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Sleeping Giants Brasil acerta no coração das fake news: o bolso

Atualizado: 15 de out. de 2020

Entrevista


Grupo denuncia campanhas de marketing em sites de desinformação pelo Twitter para empresas removerem anúncios.


Banner da pagina do grupo ativista Sleeping Giants Brasil - reprodução


Victor Hidalgo


Na última semana surgiu um perfil na rede social Twitter com o nome de: Sleeping Giants Brasil. Para os mais desatentos, que apenas se focaram no nome e nas cores da bandeira que o adornam, hoje símbolos da extrema direita brasileira, o grupo poderia parecer ser formado de apoiadores do governo, um movimento conservador, ainda mais com o nome que acaba remetendo aos protestos de 2013 no país, sobre o gigante adormecido que despertou. Mas isso não poderia estar mais longe da verdade.


Sleeping Giants é um movimento que surgiu nos Estados Unidos logo após a vitória do atual presidente Donald Trump, com intuito de combater sites da extrema-direita americana, que fazem publicações voltadas ao discurso de ódio e fake news (notícias falsas). O perfil original acumulou desde 2016 mais de 200 mil seguidores e permaneceu sendo um perfil anônimo até julho de 2018, quando o publicitário Matt Rivitz teve que assumir publicamente que era um dos responsáveis pela criação do grupo ativista por conta de ter sido exposto por uma matéria do site de direita The Daily Caller. Ele e seu filho de 14 anos foram ameaçados de morte na época.


Já no Brasil, um jovem que quis se manter anônimo entrou em contato com a página americana que concedeu a ele a utilização do nome, criando o Sleeping Giants Brasil. Em menos de duas semanas o perfil nacional alcançou mais de 300 mil seguidores, ultrapassando a conta original e atingindo as personalidades mais influentes da rede como o Youtuber Felipe Neto e o apresentador Luciano Huck, que divulgaram o trabalho e a proposta deles em seus perfis. A conta original do Sleeping Giants se surpreendeu com o crescimento rápido, influência e incômodo que isso acabou gerando em setores do governo brasileiro.


“O perfil gerou um movimento massivo em todo o Brasil, sendo comentado por todos, desde o maior youtuber do país até os filhos de seu presidente, teve grandes anunciantes que deixaram de apoiar um site que espalha desinformação e, em breve, será muito maior do que a nossa humilde e pequena conta” - diz o perfil original em sua conta no Twitter, traduzido do inglês.

Página principal da conta do Sleeping Giants Brasil no Twitter- reprodução


O foco principal no momento é o site Jornal da Cidade, que já é conhecido por espalhar notícias falsas, que usava perfis apócrifos para atacar políticos e magistrados e que irriga o site da viúva do coronel condenado por tortura na ditadura militar: Carlos Alberto Brilhante Ustra. Até o momento, eles conseguiram que 150 marcas se mobilizassem removendo suas publicidades. Também com a ajuda dos seguidores, fizeram com que a campanha do site Apoia.se de financiamento coletivo do jornal fosse removida temporariamente e colocada análise até a presente data. O Jornal da Cidade arrecadava mensalmente 19 mil reais com mais de 800 apoiadores pela plataforma. Uma das empresas que teriam removido o apoio ao site erá o Banco do Brasil, mas após pressão do filho do presidente Carlos Bolsonaro e do secretário de comunicação da Secom Fábio Wajngarten, eles voltaram atrás e continuaram com o anúncio, o que levou o presidente do BB a ser convocado à CPMI da Fake News por manter o patrocínio.


Suspeitando da interferência no Banco, o Tribunal de Contas da União (TCU) na última quarta-feira (27) determinou que parte dos contratos de publicidade fossem suspensos em propagação de sites, blogs e redes sociais.


"Acreditamos que a reação rápida de pessoas ligadas ao governo, como os filhos do presidente e o chefe da Secom, é um indicativo de que o governo compreende a necessidade de ter controle sobre a narrativa dos acontecimentos políticos" Trecho da entrevista do Sleeping Giants Brasil para o jornal Metamorfose.


Resposta da Nissan Brasil se comprometendo em retirar a publicidade do site de noticias falsas - 27/05/2020 - reprodução


Entramos em contato com o perfil da Sleeping Giants Brasil para conversar como tem sido esse movimento e a adesão do público contra a propagação de desinformação. Por motivos de segurança, não vamos divulgar o nome do responsável que deseja permanecer anônimo.


Jornal Metamorfose - Vocês esperavam uma adesão grande do projeto tão cedo?

Sleeping Giants Brasil - Definitivamente não. Um dos efeitos nocivos do ambiente de desinformação nas mídias sociais é a sensação de impotência que esse ambiente gera, fazendo com que os indivíduos sejam levados ao pensamento enganoso de que suas ações não podem contribuir com o ambiente democrático do país.

Jornal Metamorfose - O impacto nos sites podem ser duradouros ou pode ser que depois de algum tempo, volte ao que era antes?

Sleeping Giants Brasil - Antes de responder essa pergunta é importante que esteja claro que a eficácia de todas as nossas ações é diretamente proporcional ao engajamento de nossos apoiadores. Isso porque, algumas empresas tendem a ignorar nossos pedidos de forma a não entrar em conflito com essa ala ideológica que se vale dos discursos de ódio e da desinformação. Além disso, as mídias sociais das empresas geralmente são administradas por pessoas que podem não possuir poderes de decisão para retirar os anúncios desses portais. Assim, apenas com um grande número de apoiadores compartilhando nossas exigências é que a informação eventualmente chegará ao gestor competente para tomar essa decisão. É por isso que diariamente tentamos lembrar aos nossos seguidores que a construção desse movimento deve ser coletiva e diária.


Portanto, a resposta é sim. O impacto de nossas ações pode ser revertido se nossos apoiadores derem essa luta por vencida e pararem de exigir um posicionamento das empresas.

Jornal Metamorfose - Vocês chamaram a atenção dos sites e de políticos ligados a eles muito rápido. Acreditam que o motivo para isso seja por conta de terem atingido um dos pilares ideológicos do governo?

Sleeping Giants Brasil - Atribuem a Maquiavel a frase “melhor parecer do que ser”. Maquiavel não disse exatamente isso, mas certamente essa frase resume a tese de que o governante – para manter a estabilidade de seu governo – precisa que suas ações estejam acobertadas por um discurso de legitimação. Assim, mais importante do que as ações do governo em si, é a ideia que o povo tem sobre seu governante e sobre suas ações.

Acreditamos que a reação rápida de pessoas ligadas ao governo, como os filhos do presidente e o chefe da Secom, é um indicativo de que o governo compreende a necessidade de ter controle sobre a narrativa dos acontecimentos políticos. Isso se torna ainda mais nas falas de membros do governo que parafrasearam Goebbels, um conhecido estrategista político e Ministro da Propaganda de Hitler que constatou que “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. Assim, estamos convictos que a reação imediata da base de sustentação de Bolsonaro deve-se ao fato de que nossas ações reduzem o financiamento desse discurso de legitimação.


Jornal Metamorfose - Por estarmos em uma pandemia e muitas pessoas estarem em casa, isso pode ter facilitado o trabalho de vocês?

Sleeping Giants Brasil - Certamente. O fato de as pessoas estarem em casa foi determinante para que o movimento crescesse tão rápido e que obtivesse tantos resultados em pouco tempo.

Jornal Metamorfose - Já estão sofrendo algum tipo de ataque ou retaliação pelas redes de fake news e o governo?

Sleeping Giants Brasil - A resposta dos jornais da fake news foi, pra variar, fake news. O Jornal da Cidade fez uma publicação em que nos criticava e nos associava ao Partido dos Trabalhadores colocando inclusive uma foto de Lula na chamada da matéria. Sabemos que o objetivo daquela “reportagem” era minar nossa credibilidade ao nos associar a um partido político que possui rejeição de parcela do eleitorado. Em outra publicação disseram que nos processariam e que iriam pedir ao Twitter o levantamento de nossas identidades, mas até agora isso não aconteceu.

Do governo, a única manifestação direta que temos conhecimento até agora é do Chefe da Secom, Fábio Wajngarten, que afirmou que o governo contornaria a decisão do Banco do Brasil de interromper os anúncios no Jornal da Cidade e que afirmou que o movimento deveria deixar de lado o “viés ideológico”. Mas também sabemos que parlamentares como os deputados Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli também tem nos criticado.

Jornal Metamorfose - O que podemos esperar do trabalho de vocês e da reação em geral do público daqui para frente? Quais os próximos passos?

Sleeping Giants Brasil - De nós, pode ser esperada uma continuação de nosso trabalho que será realizado cada vez mais intensamente e organizado. Do público, nós esperamos um engajamento cada vez maior, pois só os cidadãos brasileiros, juntos, possuem força para fazer chegar aos gestores das empresas às nossas indagações.


Ainda estamos longe de concluir o nosso primeiro passo, que é desmonetizar o Jornal da Cidade Online, e portanto não somos capazes de dizer quais serão os nossos próximos passos. Também precisamos ter cuidado com as informações que passamos para evitar uma reação antecipada. Mas no nosso horizonte de possibilidades certamente observamos, de longe, a necessidade de se criar uma legislação que imponha às empresas a obrigação de constantemente revisarem os portais em que seus anúncios têm sido publicados. Uma lei nesse sentido acaba de ser aprovada na França e acreditamos que essa possa ser uma saída para o problema.

Para acompanhar o trabalho do Sleeping Giants Brasil, basta seguir sua conta no Twitter: @slpng_giants_pt


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