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Uma ponte com o passado

Atualizado: 26 de nov. de 2020

Entrevista

Projeto Aurora mostra trajetória de vida de pessoas idosas em nova série no Youtube, dirigido por Kalyne Menezes

Foto: Projeto Aurora/Divulgação


Victor Hidalgo

Existe uma espécie de tabu quando falamos de velhice. Você consegue imaginar como será a sua? Eu não consigo. Mal enxergo onde estarei daqui cinco anos, o tempo passa devagar nessa perspectiva, e o espelho não revela logo de cara o nosso envelhecimento. Quiçá, um ou outro cabelo branco, entretanto, normalmente não percebemos a passagem do tempo em nós mesmos.


Se eu não consigo imaginar, e os outros? Eles vão se lembrar de quem eu fui? Porque pensamos no passado? “Fui”, como se deixássemos de ser. Aurora, nova série em três partes no Youtube dirigido por Kalyne Menezes, traz essa reflexão para dentro de nós. Ao presenciar histórias de pessoas mais velhas, que ainda transbordam vitalidade e muita coisa para contar.


Kalyne Menezes é jornalista e há dez anos constrói o projeto “Antes do Ponto Final”. O que era um blog, acabou crescendo e se transformando em uma agenda de cultura, com oito colaboradores que produzem conteúdo para a página.


“No ano passado, submetemos um projeto para o fundo de arte e cultura de Goiás, pelo edital de 2018, e dentro deste projeto ligado a cultura digital fiz a proposta de fazer alguns vídeos para o Youtube. São três séries, a primeira é Andanças, a atual é a Aurora e tem outra série chamada Retratos”, afirma Kalyne em entrevista ao Jornal Metamorfose.


A proposta de Aurora é mostrar que essas pessoas tem uma trajetória de vida, além de uma sensibilidade específica em relação a tudo que já viveram. Por serem pessoas mais velhas, tem um olhar diferenciado sobre a vida. Segundo ela, esse projeto trabalha com um novo nascimento desses personagens.


Confira a entrevista completa abaixo:


Metamorfose: Como surgiu o projeto?


Kalyne: Eu sempre percebi que às pessoas mais velhas têm muito o que compartilhar com a gente, seja por um conselho ou por uma visão diferente sobre a vida. Valorizar essas experiências, o conhecimento deles e suas tradições. Eu acredito que é importante a gente tentar ver a partir do olhar deles, a série vai muito nesse sentido.


Embora eles possam ter visões diferentes, quando fui gravar esses vídeos eu percebi que a maneira como eles falam é muito sincera, muito aconchegante. Falar sobre sentimentos para eles também têm muito em comum conosco, o que pensamos sobre isso, sobre amor e alegria. É bacana principalmente ver que eles vivem uma vida mais leve e descontraída, cheia de planos, perspectivas. Mesmo aqueles que já passaram por alguma dificuldade.


Acredito que nesse aspecto é interessante pensar que nos últimos anos não vemos mais os idosos como antigamente. Hoje, são pessoas extremamente produtivas, o fato da expectativa de vida ser muito diferente hoje. Alguns que eu entrevistei, inclusive, mudaram de cidade.


Metamorfose: Onde foi Aurora foi gravado?


Kalyne: Gravamos em Caldas Novas, a ideia de gravar lá foi para sair do grande centro e porque lá é uma cidade turística. Peguei dois pontos de Caldas Novas. Um onde pessoas dançam forró na melhor idade, no casarão dos Gonzaga, que juntam o mais diversos tipos de pessoas. E o outro grupo foi de pessoas que frequentam um centro de convivência ligado ao CRAS (Centro de Referência Assistência Social) que realiza diversas atividades com idosos. Então, eles acabam formando um grande grupo, se consideram uma família de quase cem pessoas e tem atividades quase todos os dias, o que mudou a vida de muitas pessoas.


Aurora fala um pouco disso, dessa energia e vida de pessoas que às vezes por uma questão da sociedade, estão em uma invisibilidade de uma forma geral, por não fazerem mais parte de uma força produtiva de trabalho, mas que elas estão ali. Podem ser nossos pais e avós, e elas tem essa sensibilidade e sentimentos.


Gravação em Caldas Novas. Foto: Divulgação


Metamorfose: Como foi o financiamento do projeto?


Kalyne: O financiamento se deu através da Lei Goyasis. Dentro dela, eu tive o blog antes que eu transformei em um site. Que é um site 100% acessível. Consegui fazer ele e a série para o Youtube. Por conta disso, consegui propor algumas coisas bônus como um edital de colaboradores, pessoas que escrevem no site, hoje tenho oito. Mas ele finaliza agora em setembro e estou pensando em abrir uma campanha.


Metamorfose: Qual personagem te marcou mais na série?


Kalyne: A Ednalva tem uma história muito bonita, estava com depressão em um momento muito difícil da vida. Quando foi acolhida, pelo centro de convivência, ela encontrou uma família, e tudo mudou para ela, ela passou a ser feliz. O José Tarcísio também, ele é muito alegre e ama dançar todos os dias. Esse amor pela dança é contagiante.


Metamorfose: Como foi chegar nessas pessoas?


Kalyne: Eu fui muito bem recebida. Elas me receberam muito facilmente e de coração aberto. Tanto o pessoal do Centro de Convivência quanto o do forró. Inclusive queria agradecer o pessoal da melhor idade lá do forró e da SECULT, que me indicaram o grupo. Todos muito atenciosos. Foi muito bacana essa experiência e tenho desejo em voltar lá para fazer uma continuação desse projeto para que eles contêm mais histórias sobre eles.


A série Aurora de vídeos pode ser vista completa no canal Antes do Ponto Final, no Youtube. Além dela, vocês podem acompanhar os demais trabalhos em seu site.


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