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  • Foto do escritorMarcus Vinícius Beck

Usando a internet

Pesquisa

Levantamento realizado pelo Itaú Cultural em parceria com o Datafolha indica que 57% dos brasileiros passaram a usar mais a internet na pandemia para consumir produtos culturais

Cantora Letrux durante apresentação no festival Porão do Brasil, em Brasília, no ano de 2018 - Foto: J.Lee/ Arquivo


Lives musicais, leituras de poesias e apresentações teatrais oferecem companhia nestes tempos de solidão e desdém das autoridades às artes. Iniciativas como os encontros poéticos realizados pela atriz Mel Lisboa em seu Instagram, a interpretação cênica de textos clássicos da literatura brasileira feita pelas também atrizes Andreia Horta, Mariana Ximenes, Deborah Falabella e Bianca Comparato, bem como os encontros diários com a cantora Teresa Cristina, proporcionaram alento virtual numa época na qual a incerteza e o medo da morte são constantes na sociedade.


Mais da metade dos brasileiros acreditam que o acesso à cultura se tornou mais democrático nos últimos meses e 57% utiliza a internet com a finalidade de consumir produtos culturais. É o que mostra pesquisa divulgada nesta quarta-feira (20) pelo Itaú Cultural em parceria com o Datafolha, durante coletiva de imprensa, com a presença do JM. O estudo mostrou ainda que escutar músicas e assistir a filmes e séries passou a ser o que os entrevistados mais gostam de fazer no isolamento: 87% dos que frequentaram cinemas antes da pandemia consomem agora audiovisual nas plataformas de streaming.


Em isolamento social na cidade do Rio de Janeiro, a cineasta Lee Aguiar, 24, crê que lives de shows e mostras de cinema realizadas na internet de forma gratuita ajudaram a democratizar o acesso à arte no Brasil. Para ela, consumir cultura – numa sociedade cujo direito a estudar é privilégio de poucos – é algo complicado para as pessoas. “Pensa que você para ver um filme, se você mora na periferia – mesmo que ele seja de graça ou num preço acessível -, não sai por menos de R$ 30. O acesso aos espaços culturais é caro, o acesso à cidade também. Então essas iniciativas são essenciais”, diz.


Além de relatar o consumo de cultura pelas plataformas digitais, o estudo mostra ainda que 71% dos entrevistados declararam acessar a internet todos os dias, enquanto 29% estão no grupo dos que nunca navegam na rede ou o fazem com baixa freqüência. Os dados apurados na pesquisa indicam também que 7% dos brasileiros não possuem acesso algum a web, configurando os chamados excluídos ou analfabetos digitais.


Para o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Salon, o levantamento elucida que o cenário pós-pandemia pode ser marcado por um hibridismo entre os meios virtual e digital. “A pesquisa Itaú Cultural/Datafolha deixa evidente como o mundo cultural acolheu virtualmente as pessoas neste momento tão difícil para todos, como também o quanto os brasileiros estão usufruindo intensamente de conteúdos culturais neste território da web. O fenômeno só não foi mais vigoroso em virtude da desigualdade digital, que precisa ser vencida o mais rápido e amplamente possível”, afirma.


Hábitos culturais


Com abordagem realizada por telefone entre os dias 5 e 14 de setembro, a pesquisa investigou também os hábitos de consumo culturais da população brasileira durante a pandemia. A música está no topo da lista, com 84% dos entrevistados dizendo que usam a internet para curtir seus sons mais preferidos, enquanto 73% utilizam-na para se entreter com filmes e séries, além de 60% para shows. Livros digitais, outro item abordado pelo levantamento, são lidos por 38% dos entrevistados, mesmo percentual de pessoas que aproveitaram o isolamento para participar de lives educativas e cursos livres.


Para a cineasta Lee Aguiar, que nos dias de pandemia assistiu a mostras de cinema como “É Tudo Verdade”, a quarentena intensificou um processo que já existia dentro do consumo de entretenimento online: a da facilidade e praticidade em acessar filmes, discos, séries ou livros. De acordo com ela, muitos artistas, marcas, casas de shows já usavam as redes sociais como plataforma de distribuição do trabalho artístico. “O que eu acompanho há um tempo se intensificou com o isolamento social, claramente; já que agora essa é a principal maneira de acessar arte e cultura no momento”, relata Lee.


A pesquisa aferiu ainda que o consumo de cultura a partir das plataformas digitais é maior entre os que foram a alguma atividade artística nos 12 meses que antecederam o isolamento. Do estrato que assistiu a show de forma presencial, 87% declararam que acompanharam apresentações musicais pela internet, enquanto 36% dos que frequentaram museus e exposições de artes visuais migraram para as mostras e visitas virtuais durante o período de isolamento.


Os dados apurados pelo Itaú Cultural e Datafolha mostram que a intenção de continuar fazendo essas atividades culturais no cenário pós-pandemia cai entre todos os grupos socais, mas é maior entre os fãs de shows, atingindo 60%. Já os brasileiros que fizeram alguma atividade cultural durante a pandemia dizem que houve impactos positivos da prática para a saúde mental e a convivência social, principalmente entre pessoas de 45 e 65 anos - segmento no qual o índice atingiu 66%.


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