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  • Foto do escritorLays Vieira

Uma voz latina

Sede de Arte

Crítica e esperança na beleza poética das canções de Victor Jara

Cantor, compositor e ativista, Victor Jara foi assassinado pela ditadura de Augusto Pinochet. Foto: Reprodução


Hoje não vim para indicar algum livro, mas algo tão bom quanto: vamos falar de música. Hoje quero sugerir a você, caro leitor, apreciar o artista incrível que é Victor Jara. Professor, ativista político, diretor de teatro e cantor, esse chileno de origem camponesa teve papel central no movimento da Nueva Canción Chilena, que gerou uma revolução na música popular local durante o governo de Salvador Allende. Esse movimento musical latino-americano, surgiu na década de 1960, fazendo denúncia social nas quais incorporava elementos do folclore musical do continente. Se propunha a ser uma alternativa à música estrangeira.


Na infância e adolescência, Victor e os irmãos, foram criados sozinhos pela mãe, mulher forte, de origem mapuche, autodidata, tocava violão, piano e cantava canções folclóricas em casamentos e funerais. A influência da mãe o ajudou a se aproximar da música.


Alguns anos após a morte dela, já aos 24 anos, passou dois anos no seminário, mas desistiu por, segundo ele, não ter vocação. Depois disso, Jara entra para a companhia de teatro "Compañía de Mimos de Noisvander", e começa a estudar atuação e direção na Escola Teatro da Universidade do Chile. Desde essa época seu trabalho já se liga fortemente a cultura e ao folclore chileno.

Em 1966 grava o seu primeiro LP, "Víctor Jara". Seu segundo LP foi "Víctor Jara e Canciones Folclóricas de América". Ao todo, lançou sete discos. Em 1969, sua canção "Plegaria a un labrador" ganha o primeiro prémio do Primeiro Festival da Nova Canção Chilena.


Além de seu trabalho artístico voltado para a tomada de consciência social, Victor Jara era membro do Partido Comunista do Chile e integrava o Comitê Central das Juventudes Comunistas do Chile. Com o golpe do general Augusto Pinochet contra o presidente Salvador Allende, em 1973, é preso e levado ao Estádio Chile, lugar que havia se tornado uma espécie de campo de concentração e um dos maiores centros de detenção e tortura da ditadura chilena. Lá, teve suas mãos esmagadas por coronhadas deferidas por soldados. Poucos dias depois, em 16 de setembro, é assassinado pelo regime com 44 tiros e teve seu corpo lançado em um matagal.


Somente em 1990 com a Comissão da Verdade e da Reconciliação, seu assassinato foi reconhecido. Em 2013, teve início um processo civil, movido pela viúva, Joan Turner Jara, e as duas filhas do casal, Manuela e Amanda. Em 2018, 10 ex-militares foram processados pelo caso, 9 já foram condenados.


O que persiste na memória é importante papel desempenhado pelo artista, influente e reconhecido até hoje. As canções "Manifiesto" e "Vientos de Pueblo", por exemplo, são carregadas de beleza e significado, falando da dura vida do povo trabalhador latino, da terra e da opressão. Outra, "Plegaria a un labrador", diz:


“Líbranos de aquel que nos domina En la miseria tráenos tu reino de justicia E igualdad sopla como el viento la flor de la quebrada Limpia como el fuego el cañón de mi fusil”

Mas, Victor Jara também canta sobre o amor, o amor proletário. Como em "Te Recuerdo Amanda", que conta a história de casal de trabalhadores que só conseguem se ver por cinco minutos e como estes eram minutos eternos e felizes dentro da dureza e das mazelas da vida imposta pelo capitalismo. Victor Jara é uma voz latina: forte, lutadora, consciente e que canta sobre a opressão e a exploração com uma sensibilidade artística ao mesmo tempo crítica, bela e esperançosa.


Confira:




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