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  • Foto do escritorLays Vieira

Um xadrez complicado

Política

Executivo acumula derrotas nos últimos dias e a velha política com o centrão pode gerar perda de apoio da ala ideológica

Jair Bolsonaro (sem partido) em coletiva de imprensa. Foto: Reprodução


Nos últimos dias o governo federal vem acumulando uma série de derrotas, especialmente no que tange suas articulações e ações referentes ao combate da pandemia. Um exemplo é que, após a libertação do ex-presidente Lula, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), com reviravolta por conta da mudança de voto de Cármen Lúcia, decidiu que o ex-juiz Sergio Moro atuou parcialmente no caso do triplex, na Operação Lava Jato. O julgamento reforça a anulação das condenações de Lula, determinada no início desse mês, pelo ministro relator da Lava Jato, Edson Fachin.


Outra derrota pode ser vista na pesquisa publicada dia 17 pelo Datafolha. A rejeição subiu, 54% dos entrevistados não aprovam a forma com que o governo Bolsonaro vem lidado com a pandemia e 43% consideram o presidente o maior culpado pela crise. Outra pesquisa, dessa vez do Poder Data, realizada entre 15 e 17 de março, mostra que na intenção de voto para o primeiro turno de 2022, Lula vence, assim como vence também nos cenários de segundo turno.


Já na última semana, na noite de terça-feira (23), o presidente discursou pouco mais de três minutos em cadeia nacional de Rádio e TV. Pressionado pelo número de mortes, falta de UTIs e insumos para intubação, a tentativa era de “mudar o tom” negacionista do governo e apoiar a vacinação em massa. Entretanto, o presidente manteve o discurso do tratamento precoce (sem resultado comprovado) além de mentir em diversos momentos, a exemplo de: repetir que seu governo agiu para combater a pandemia desde o início e de não ter se oposto a vacinas. Entra também para a lista de derrotas recentes, a marca de 300 mil mortes, atingindo inclusive a marca de mais de 3 mil vidas perdidas em 24hrs. Um infeliz novo recorde.


Um dia depois do pronunciamento de Bolsonaro, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse em sessão na Câmara que estava "apertando hoje um sinal amarelo para quem quiser enxergar" e que remédios “são aplicados quando a espiral de erros de avaliação se torna uma escala geométrica incontrolável”. A declaração de Lira vem no contexto da reunião entre ele, o próprio Bolsonaro e os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (Democratas-MG) e do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, para debater o combate à pandemia.


Então, um ano depois do início da pandemia, emitiu-se Decreto 10.659, de 25 de março, que cria o Comitê de Coordenação Nacional para o Enfrentamento a Pandemia. Quem tomou a iniciativa foi Pacheco e não Bolsonaro. Mas, a estruturação do comitê está cheia de limitações e problemas, o mais gritante deles é que o grupo não incluiu os representantes dos outros dois entes federados, governadores e prefeitos, deixando ainda mais a mostra as mudanças bolsonaristas que vem incidindo sobre o nosso federalismo.


E nem só de comitê e ameaças vivem o centrão. O preço do seu apoio subiu. Depois das farpas decorrentes da nomeação do novo Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que não foi o nome indicado por Lira e pelo centrão, Ludhmila Abrahão Hajjar, agora é a vez das cabeças de Ernesto Araújo e Ricardo Salles estarem em jogo.


O ministro das Relações Exteriores, já era um alvo do congresso a muito tempo, e foi convocado pelo Senado no dia 24 para explicar as posições diplomáticas do Brasil no combate à pandemia, especialmente compras de vacinas. A demissão dele é vista como um gesto político para melhorar a posição internacional do país diante de alguns produtores de vacina, como a China, a Rússia e os Estados Unidos.


Por outro lado, o Ministro do Meio Ambiente também está na mira. A lógica adotada pelos presidentes da Câmara e do Senado, e corroborada por muitos empresários do setor financeiro, é que, além do desastroso lido com a pandemia, a política de meio ambiente, na contramão do cenário internacional, vem afastando investidores.


Assim, é preciso substituir ambos. O problema é que, tanto Araújo como Salles representam e adotam práticas guiadas pelos ares mais ideológicos do bolsonarismo. São dois personagens importantes e queridos para o eleitorado mais fiel ao presidente. Se Bolsonaro ceder e entregar a cabeça dos dois, poderá haver indisposição e críticas por parte da ala ideológica, resultado em perda de apoio, já que um dos discursos que cooptou essa gente foi o de que Bolsonaro não usaria da chamada “velha política”, do “toma lá, dá cá”. Entretanto, a realidade do nosso presidencialismo de coalisão bateu à porta do executivo. Qual as próximas peças que Bolsonaro moverá nesse xadrez desfavorável é algo que teremos que esperar para ver.


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