciso para acabar com as atrocidades desse governo fascista e isso se dará em três tipos de missões – combate, evasão e intriga – diferentes entre si mais narrativamente do que por regras, cada uma tem oponentes específicos: adversários e combatentes em missões de combate; alarmes e medidas de segurança para missões de evasão; e objetivos específicos em missões de intriga. A cada missão encerrada, bem sucedida ou não, traz consequências na forma de como ela afeta o regime fascista e a própria resistência.


Nossos “super-heróis” são poucos e precisam de recursos para operar. Esqueça os grandes esconderijos repletos de equipamentos de alta tecnologia. Nossos protagonistas são pessoas que, embora especiais, ainda fazem parte do mesmo mundo e modo de vida daqueles que querem proteger. E para manter sua luta, precisam de todo o apoio possível.


A luta de nossos heróis se dá por operações para várias das facções existentes e mesmo elas têm sua luta interna, embora o Regime seja o inimigo em comum. O gerenciamento dessas tensões e de suas operações também entra em pauta para os personagens.


Mecânicas


A mecânica é chamada pelos próprios autores de Quad-Core. Os personagens possuem quatro habilidades. Agressão determina sua capacidade de combate e também o quanto extrovertido é. Astúcia é sua perspicácia e também sua coordenação mão-olho. Julgamento é sua inteligência, consciência e paixão. Valor é sua força física e convicção social.


As rolagens, chamadas de Operações (OPs), servem para determinar se elas foram ou não bem sucedidas e em qual grau isso se deu. Além disso, a rolagem determina quem narra os acontecimentos no espaço da história com relação à ação do personagem. Assim, o sucesso permite que o jogador narre como a ação foi bem sucedida. E quanto maior o sucesso, mais elementos positivos (conforme algumas diretrizes), ele poderá acrescentar, da mesma forma que a falha dá ao mestre a tarefa de narrar como e quanto desastrosa foi a ação conforme o grau da falha, enfatizando estresse, perigo e tensão.


As rolagens de OPs são baseadas numa das quatro habilidades em jogadas de apenas (e sempre) 5 dados entre d10 (relacionados aos atributos e chamados de core dice) e d6 (complementares e chamados de entropy dice). O jogador pega um d10 para cada ponto de habilidade que será utilizada dependendo do que está tentando realizar. Ele completa esse conjunto de dados com d6 para somar os cinco dados da jogada. O resultado esperado é ‘6’ ou superior não importando em quais dos dados eles saiam, enquanto o resultado ‘1’ anula sucessos. O personagem precisa de pelo menos o sucesso em um dos dados para que sua tarefa tenha sido realizada minimamente ou realizada com consequências. Três sucessos ou mais representam um crítico, enquanto falhas abaixo de zero são falhas críticas.


Essas jogadas ocorrem durante as Cenas que são elaboradas inicialmente pelo Mestre com descrição do ambiente da cena, elaborando detalhes e atividades interessantes, descrevendo os tipos de pessoas presentes, evocando um clima específico e descrevendo visões, sons, cheiros e sensações experimentadas pelos receptores. Após a descrição inicial a cena é construída narrativamente pela participação de todos – mestre e jogadores – em um sistema tal qual rodadas. Cada rodada representa um tempo específico – segundos, minutos ou horas – que são representadas por ações de cada jogador em uma Operação escolhida. Ou seja, a cada rodada o resultado de uma Operação de um jogador irá construir uma parte da Cena.


Aqui temos um ponto interessante de Sigmata que é a inexistência de pontos de vida. Ao invés disso, ele trabalha com a noção de Exposição. Cada cena possui algum tipo e grau de risco (de zero a dez) onde o real efeito depende da cena em si e da ação escolhida e do resultado desejado. Um risco grave pode ir de ser ferido ou morto, alguém ser morto ou uma intriga dar errado.




Você pode checar o projeto SIGMATA no site do Catarse: https://www.catarse.me/sigmatarpg


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