JM
Temos ódio e nojo da Ditadura
Atualizado: 22 de jul. de 2021
Editorial
Repórteres do JM foram atacados pela polícia militar do estado de Goiás na manifestação pacífica do #29M em Goiânia. E nós perguntamos: e a liberdade de imprensa?

Os jornalistas Marcus Vinícius Beck e Heitor Vilela foram atacados pela polícia militar em uma tentativa de silenciamento da imprensa independente. Foto: Marcos Aleotti
Querides leitores, através destas linhas tortas afirmamos que fazemos um jornalismo livre e experimental pois acreditamos em nosso direito à existência. Queremos continuar vivos, ativos e conquistar nossa liberdade coletiva. Lutamos diariamente para manter o Jornal Metamorfose no ar e se continuamos publicando é por acreditar que a imprensa deve ser livre.
Na manhã do último sábado (29), os jornalistas Marcus Vinícius Beck (editor de cultura do JM) e Heitor Vilela (ex-membro fundador do JM, e atual colaborador) foram atacados pela polícia militar do estado de Goiás pura e simplesmente por ocupar as ruas em uma manifestação pacífica.
Gostaríamos, formalmente, de requisitar o apoio do Sindicato dos Jornalistas do Estado de Goiás (Sindijorgo) e da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), já que ambos são jornalistas formados e fazem parte do único jornal independente do estado, além de alguma resposta formal do governador Ronaldo Caiado, porque atacar a imprensa?
Outro ponto fundamental: porque os sindicatos, partidos políticos e outros grupos sectários não apoiaram e repudiaram a atuação criminosa da PM-GO quando o fato ocorreu?
Não surpreende que Goiânia seja palco de infrações à imprensa, afinal, há menos de um mês o coronel Wellington de Urzêda Motta (ex comandante do BOPE e conhecido por sua proximidade a grupos de extermínio dentro das operações especiais da PM-GO) assumiu como Secretário Executivo na Secretaria de Relações Institucionais na prefeitura de Rogério Cruz (Republicanos). Em menos de 100 dias de mandato, o prefeito coloca um dos militares mais importantes da violenta inteligência da polícia militar em uma secretaria que faz interligação com todo secretariado.
Já o governador do estado de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), fez o que é de se esperar: mandou a polícia atacar manifestantes pacíficos que lutam por seus direitos constitucionais. Nada de novo na capital, já que em 11 de maio fez a mesma coisa com os trabalhadores do transporte público de Goiás, quando mandou a PM prender Sérgio Reis, dirigente do SindiColetivo-GO, por aderir a greve dos motoristas de ônibus.
Mas, não é de se espantar, já que Ronaldo Caiado (DEM) e Rogério Cruz (Republicanos) são alinhados com a política de Jair Bolsonaro, além de terem apoiado a candidatura do atual presidente e terem surfado na onda bolsonarista nas eleições de 2018.
Repudiamos toda violência que vem sendo cometida pelo governo atroz do ditador mequetrefe Jair Bolsonaro (sem partido – mas sinceramente, deveríamos reconhecer que seu partido é as forças armadas). Não é por acaso que o Brasil caiu quatro posições desde 2018 no ranking de liberdade de imprensa, realizado pela ONG Repórteres Sem Fronteiras.
Também não é acidental que os principais jornais impressos do país estamparam em suas capas qualquer coisa menos os protestos massivos que tomaram as ruas no dia 29 de maio. Vamos dar o nome certo às coisas: isso é CENSURA.
Se os jornais fingem que está tudo bem no país do caos, como o povo deveria entender a realidade a sua volta? Tal estratégia é consolidada pela censura capitalista dos donos dos principais veículos “jornalísticos” do país, eles compraram o golpe bolsonarista assim como o endossaram em 1964.
Não esquecemos que Jair Bolsonaro louvou o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra em seu discurso no golpe que derrubou a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT). Não esquecemos que Hamilton Mourão (vice-presidente) afirmou em entrevista ao jornal alemão DW que Brilhante Ustra era um cara “decente e simpático”. Os vermes que comandam esse país são saudosistas do pior momento da história do Brasil, e para além disso, são golpistas que estão corroendo a democracia brasileira de dentro para fora.
Desde sua posse oficial, Bolsonaro trata os jornalistas profissionais como se fossem animais de rua, apartando-os e impossibilitando a cobertura dos acontecimentos em um pequeno cercadinho, proibindo o acesso dos profissionais das mídias até mesmo a uso dos banheiros e a poder levar água e alimento.
Durante o tempo de seu regime o que temos visto não é apenas o descrédito, a desconfiança e desprezo virulentos - com incentivo até a ataques físicos a jornalistas por parte de seus apoiadores - mas, a real destruição da informação e da disponibilização dos dados por parte dos órgãos responsáveis, além de uma construção falaciosa e inflação de meios de informação que tentam sustentar – sem qualquer base real – a narrativa que Bolsonaro quer passar como versão oficial deste Brasil paralelo no qual suas ações não podem ser sequer questionadas, sequer confrontadas com a verdade dos fatos.
Por mais que existam sim veículos viciados e que realmente não possuem o compromisso de publicar a verdade, editores pagos para se conformar a uma certa visão falsificada, e que erros e algum nível de desinformação possam ocorrer – porque acontecem e o jornalista é um ser humano como qualquer outro, equívocos esses que podem ser corrigidos via erratas seguindo procedimentos éticos básicos ao real trabalho jornalístico – nenhuma democracia seria possível sem que a população tenha acesso a informação abertamente disponibilizada por meios acessíveis e criados para tal fim.
E, claro, a crítica a tais veículos e tais tipos de “profissionais” precisa ser feita e a diversidade de pontos de vista e até a disputa de interpretações precisa se dar de forma limpa e não por meio de artifícios truculentos que tentam menorizar a necessidade e o impacto provocado pela imprensa, seja escrita, seja veiculada por rádio, TV e pela internet.
Nós do Jornal Metamorfose não podemos nos calar diante de tamanho descalabro, diante do abismo nebuloso que se tornou fazer jornalismo neste país que busca endossar os caminhos mais fáceis – falaciosos e arbitrários - para a perpetuação da ignorância e do fascismo.
A ultramodernização dos meios de informação e as novas especialidades que vem surgindo no processo tem provocado uma disputa pela hegemonia da transmissão das notícias, o que muitas vezes abre espaço para uma espetacularização tão ridícula quanto perigosa, uma vez que Bolsonaro – a se negar a falar para imprensa e utilizando-se de métodos e meios “alternativos” - seque em campanha para sufocar a verdade e até aniquilar, não apenas simbolicamente ou profissionalmente, os canais seguros de análise e decodificação da realidade e estimular o debate a respeito das ações do governo e suas consequências sobre nossas vidas.