Marcus Vinícius Beck
Sim, somos machistas
Botequim Literário

Jornal francês denuncia desigualdade entre homens e mulheres - Foto: RFI/ Reprodução
A gente é machista: é fundamental termos isso em mente para tentar melhorarmos e evitarmos reproduzir os chavões da ética da masculinidade frágil. Então este cronista decidiu pelo mea-culpa às vésperas do Dia Internacional da Mulher. Sim, é pouco, mas é necessário.
Por mais que a gente se diga envergonhado, por mais que você, homem que se rotula ‘sensível’, lute por melhores condições de vida para as mulheres; por mais que tente eliminar o machismo através de atos e palavras, é importante saber: a gente ainda é machista pra cacete.
Por mais que você não compreenda os meandros dos machos que sempre buscam culpar a vítima pelo estupro, mesmo quando o culpado é o estuprador; por mais que você condene o discurso de homens que se escondem atrás da verborragia de ‘feministos’, mas no fundo, no fundo são autênticos cretinos e canalhas; por mais que você procure entender o feminismo – e sempre aprenda com elas -; a cada onze minutos iremos atender uma ocorrência de estupro.
A gente, permanentemente, será machista. A gente, infelizmente, viveu durante séculos sob a batuta do patriarcado. Mesmo tendo tido minas fodas na literatura, como Anais Nin e Virginia Woolf, na música, Rita Lee e Grace Slick, nas artes cênicas, Leila Diniz, e no teatro, Consuelo de Castro, pouco evoluímos: somos patriarcas da violência que as atinge no ‘fio-fio’ diário.
As mulheres seguem sem ocuparem postos-chaves nas Redações dos grandes jornais e lutam para terem seus trabalhos reconhecidos no covil da marachara, da qual neste escrevinhador faz parte. Sim, vamos ler mais mulheres, ouvir mais mulheres, ver mais mulheres brilhar no cinema, no teatro e nas artes de um modo geral: é preciso tirar o patriarcado de cada vírgula, de cada som, de cada cena... O patriarcado mata. As mulheres estão morrendo. Morrendo. Morrendo. Morrendo.
Tudo, simplesmente tudo, o que a gente falar sobre isso ainda vai ser pouco. Temos que ouvir e aprender. Se a cultura do estupro é intrínseca aos homens, vamos buscar diminuí-la, refletindo sobre aquela piada extremamente desrespeitosa que contamos na mesa do boteco ou com o amigo quando a não há ninguém por perto.
O homem é uma fraude, um mito, uma piada, porém uma piada de mau-gosto, daquelas que a gente abre um sorriso culpado no canto da boca. Narrativas eróticas, até mesmo aquelas que pagam de desconstruídas, que suscitam um quê de dúvida em quem as ouve, pode ser considerada perversamente perigosa às mulheres. Somos perversos.
O falso intelectual, digo, aquele sujeito que se esconde atrás de títulos, além de gargantear versos pífios e elitizados que fariam o marinheiro homossexual Walt Whitman chorar na tumba, não é nenhum pouco legal, é ridículo mesmo. Demais da conta, eu diria, com meu goianês.
Como diz a cantora Elza Soares, que sofrera abusos quando estava casada com o craque Mané Garrincha: “Você vai se arrepender de levantar a mão para mim”. É, Mané, que perna de pau fostes no teu casamento, homem!
Mulheres do mundo: tomem o poder da gente! Não demos certo.