Marcus Vinícius Beck
‘Vermelho Sol’ impressiona ao mostrar repressão que antecedeu ditadura na Argentina
Crítica/cinema
Com fotografia do brasileiro Pedro Sotero, longa conta com várias menções honrosas em festivais de cinema

Foto: Reprodução
Ambientado na Argentina em meados da década de 1970, o longa-metragem “Vermelho Sol”, que chegou aos cinemas do Banana Shopping e Cine Cultura na última quinta-feira (8), tem como pano de fundo o contexto pré-ditadura militar e a as articulações que derrubaram o peronismo no país vizinho. O fio da história é a morte de um desaparecido político.
Dirigido pelo argentino Benjamin Naishtat e estrelado pelo conterrâneo Darío Grandinetti, o filme conta com várias menções honrosas em festivais de cinema pelo mundo, e deve continuar assim. E não é para menos. A fotografia, de autoria do brasileiro Pedro Sotero – o mesmo de “O Som ao Redor”, “Aquarius” e “Bacurau”, todos do pernambucano Kleber Mendonça Filho -, é bem pensada, com seus contra plongées e super-closes que mexem com a percepção do público.
É verdade que o filme começa de uma maneira estranha, estranhíssima, aparentemente sem muito nexo, ao estilo estético da Nouvelle Vague, mas ele tem seus momentos que fogem à regra.
O longa é estático - e é da porta de uma casa, por onde várias pessoas saem segurando móveis e utensílios domésticos - que a obra começa. Conseguimos, contudo, compreender o que os símbolos semióticos querem dizer cerca de uma hora depois, e ainda assim a dúvida paira no ar. Coisas estranhas (como normalmente é numa ditadura) acontecem.
Na sequência, presenciamos um diálogo surreal, sem muito sentido, como são vários outros em diversos momentos. Interligados por histórias que em um primeiro passam despercebidas e não possuem relação lógica entre si, o diretor vai amarrando tudo aos poucos, como se fosse um romance de James Joyce e Marcel Proust narrado em fluxo de consciência, mas sem a genialidade dos dois responsáveis por transformar a arte de contar uma história.
Os personagens, vários deles esquisitos até mandar parar, entram e saem do enredo como se fossem descartáveis à evolução da narrativa. Tudo parece ter um desfecho normal quando um investigador renomado em função do seu programa de televisão dá o ar de sua graça para resolver a morte do desaparecido político, mas ledo engano: o sumiço do rapaz é gloriosamente ignorado na hora do desfecho.
“Vermelho Sol” apresenta uma maneira diferente de falar sobre a ditadura da Argentina sem propriamente citar o golpe de 1976, e esse é o ponto mais interessante de toda a obra. É a metáfora e a metonímia em prol do cinema e da arte. Nada melhor do que o audiovisual em tempos onde a burrice virou virtude.
Foto: Reprodução

Ficha Técnica
‘Vermelho Sol’
Gênero: Cult
Diretor: Benjamin Naishtat
Produção: Argentina/ Brasil